– essa coisa rara e tão necessária!

Às vezes acho que não sou merecedora de tantas manifestações de carinho e de consideração, tão expressivas e generosas. Se o meu espírito prático de todos os dias não me faz agarrar à ideia de que “tudo o que se faz tem retorno, recebemos o que damos, etc, etc”, porque não paro muito para pensar nisso, porque sou e pronto e lá vou na correria da vida; também não posso deixar de constatar que devo fazer alguma coisa bem, pois o saldo das manifestações que recebo, é sempre superior à noção das minhas limitações, que são muitas. E aqui entra a primeira constatação efetiva de uma das minhas grandes limitações: tenho que exercitar a paciência. O cuidado com o outro é nele, a doçura. Tenho que exercitar mais, verificando e sabendo que isso é uma ótima boleia para ser melhor pessoa, limando a exasperação, a impaciência, a pressa, a rispidez que o cansaço às vezes traz. Olho à minha volta e, por circunstâncias várias da minha vida pessoal, por estes dias, observo in loco, situações de muito sofrimento, limitação, fadiga, debilidade e fragilidades várias que nos expõem perante a doença de outros, perante a velhice e a perda de capacidades. E vejo esperas. Esperas pelas melhoras, esperas pelos diagnósticos, esperas pela recuperação de capacidades que ontem se tinha, esperas pelas ajudas, pelas prestações do outro que nos aliviam o cansaço, espera pela generosidade e simpatia às quais se continua sensível, apesar da doença, espera pela leveza que se tinha quando se tinha saúde, espera pela normalidade que a vida tinha e de repente deixou de ter. Observo como se espera. Como se aguarda e resigna a esperar. E sinto que essa espera é como que uma bolsa de tempo onde cabem todas as expectativas do doente e da pessoa fragilizada, como se fosse um desejo doce de coisas boas que ainda vão chegar. Será uma espera com esperança e uma esperança feita de espera. E este trocadilho, devolve-me a constatação fria e implacável de que tenho que exercitar, também eu, esta espera, esta paciência, saboreando cada dia como ele é, sem desejar que seja como já foi, seria, ou teria sido. Esta capacidade de aceitar cada dia como um kit de coisas que existem como são e não como poderiam ser e nesta aceitação, julgo que poderá aparecer a serenidade, como a recompensa aliviada da espera, aceitando o que é, o que se tem, o que se vive no presente e tentando vivê-lo o melhor possível. Sim, tenho de ser mais paciente. E aprender, com estes doentes de camas de hospital que a espera, às vezes, é a única coisa que podemos fazer, tentando aliviar, enquanto se espera, o coração apressado.

É que, já dizia Shakespeare, “a paciência é a mais nobre e gentil das virtudes”. Pois…