O padre Carlos de Aquino alertou no passado sábado, na sua conferência sobre “Catequese e Liturgia”, proferida no Dia Diocesano do Catequista em Tavira, para o “grave e imenso desafio” de “contribuir para que não prevaleça ainda o divórcio entre catequese e liturgia”, sublinhando que aqueles dois “dinamismos” são “duas via complementares”.
“A catequese é como o cabouco, o alicerce e a liturgia é cume e fonte”, metaforizou o sacerdote no encontro que teve lugar no Parque de Feiras e Exposições com 234 catequistas de todo o Algarve, advertindo que “liturgia e culto sem catequese é frieza, paralisação da fé, ritualismo vazio de conteúdo” e que “catequese e ensino sem liturgia conduzem o Cristianismo a uma abstração, uma ideia desencarnada, uma doutrina encerrada em conceitos”.
Neste sentido, alertou para o perigo de “celebrações mal vividas”, lembrando que “uma catequese dinâmica, evangelizadora deve encaminhar, pois, os cristãos a uma celebração da fé sempre mais consciente e participada”. “A catequese prepara muito mal para se celebrar”, lamentou, considerando que nos catecismos “pouco se diz e se ensina” para “ajudar as crianças a entenderem melhor os sinais e os ritos litúrgicos”. “Até os catequistas não sabem muita coisa sobre o valor dos sinais e dos símbolos, por isso os vivemos tão mal na nossa celebração cristã”, criticou.
Por outro lado, o conferencista censurou “propostas catequéticas que nada têm a ver o ano litúrgico”, lamentando que na celebração das “festas maiores da fé” – Natal e Páscoa –catequistas e crianças estejam de “férias”. “É um problema gravíssimo. Não há receitas para a resolução deste problema, mas é um desafio às nossas vidas”, afirmou.
O padre Carlos de Aquino desafiou assim à “valorização das fontes litúrgicas”, lembrando que a Palavra de Deus (Bíblia) é uma das que precisa desse esforço.
O sacerdote disse que “a catequese, além de favorecer o conhecimento do significado da liturgia e dos sacramentos, deve também educar os discípulos de Jesus para a oração, para a gratidão, para a penitência, para as preces confiantes, para o sentido comunitário, para a perceção justa do significado dos símbolos”, considerando que “cada expressão destas ainda está muito deficiente”.
Lembrando os catequistas para a responsabilidade do serviço que assumem em nome da Igreja porque “ninguém se faz catequista a si mesmo”, o orador aludiu à necessidade de “formar para a liturgia”. “É preciso educarmos para melhor celebramos o momento de encontro com Jesus”, afirmou, ressalvando para a “exigência” do testemunho. “Arrastamos mais quando somos testemunhas, do que quando somo pregadores”, sustentou.
Sobre a urgência da formação para a celebração deixou quatro desafios que considerou “os mais significativos” em torno das dimensões do “mistério”, “Igreja”, “ritos” e “símbolos”. Considerando haver “falta de espiritualidade” nestas áreas, lamentou a linguagem dos catecismos. “Nas propostas celebrativas que apresentam, pecam ou por uma linguagem muito teológica, ou por uma linguagem muito infantil que empobrece o próprio conteúdo daquilo que se quer exprimir e celebrar”, considerou.
O orador pediu ainda “que se cuide para que o horário das celebrações com crianças seja adaptado a elas e aos horários delas” e aludiu ao seu acolhimento e integração na celebração.
O sacerdote alertou também para o risco da criatividade. “Não somos nós que fazemos a liturgia. Também a recebemos da Igreja e não nos cabe a nós inventar por suposta criatividade”, advertiu, criticando igualmente a improvisação que considerou o “cancro da liturgia”.
Sobre a importância de formar na celebração alertou para a deficiência daquilo que se entende como participação. “A participação é vida interior e harmonia, unidade na vida, o que fazemos, o que levamos e, depois, aquilo que trazemos do próprio encontro para a nossa vida”, clarificou, apelando à “condigna celebração dos mistérios”. “A arte e beleza de bem celebrar também ajuda à participação”, frisou, destacando a “obediência às normas”, a “verdade”, a “simplicidade dos gestos” e a “sobriedade de sinais” e criticando “ritualismos cerimoniosos” que “não são expressão da verdade”.
O padre Carlos de Aquino considerou assim que os “desafios maiores da celebração” para contrariar o tal “divórcio” entre aquilo que se professa como crentes, aquilo que celebra e aquilo que se vive são a “paz”, a “comunhão com o Senhor” e o “compromisso evangelizador”. “Há uma grande proposta nesta renovação evangelizadora no âmbito da catequese e da liturgia chamada Mistagogia”, afirmou, explicando tratar-se de uma “catequese não apenas teórica”, que “pode ser celebrativa, testemunhal”, para ajudar a “perceber, para melhor acolher, a verdade daquilo que se faz”. “Por exemplo, se eu quero valorizar o silêncio, uma catequese mistagógica ajuda-me a perceber o valor do silêncio, quando é que o devo fazer na celebração e fazê-lo corretamente”, exemplificou, exortando à publicação de catequeses desta natureza.
Por fim, apelou à valorização de celebrações e festas no itinerário catequético, lembrando que o seu “horizonte” é “fazer a pessoa cristã” e não “para viver a festa em si mesma”.