Para os cristãos, a cada ano em Sábado Santo “a noite transforma-se em luz, o medo em esperança e a tristeza na alegria”. A metáfora, que serve igualmente para o momento que se vive na expetativa esperançosa de melhores dias, foi precisamente aproveitada pelo pároco da matriz de Portimão no convite que dirigiu aos seus paroquianos com filhos na catequese para uma pequena celebração em que possam “viver a noite da Páscoa do Senhor como família cristã”, uma vez que este ano não haverá celebrações comunitárias devido à pandemia do covid-19.

O convite do padre Mário de Sousa consistiu na proposta para a preparação do jantar daquele dia “como uma refeição solene e festiva, uma liturgia doméstica”, ao jeito do Seder Pascal judaico (refeição celebrativa que marca a festa pascal dos judeus que esteve na origem na Páscoa cristã).

O subsídio, de linguagem simples, fundamentado nos textos bíblicos e enriquecido com simbólica própria com recurso a objetos básicos, foi partilhado, por indicação do bispo do Algarve, com os restantes sacerdotes da Diocese do Algarve para que o possam aproveitar e adaptar nas suas paróquias se assim entenderem. Há também outras dioceses que o pretendem fazer.

A proposta para ajudar as famílias a viver a noite de Páscoa inclui ainda a carta que o autor dirigiu aos seus paroquianos (e que deverá ser substituída pela dos párocos que aproveitem o subsídio) e prevê também a elaboração prévia de um cartaz em tecido, durante a Semana Santa, para ser colocado em momento próprio à janela ou na varanda para que lá permaneça até à festa de Pentecostes.

Em entrevista ao portal Educris, do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), sobre a iniciativa, o sacerdote considera este tempo “o momento para revisitar as prioridades e o lugar de Deus na vida de cada um”. “Onde está Deus ou onde estava Deus no meio da nossa correria do dia a dia?”, começa por questionar.

“Onde estava Deus na nossa vida, na nossa sociedade e mesmo como discípulos de Jesus? Onde estava Deus nos nossos critérios e nas nossas opções de vida, na agitação? Onde estava Deus?”, questiona.

O sacerdote entende que pode ser “o tempo de recentrar a presença de Deus na nossa vida” e olhar de novo para “o capítulo 8 do evangelho de São João onde Jesus questiona: «quem sou eu para vós?»”. “Jesus não veio para alterar o ciclo normal da nossa vida. Estas pandemias, que têm marcado a história da humanidade, de alguma maneira fazem parte da fragilidade daquilo que somos feitos, da própria humanidade e acabam por ser um reequilíbrio da natureza”, prossegue.

“O importante é que nos perguntemos onde está Deus na nossa vida, nas nossas perspetivas e na forma como vivemos o hoje e olhamos o amanhã. Na vida de um filho que sofre o Pai está sempre presente”, sustenta.

Para o sacerdote “este é um tempo em que favoravelmente podemos refletir e pensar sobre os nossos critérios de vida e onde está Deus aí. Deus é sempre fiel e nunca nos abandona”, conclui.