Em 2003 um grupo de jovens universitários da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa decidiu aproveitar uma das semanas da anual interrupção lectiva entre semestres para servir a comunidade de Coruche, dando testemunho de Fé e de Caridade. O projecto foi crescendo e ganhando contornos, sempre com o lema “inspirar gerações que vivam a Fé católica em missão”. Passados dezassete anos, o projecto conhecido como Missão País contagiou a Universidade do Algarve, por força de alguns alunos da instituição que já haviam feito a experiência em anos anteriores, e agora conseguiam reunir as condições necessárias para com uma boa equipa levar por diante o intento. Assim se cumpriu o desejo e de 2 a 9 de Fevereiro meia centena de universitários, acompanhados por um incansável amigo e mestre espiritual, o Pe. Nuno Tovar de Lemos, sj, iniciaram um trabalho que se desenrolará por mais dois anos.

Procurando contactar toda a população, dos mais novos aos mais velhos, distribuíram-se missionários pelos jardins de infância, escolas, lares e centros-de-dia, da vila de Alcoutim e da aldeia de Martim Longo, missão que foi acompanhada também por um porta-a-porta não só nestas duas localidades, como também em Vaqueiros, Pereiro, Giões, e ainda por vários montes do concelho. Outros grupos de missionários ajudaram na limpeza e reabilitação de algumas habitações de famílias desfavorecidas, da mesma forma que alguns também se dedicaram à preparação de uma peça de teatro para a diversão de quem tão bem os recebeu. De maneira nenhuma pode a Missão País ser comparada a qualquer tipo de voluntariado, uma vez que tem um propósito mais ambicioso. Esta missão é externa, interna e pessoal. Externa pelo trabalho que desenvolve com os locais, interna pelo espírito de grupo de matriz católica que se pretende formar, e pessoal pelo tempo de crescimento interior que durante estes dias deve ocorrer. Cumpre este projecto criado pelos universitários e para os universitários as directrizes actuais da Igreja Católica, que meses após o sínodo dos jovens, reflectiu mais sobre os problemas da juventude – problemas esses que não têm origem, sobretudo, só nos problemas do mundo actual, mas sim nos problemas inerentes ao tempo de mudança, e imediatamente de indecisão, de perturbação espiritual e de fragilidade emocional, que significam o tempo de juventude. A componente da Missão País que leva os missionários ao exercício das relações com os outros, obrigando-os a sair da sua zona de conforto, assume preponderância num tempo que cada vez mais desvaloriza as relações e o contacto interpessoal. O exemplo dos jovens mais desligados das actividades religiosas que decidiram incorporar esta cruzada pelo bom princípio da mesma, deve ser provocação para todos os jovens praticantes, que por comodismo e falta de coragem, se escusaram a fazê-lo.

Grupo de chefes da missão em Alcoutim. Da esquerda para a direita, em cima: Xavier Mestre, João Espanhol, Tomás Pinto Bravo e Rodrigo Soares; em baixo: Rita Marques, Catarina Gonçalves, Maria Mira e Raquel Travia.

É de reflectir também sobre os eventuais desafios que este projecto pode vir a ter. As sessenta Missões que em 2020 servem sessenta vilas ou aldeias de Portugal servem-se do apoio que lhes é dado pelas paróquias, instituições que sofrerão uma drástica mudança dentro de uma década, quando desaparecerem as fiéis septuagenárias e octogenárias que sustentam as suas assembleias. A dificuldade em passar um testemunho católico será cada vez maior, numa Igreja que cada vez é menos bem vista e está mais desacreditada. Hoje a evangelização não pode ser como foi no tempo das pregações de Santo António ou de São Francisco Xavier, a multidões, mas tem de ser coração a coração. A Missão País funciona, por isso, hoje, como uma gota de água fresca e cristalina que faz a diferença, que nunca terá um papel revolucionador, mas sim, que inspirará uma suave transformação, pelas terras onde passar.

Aluno da Licenciatura em História na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa