“Mais não sou do que um peregrino enviado pelo Espírito Santo a ser também profeta da esperança junto daqueles que não conhecem ou que já esqueceram o amor de Deus”, afirmou o padre Carlos de Matos, de 52 anos, na Eucaristia a que presidiu ontem à noite no santuário de Nossa Senhora da Piedade (Mãe Soberana), do qual é capelão, para assinalar os seus 25 anos de sacerdócio.
“Neste dia de ação de graças quero agradecer a Deus o dom da humildade para poder servir o povo que Ele me confiou”, acrescentou o sacerdote da Diocese do Algarve numa intervenção em que se emocionou em vários momentos, como aquele em que explicou que os seus pais, de idade avançada, não puderam estar presentes. “Não podem estar aqui, mas estão no coração, claro”, disse com a voz embargada.
Para além da família, o aniversariante disse ainda ser dia de “agradecer a Deus a oportunidade” que lhe deu através daqueles que passaram na sua história e na sua vida e que, “de formas tão diferentes, deixaram a sua marca”. “Alguns ainda estão cá e outros já estão na «casa» do Pai. Também rezo por eles”, declarou, acrescentando: “não vou conseguir nunca agradecer a Deus aqueles que colocou na minha história, aqueles que me acolheram no Seminário”.
O sacerdote disse ainda haver “tantas pessoas” que rezam por ele, a quem nunca teve “a oportunidade de lhes dizer obrigado”. “Rezo por eles”, garantiu, agradecendo a Deus por todos aqueles que o “ensinaram a amar nos gestos simples da vida”. “Nas vezes em que me contrariaram, mas que me ajudaram a crescer”, acrescentou, sublinhando o apoio nos “momentos de alguma fragilidade”. “É nessa altura que espevito e sinto que é Deus que me pega”, afirmou.
Recuperando uma das leituras bíblicas escutadas, o padre Carlos de Matos destacou a pergunta feita por Jesus ao discípulo: “Pedro, tu amas-me?”. No assentimento da resposta, o sacerdote identificou um “amor humano muito aquém” daquele que a expressão verbal utilizada por Jesus significava. “Significa que este Pedro não compreende a profundeza do amor de Deus na sua vida. Pedro ainda não tinha tempo nem capacidade de entender. O Senhor utiliza duas vezes esse mesmo verbo e Pedro continua a responder de forma muito humana, até que o Senhor utiliza o mesmo verbo com que Pedro lhe tinha falado como que a dizer: «Pedro, tu amas-me a ponto de dar a tua vida pelos teus irmãos? A ponto de não procurares o teu próprio interesse, de venceres os teus próprios medos? A ponto de enfrentares mesmo quem te humilha, quem te abandona, quem te ofende, quem te causa sofrimento? Estás apto a aceitar tudo isso?”, explicou, confessando que, por vezes, se sente como Pedro.
“Por vezes, também não tenho percebido esta profundidade do amor de Deus. E onde percebo essa profundidade é precisamente na Eucaristia que celebramos e que Deus continua a chamar-me, a dirigir-me a palavra, a perguntar-me se eu o amo a ponto de aceitar as coisas boas e menos boas”, desenvolveu perante a assembleia numerosa com membros das várias paróquias por onde passou, os quais considerou serem o “álbum vivo” dos 25 anos de sacerdócio.
No final da celebração, o bispo do Algarve que quis estar presente naquele momento, apresentou ao aniversariante uma “saudação fraterna e amiga de felicitações” e manifestou o seu sentimento de “louvor ao Senhor pelo dom do ministério ordenado” que lhe concedeu há 25 anos. “Sentimo-nos unidos a ele, gratos por todos aqueles que ele encontrou na sua vida, que o ajudaram a discernir este dom e depois acolhê-lo na sua vida. Damos todos graças a Deus com ele por este dom. Quero unir-me a vós e é muito agradável para mim ver aqui gente de diferentes lugares das paróquias que ele serviu no Algarve ao longo destes 25 anos. É sinal do apreço e do reconhecimento que vós tendes por ele, mas também pela figura do presbítero e por este dom do sacerdócio”, afirmou D. Manuel Quintas.
“Uno-me a vós, agradecendo ao senhor padre Carlos por estes 25 anos de serviço à nossa Igreja diocesana. Serviu a diocese de diferentes modos e maneiras, em diferentes paróquias, com realidades muito diferentes umas das outras, mas o seu sentido de doação e de entrega constitui para nós motivo de gratidão. Sei que não passou por situações fáceis, como todos nós. Damos graças a Deus e agradecemos ao senhor padre Carlos pelo modo como ele viveu deste seu ministério sacerdotal e como também foi conseguindo, com a vossa ajuda, superar as dificuldades”, acrescentou, pedindo que continuem a rezar não só por aquele sacerdote, mas por todos os do Algarve que, mesmo não conseguindo estar presentes, lhe garantiram que celebrariam as missas daquele dia associados ao aniversário do colega.
Referindo o “privilégio” de poder celebrar as bodas de ordenação sacerdotal naquele lugar, dirigiu-se diretamente ao aniversariante. “Nunca duvides na tua vida da presença materna de Maria que continuará a assistir-te, a guiar-te no crescimento do sentido da doação e entrega àqueles que Deus te confia”, exortou.
Já o vigário episcopal para a região pastoral do centro, à qual pertencem as paróquias de Loulé, expressou o “sentir dos padres” não só daquela zona, mas de toda a Diocese do Algarve. “Que estes 25 anos em que cantámos contigo a bondade do Senhor se continuem a repetir e a entoar ao longo de mais 25 e de todos aqueles que o Senhor quiser”, afirmou o padre Pedro Manuel, desejando que a vida de “caminho do para o céu” do aniversariante se possa conformar com a “cruz do Senhor” e a oportunidade que Ele lhe dá para encaminhar “outros corações até Jesus”.
A presidente da União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, também usou da palavra. “Que este jubileu de prata sacerdotal renove em sua vida a graça deste ministério e, acima de tudo, a capacidade de servir com amor ao seu próximo”, afirmou Margarida Correia. A Eucaristia foi também participada pela vereadora da Câmara de Loulé, Marilyn Zacarias, e pela presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines, Carla Benedito.