
“Não podemos deixar de sentir como nosso o grito de quem está tão próximo da cruz de Jesus”, afirmou o bispo do Algarve na celebração do Domingo de Ramos, referindo-se a situações de sofrimento do mundo atual.
Na celebração, que teve início junto à igreja da Misericórdia de Faro com a bênção dos ramos, à qual se seguiu a procissão até à Sé, prosseguindo ali a eucaristia, D. Manuel Quintas centrou-se já na catedral no diálogo de Jesus com os “malfeitores”, narrado pelo evangelista Lucas no detalhado relato da paixão de Jesus.

“Lucas não nos quer espectadores, alguém que está de fora a observar o que se passa, mas quer-nos por dentro, a viver e a reviver a paixão de Jesus”, começou por explicar o prelado, realçando que a “dramaticidade” que o evangelista apresenta naquele diálogo de Cristo com os dois crucificados que o ladeavam leva também a “olhar para o mundo de hoje” com as suas “tragédias, mas também com as suas alegrias” e “com o progresso o que se verifica a tantos níveis” com esse mesmo espírito de quem está a viver o que se passa.

“Lucas mete-nos dentro do drama da cruz, através das palavras de um dos malfeitores crucificados com Jesus que gritava: «Não és tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também». Será que, por vezes, nós não agimos ou reagimos desta maneira?”, questionou D. Manuel Quintas, considerando que “o grito dele revela desilusão, revolta, falta de esperança, desespero”. “Será que alguma vez não deixámos que em nós crescessem também iguais sentimentos?”, questionou, lembrando o desejo de salvação para “a humanidade que não encontra paz”, para “os povos, os homens e as mulheres, sobretudo aquelas que sofrem violência a tantos níveis” e para “as crianças” que vivem as “consequências” da “guerra feroz”, bem como para os “problemas” e os “sofrimentos” de cada um.

“Relativamente àquilo que diz respeito ao sofrimento, habituámo-nos a ver e a seguir, quase em direto nos meios de comunicação social, cenas provocadas pelo terrorismo, guerra, situações que provocam toda a espécie de dor, sofrimento, desespero, barcos à deriva carregados de refugiados que ninguém quer”, lamentou D. Manuel Quintas, advertindo para o perigo subjacente a esta realidade. “Podemos correr o risco de permanecermos insensíveis e indiferentes”, concretizou, lembrando que o papa Francisco tem vindo a alertar para a “globalização da indiferença”.

“Parece que corremos o risco de nos tornar insensíveis em relação ao mal do mundo de hoje, a situações dramáticas que tanta gente atravessa, tragédias individuais ou coletivas, mesmo se divulgadas até à exaustão, se tornam estranhas e facilmente esquecidas como se nada tivesse a ver connosco”, prosseguiu.

O bispo do Algarve criticou os meios de comunicação social que insistem na cobertura noticiosa exaustiva de determinados acontecimentos, deixando, pouco depois, de falar deles, dando a impressão “que já ficou o problema resolvido”. Como exemplo, apresentou o caso da destruição há um mês em Moçambique pelo ciclone Idai. “Não podemos, de maneira nenhuma, pactuar ou deixar-nos levar por esta maneira de ver o mundo de hoje. O mal só é mal enquanto é notícia e depois? A tragédia, a destruição só é notícia enquanto é notícia e depois?”, acrescentou.

Na primeira parte da celebração que deu início à Semana Santa, o bispo do Algarve realçou ter sido para realizar o seu “mistério pascal”, ou seja, a sua “paixão, morte e ressurreição”, que Jesus Cristo em entrou na cidade de Jerusalém. “Por isso, recordando com fé e devoção esta entrada triunfal na cidade santa, acompanharemos o Senhor, de modo que, participando agora na sua cruz, mereçamos um dia ter parte na sua ressurreição”, afirmou D. Manuel Quintas, que convidou os participantes na procissão à “atitude de fé” e de “louvor” de acolherem na sua própria vida “Jesus como o Rei e Messias, como Aquele que vem para servir”.

A Semana Santa terá como ponto alto a celebração da Vigília Pascal no próximo sábado, 20 de abril, na passagem de Sábado Santo para Domingo da Ressurreição. Este acontecimento, que sustenta a sua fé, trata-se da celebração mais importante para os cristãos.

A imersão no «coração» das celebrações pascais dá-se Quinta-feira Santa (18 de abril) com o início do Tríduo Pascal, na Missa vespertina da Ceia do Senhor.

A Diocese do Algarve, através do seu Setor da Pastoral do Turismo, voltou a disponibilizar os horários das celebrações na totalidade das paróquias algarvias, informação que pode também ser acedida a partir do sítio da Pastoral do Turismo da diocese algarvia na internet.
