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Guilherme d’Oliveira Martins com D. Manuel Quintas
© Samuel Mendonça

Guilherme de Oliveira Martins, na conferência que proferiu no Simpósio Vaticano II, defendeu que a doutrina social da Igreja, após o Concílio, ganhou uma nova dimensão.

Segundo o conferencista, os próprios discursos políticos atualmente incluem os princípios presentes nessa doutrina, já que ela encerra «uma proposta atual e transversal, destinada a todos os homens de boa vontade, que procura envolver cada um e onde direitos e deveres são iguais».

Essa proposta assenta em valores como a defesa do bem comum, a subsidiariedade («compreensão de que o que pode ser resolvido por cada um deve sê-lo, mas há coisas que não há possibilidade de resolver sem a interferência de outros»), a recusa do imediatismo. A dignidade da pessoa humana é um desses valores, que para os cristãos deve ter uma particular importância. «Criados à semelhança de Deus temos de colocar este princípio como o fundamental no estabelecimento de relações com a “Polis” e o mundo», defendeu Oliveira Martins.

Para o Presidente do Tribunal de Contas estes princípios são contrários à crise que vivemos, que revela uma lógica de organização social e económica assente na ideia de que «tudo tem um preço», quando, segundo o que propõe a Igreja no Concílio Vaticano II é que «a economia deve estar ao serviço de todos, devendo ter como principio “o que tem mais valor é o que não tem preço”». Recusar «a lógica do lucro fácil, das meras aparências» está expresso nos documentos que saíram da reunião magna da cristandade.

«É preciso redescobrir o significado da palavra caridade», destacou o comunicador, acrescentando que «caridade é a compreensão do cuidado com o outro, a partir da dignidade humana», é «a ligação», para os cristãos, «ao caminho, à verdade e à vida» propostos por Jesus Cristo e reforçou: «Temos de compreender que a caridade deve ser garantida e exercida na verdade. Bento XVI joga com grande maestria com esta expressão: a caridade na verdade e a verdade na caridade».

Há que pôr em prática «o princípio da sobriedade», ou seja, da «adequação entre recursos e a finalidade dos objetivos a que nos propomos», salientou, ainda, Oliveira Martins, reforçando que, enquanto católicos, «não podemos ficar indiferentes» e devemos procurar contrariar o agravamento das desigualdades e injustiças», dando «sinais de esperança». E concluiu: «Nunca voltaremos ao tempo anterior à crise, mas temos é de mudar de vida».