As Igrejas cristãs do Algarve voltaram a reunir-se ontem, no primeiro dia da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que se prolonga até 25 de janeiro, para rezar pelo fim das divisões entre elas, mas a celebração ficou também marcada pelo apelo ao apoio e acolhimento aos refugiados.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O tema tinha sido proposto pelas Igrejas cristãs das ilhas de Malta e Gozo que este ano prepararam os subsídios para as celebrações, reflexão e oração do oitavário baseados no relato bíblico do naufrágio de São Paulo.

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Na celebração que decorreu na igreja de São Francisco, em Faro, o bispo do Algarve lembrou que o grupo de 270 pessoas, no qual ia inserido o apóstolo, foi acolhido na ilha de Malta com uma “amabilidade fora do comum”. “Ao pensar neste naufrágio no Mar Mediterrâneo penso que nenhum de nós deixa de pensar em tantos naufrágios dos nossos dias”, afirmou D. Manuel Quintas, lembrando que o papa Francisco tem alertado que o Mediterrâneo se tem tornado “um verdadeiro cemitério humano”.

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“São milhares aqueles que já faleceram à procura de uma vida melhor, com maior dignidade para si e para as suas famílias. E também nos sentimos consternados ao verificar que não há esta amabilidade em todos os países. Antes pelo contrário, há rejeição, há indiferença”, lamentou o prelado, sustentando existir “indiferença naqueles que exploram estas pessoas e que vendem mais bilhetes que aqueles que os barcos podem levar”, “naqueles que os acolhem que não deixam que possam atracar nos seus portos” e “naqueles que os escorraçam”, deixando-os “confinados a campos de acolhimento”.

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“Este texto convida-nos também a ver, do ponto de vista humano, como é que nós hoje vivemos esta hospitalidade, amabilidade, com todos aqueles que são frágeis na sua vida, que procuram uma vida melhor, que reclamam e que sentem necessidade do nosso apoio, acolhimento”, complementou na celebração organizada pelo Secretariado para o Diálogo Ecuménico e Inter-religioso da Diocese do Algarve em colaboração com o Movimento dos Focolares.

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O bispo católico considerou ainda que, para além da amabilidade, outros valores necessários como “a hospitalidade, a reconciliação, a iluminação, a confiança, a fortaleza e a benevolência”, apresentados na celebração associados a remos como símbolos dos migrantes naufragados, são também o “primeiro passo” para que a oração pela unidade seja “eficaz”. “São valores fundamentais e essenciais para que nos sintamos todos, não apenas reunidos, mas unidos na oração pela nossa unidade”, referiu.

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“Estes sinais que somos chamados a realizar fazem com que a oração se torne mais eficaz e mais autêntica porque é traduzida em gestos, não fica nas palavras”, acrescentou sobre aquelas “atitudes humanas” que lembrou serem “também cristãs”. “Sem isso, a nossa oração não encarna na nossa vida, não passa de cumprirmos mais uma obrigação, um rito, mas que não encontra resposta na nossa vida”, advertiu.

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No início da oração, lembrando que o “fundamento” da mesma advém de os presentes terem “a mesma fé, o mesmo batismo”, D. Manuel Quintas tinha introduzido que a intenção daquela iniciativa era “rezar pela unidade entre os cristãos e pela reconciliação no mundo”. “As divisões entre nós existem desde há muitos séculos, o que causa muita dor e é contrário à vontade de Deus. Acreditamos no poder da oração e, juntamente com os cristãos do mundo inteiro, apresentamos em comum as nossas preces enquanto procuramos superar a separação”, afirmou.

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Durante a celebração, os participantes pediram perdão “por erros passados, desconfianças e más condutas entre cristãos de diferentes Igrejas e tradições”, por terem “causado dor, dificuldades e angústia aos outros”, por se fecharem e permanecerem “indiferentes”, em vez de mostrarem “hospitalidade a todos, especialmente aos estranhos e refugiados”. “Deus de bondade, curai as memórias dolorosas do passado, que feriram as nossas Igrejas e continuam a manter-nos separados”, “transformai as nossas divisões em harmonia e as nossas desconfianças em mútua aceitação” e “desmontai as nossas barreiras, visíveis e invisíveis, que nos impedem de acolher nossas irmãs e irmãos que estão em perigo ou necessitam de ajuda”, pediu-se ainda.

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A Igreja Católica foi ainda representada pelo cónego Joaquim Nunes (diretor do Secretariado para o Diálogo Ecuménico e Inter-religioso da Diocese do Algarve) e pelos padres José dos Santos Ferreira e José do Casal Martins e pelo diácono Rogério Egídio. O pastor Stephan Lorenz representou a Igreja Luterana alemã, o padre Reid Hamilton a Igreja Anglicana, o padre Ioan Rîşnoveanu a Igreja Ortodoxa ligada ao Patriarcado de Bucareste e Paula Rita a Igreja Evangélica. A animação ficou a cargo do grupo de Aljezur ligado à espiritualidade de Taizé que veio acompanhado do padre católico António Moitinho de Almeida.

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O oitavário de oração pela unidade dos cristãos este ano tem como tema “Demonstraram-nos uma benevolência fora do comum” (Act. 27,18-28,10) e os materiais foram uma vez mais editados em conjunto pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos (Santa Sé) e pela Comissão Fé e Constituição (Conselho Mundial de Igrejas).

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