
“Estamos muito felizes por estar em Monchique. Monchique teve os incêndios no verão e, portanto, há pessoas que estão um bocadinho em baixo e a sofrer um bocadinho com isso. Portanto, é uma ótima oportunidade estarmos cá para trazermos de volta essa alegria que no verão possa ter desaparecido um bocado. Obrigado. Vamos ter uma grande missão esta semana”.

Foi assim que o chefe geral da ‘Missão País’ naquela vila do Algarve deu as boas-vindas, no final da eucaristia do passado domingo, aos 63 jovens que estão a participar naquela iniciativa que se prolongará até ao próximo dia 17.

Miguel Louza Viana assume juntamente com Inês Almeida a chefia geral da missão em Monchique, promovida pelo Instituto Superior Técnico (IST) de Lisboa. Ambos já tinham participado na missão de Aljezur que terminou o ano passado, tal como o padre Lorenzo Lütjens, sacerdote do Movimento de Schoenstatt, que está a acompanhar o grupo.

A ‘Missão País’ é um projeto católico criado em 2003 a partir daquele movimento (embora hoje seja independente) que organiza e desenvolve missões universitárias a partir de várias faculdades de Portugal. São semanas de apostolado e de ação social que decorrem durante três anos consecutivos no período de interrupção de aulas entre o primeiro e o segundo semestres, divididas em três dimensões complementares: externa, interna e pessoal. O lema da ‘Missão País’ deste ano é “E se conhecesses o dom de Deus?” (Jo 4).
Este ano são 55 missões a decorrer no país durante este mês, três das quais no Algarve. Para além do concelho de Monchique, o IST está a desenvolver outra em Sagres, que abrange o concelho de Vila do Bispo e que também teve início no domingo, e, em Castro Marim, a Faculdade de Arquitetura de Lisboa concluirá a missão iniciada naquele concelho em 2017 e que foi retomada no passado sábado.
Nas missões do IST em Monchique e Sagres há dois jovens do Algarve a participar, ambos estudantes na Universidade do Algarve e participantes na Jornada Mundial da Juventude no Panamá: a Catarina Gonçalves (Monchique) e o Rodrigo Soares (Sagres).

Na missão de Monchique, dos 63 participantes cerca de 80% são estudantes do IST e os restantes de várias outras universidades para além da do Algarve. A grande maioria do grupo está também a fazer aquela experiência pela primeira vez, sendo que os restantes 10 ou 12 são repetentes, alguns três, quatro ou cinco vezes. Entre estes, para além dos chefes gerais estão os oito chefes de serviço.
Em declarações ao Folha do Domingo, Miguel Louza Viana confirmou que o incêndio de Monchique influenciou a escolha do local. “Conversando com os chefes dos outros anos do [Instituto Superior] Técnico, eles disseram que era bom continuar no Algarve porque não há cá assim tantas missões. Mas quando pensei para onde é que haveria de ir, decidi por Monchique porque um padre amigo meu, que está em Portimão, me disse para ir vir para cá ainda antes do incêndio. Os incêndios ainda reforçaram a nossa vontade de vir”, contou.
Aquele responsável disse ainda o que espera desta semana. “O nosso objetivo principal é que tanto os missionários como as pessoas que vivem em Monchique no final desta semana tenham tido uma experiência de Deus. E não somos necessariamente nós, os missionários, que vimos trazer Deus cá. Mas que, com as atividades que façamos com a integração de toda a gente, consigamos todos reconhecer Deus”, adiantou.
Louza Viana defendeu que a ‘Missão País’ é uma iniciativa que permite aos jovens constatarem que têm lugar na Igreja. “Acho que é uma boa forma de nós, jovens, percebermos que fazemos parte da Igreja em Portugal. E aquilo que o papa Francisco disse [na Jornada Mundial da Juventude no Panamá] de sermos não o futuro da Igreja, mas o hoje da Igreja em Portugal, acho que nos dá motivação e força também para mostrarmos ao mundo e à sociedade – que se calhar não compreende muito bem as ideias da Igreja – que não é uma coisa velha, desatualizada, mas uma coisa que faz muito sentido agora e que pode mudar a vida das pessoas para melhor”, observou.
E aquele jovem constata isso mesmo ao fim de 16 anos de ‘Missão País’. “Começou em 2003 com 20 pessoas em Coruche e agora já são mais de 3.000 em 54 sítios diferentes. Acho que temos mudado muitas vidas, não só nos sítios para onde vamos, mas principalmente as dos missionários”, considera, reconhecendo que muitos “vêm à descoberta” e que continua a haver “muita procura”. “Houve cerca de 5.000 candidaturas este ano e só pouco mais de 3.000 jovens é que podem fazer porque ainda não há suficientes missões”, conta, acrescentando que “todos os anos abrem cerca de duas a três missões” novas.

Ao longo da semana os jovens ficarão alojados no Centro Paroquial de Monchique e serão divididos em grupos. Três irão para as três escolas, um grupo para o lar, outro fará o contacto porta-a-porta, levando aos habitantes a Mãe Peregrina, uma imagem de Nossa Senhora de Schoenstatt, um dos símbolos que carateriza a ‘Missão País’, um outro grupo ficará encarregue do teatro e um último irá fazer alguns arranjos numa das salas do centro paroquial. Para além do teatro no sábado à tarde, outro dos pontos altos da semana será a vigília no sábado à noite.

No domingo, na missa na igreja matriz, o padre Lorenzo Lütjens pediu-lhes que deixassem “soprar o Espírito Santo”. “O mais importante é estar com os ouvidos atentos”, acrescentou, lembrando que “será uma semana de serviço e entrega”, “de encontro e de fraternidade”. “E também para nos encontrarmos com o Senhor que vem ao nosso encontro”, aditou.

“Com tudo o que trazemos, cada um com as suas perguntas, inquietações, ambições, medos, tudo isso queremos agora pôr aqui sobre o altar e pedir ao Senhor que prepare o nosso coração e nos ajude a viver com intensidade estes dias. Afastámo-nos daquilo que é o nosso dia-a-dia, deixámos Lisboa, deixámos as correrias dos nossos estudos. Estamos num tempo de férias e escolhemos afastarmo-nos do nosso quotidiano para vir até aqui. Alguns provavelmente chegaram convictos de que queriam fazer missões, outros que vieram porque foram convidados por amigos, outros que não fazem ideia de nada e que vierem sem saber porquê”, desenvolveu.

O sacerdote exortou, por isso, cada um “a confiar e a acreditar”. “Jesus provavelmente vai pedir-me algumas coisas durante esta semana que talvez não façam sentido nenhum porque a minha fé ainda não acredita tanto. Mas somos convidados a confiar e a acreditar, a deixarmo-nos também levar por aquilo que Jesus nos pode estar a querer dizer durante estes dias. Acreditar que Jesus me pode estar a falar através dos chefes ou também através de algum dos nossos companheiros missionários”, afirmou.

“Ninguém de nós está aqui porque merece ou porque somos melhores do que outros. Estamos aqui por pura misericórdia de Deus, por pura graça. Cada um chegou por caminhos diferentes. Acreditar que Deus nos chamou a cada um onde estamos, com a nossa fé maior ou mais pequena, com as nossas dúvidas, incertezas ou com a nossa consciência de que somos pecadores. É a graça de Jesus que nos chama, é a graça de Jesus que nos transforma”, concluiu.
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