Aproveitando o contexto de renovação das promessas sacerdotais dos padres que trabalham na diocese, o bispo do Algarve pediu esta manhã aos cristãos algarvios que renovem também a “confiança” que neles depositam, “apoiados e agradecidos pela sua entrega, sem reservas a Cristo, ao evangelho e ao povo que lhes está confiado”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Que o barulho da «árvore» que cai nos empenhe em reconhecer as razões da sua queda, em reconhecer e a assumir os estragos que provoca em «árvores» sãs para evitar que a outras aconteça o mesmo. Todavia, não deixemos que essa queda e esse barulho nos impeçam de apreciar e desfrutar o silêncio de cada «árvore» que cresce nessa imensa «floresta», constituída por quantos, apesar das inevitáveis fragilidades humanas, se mantém firmes e fiéis ao dom recebido”, metaforizou D. Manuel Quintas na Missa Crismal a que presidiu na Sé de Faro, concelebrada também pelo bispo emérito de São Tomé e Príncipe, D. Manuel António dos Santos, pertence à congregação dos Missionários do Coração de Maria (claretianos), pelo clero a trabalhar no Algarve e ainda por sacerdotes de fora que vieram ajudar nas celebrações desta Semana Santa.

Considerando que se vivem “tempos conturbados” na Igreja em Portugal, o bispo do Algarve exortou ainda os cristãos algarvios a não esmorecerem na fé, “fundamento” da “confiança em Deus” e da “esperança em Cristo ressuscitado”. “Seria iludir-nos a nós próprios se nos remetêssemos a ignorar esta situação”, afirmou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Referindo-se à recente assembleia diocesana do clero que convocou para formação sobre o tema dos abusos sexuais cometidos contra menores e adultos vulneráveis possibilitou “reforçar ainda mais” a “determinação” do clero diocesano em assumir o que referiu na sua mensagem quaresmal e que hoje reforçou com o “pedido de perdão a todas as vítimas, inclusive àquelas que não tiveram a coragem de o manifestar”. “Sentimo-nos obrigados a assumir as consequências destes atos inqualificáveis, cometidos por quem devia ser «defensor» e não «abusador» dos mais frágeis, conscientes de que tudo o que se possa fazer apenas atenuará o sofrimento e a humilhação das vítimas”, sustentou, citando o que escreveu na mensagem.

“Por outro lado, sentimo-nos obrigados a promover ações de formação com todos os agentes de pastoral sobre este assunto com o objetivo de criar uma cultura do cuidado e da transparência em todas as instituições diocesanas e ainda sentimo-nos obrigados a incutir nas comunidades cristãs, e através delas na sociedade em geral, uma nova sensibilidade de modo a prevenir e a denunciar situações que possam ocorrer na proteção e defesa das crianças, adolescentes e adultos vulneráveis”, prosseguiu na citação, realçando a “importância fundamental” do “empenho de cada um”, seja do clero diocesano, seja dos restantes membros da Igreja, para “atingir os objetivos” a que a Igreja algarvia se propõe. “Este propósito só será efetivo e exequível com o envolvimento das nossas comunidades eclesiais e, sobretudo, de todos os nossos agentes pastorais”, acrescentou ainda.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

D. Manuel Quintas explicou que “a renovação das promessas sacerdotais neste dia quer significar, antes de mais, a reafirmação da fidelidade ao dom do espírito recebido pela imposição das mãos no dia da ordenação presbiteral, traduzido na entrega quotidiana e sem reservas a Cristo e ao povo” que é confiado aos sacerdotes. “Renovar as promessas sacerdotais quer significar dispor-se a seguir e a assumir, sem interrupções, a condição de Cristo-servo até ao dom total de si mesmo”, completou, acrescentando que “Cristo quis servir-se de homens frágeis, limitados, pecadores para estar presente no meio da humanidade e agir em seu favor”. “Não nos cansemos de agradecer ao Senhor por tão grande dom colocado em «vasos de argila», através do qual Deus incessantemente opera no mundo as maravilhas do seu amor”, pediu.

O bispo do Algarve lembrou que os sacerdotes não são “simples detentores de um ofício como aqueles que na sociedade contribuem para a realização das mais diversas funções na comunidade humana”. “O sacerdote, em virtude do dom que lhe foi conferido, realiza algo que nenhum ser humano por si mesmo pode realizar: age em nome da pessoa de Cristo”, diferenciou, acrescentando que “só Cristo é verdadeiro sacerdote”. “Nós somos seus ministros e somo-lo, não em virtude de uma conquista pessoal, mas de um dom que nos é dado em favor do seu povo”, completou.

D. Manuel Quintas pediu ainda aos cristãos que rezem e estimem os sacerdotes e os diáconos da Igreja algarvia e rezem também por ele. “Caros padres, estimai o povo de Deus que vos está confiado e não lhe falteis com os dons que o Senhor vos fez depositários e sois chamados a distribuir com generosidade e magnanimidade”, acrescentou.

O bispo diocesano destacou ainda os membros do clero algarvio que celebram ou celebraram aniversários de sacerdócio significativos, os 54 catecúmenos adultos, eleitos para receberem os sacramentos da iniciação cristã na Vigília Pascal do próximo sábado.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

D. Manuel Quintas manifestou “confiança e estímulo no testemunho de tantos leigos, confrontados na sua fé, no trabalho, na rua e até mesmo em família que não deixam de dar a cara pela Igreja que continuam a amar e a servir ainda com maior generosidade” e “confiança e estímulo” proveniente da próxima ordenação diaconal, bem como do “dinamismo jovem” que disse caraterizar a Igreja algarvia no caminho da JMJ 2023 e do “dinamismo do processo sinodal” que iniciado e que “a todos nos corresponsabiliza na realização da missão que Cristo confiou à Igreja”.

O bispo do Algarve congratulou-se ainda pelo fim dos trabalhos de restauro daquela catedral, “graças ao empenho e determinação do Cabido e ao contributo de tanta gente que visita” aquele templo. “Estamos gratos ao Cabido e reconhecidos e é, certamente, com muita alegria que hoje vemos concluídas as obras”, acrescentou sobre a recuperação iniciada em junho do ano passado.

Para além das promessas sacerdotais, a Eucaristia ficou ainda marcada pela bênção dos óleos dos catecúmenos e enfermos e pela consagração do óleo do Crisma, que serão usados durante o próximo ano na administração dos sacramentos do Batismo, Crisma, Ordem ou Santa Unção, ou na dedicação dos altares ou de novas igrejas.