
Na jornada de formação que a Diocese do Algarve promoveu no dia 21 deste mês para o clero no Seminário de São José, em Faro, sobre o tema “Caminhos de Libertação”, o padre Mário de Sousa deixou claro que Jesus realizou exorcismos e frisou que todos os evangelhos sinóticos dão conta de que “o fez com regularidade” e não como “ações pontuais”.
O sacerdote frisou que “muitos dos exorcismos realizados por Jesus estão relacionados com doenças físicas ou cerebrais” e que há aquelas “que são consideradas presença do maligno e outras que são classificadas como possessão”, explicando que a “presença do maligno” é um “enfraquecimento da vida (doença)”que “pode chegar ao ponto de a dominar completamente (possessão)”.
O formador, que abordou o tema da jornada de formação sob a perspetiva de “os exorcismos à luz da missão de Jesus”, observou que “mais do que falar na presença pessoal do diabo, os evangelhos sublinham a presença atuante do seu poder que fragiliza e despersonaliza o ser humano”.
Neste sentido, explicou não existir “uma identificação imediata entre possessão demoníaca e possessão diabólica”. “Os evangelhos nunca falam de pessoas endiabradas. Falam sempre de pessoas endemoniadas. As únicas ocorrências em que se fala de uma entrada do diabo em pessoas é no caso de Judas, e mesmo neste caso, não se refere a uma ação de satanás no sentido de atormentar fisicamente Judas, mas aparece como uma total submissão de Judas ao poder do mal”, sustentou.

“Se os endemoniados estão possuídos por um ente a que a filosofia de hoje (e não da época) chama pessoal ou «apenas» dominados pela influência do mal, eu não consigo, a partir dos textos bíblicos, dar uma resposta”, reconheceu, advertindo que as narrativas de exorcismos se diferenciam das outras curas porque “têm três características fundamentais: a pessoa processa está inteiramente à mercê da força que a domina ao ponto de ficar completamente alienada e perder a sua identidade própria”, “há um duro confronto entre o demónio e Jesus” e “as ações dos demónios são violentas e destrutivas”.
O formador clarificou igualmente que Jesus “não só realizou exorcismos, como deu autoridade aos seus discípulos para realizarem o mesmo”, acrescentando tratar-se de “algo que faz parte da missão para que Jesus chama os doze”.
O padre Mário de Sousa esclareceu que, para além de “missão entregue por Jesus aos seus discípulos”, aquelas práticas aparecem nos evangelhos como “sinal da chegada do reino de Deus” e “ação do Espírito Santo”.
Referindo-se ao “significado dos exorcismos de Jesus”, o formador evidenciou que “todos os relatos sublinham a libertação que Jesus realiza” e que a sua atuação dá-se numa dupla dimensão: histórica e trans-histórica. “Cada exorcismo é uma libertação histórica: Jesus liberta aquela pessoa concreta da opressão e do sofrimento, possibilitando a sua relação com Deus e com os outros. Mas este exorcismo concreto tem uma dimensão trans-histórica que tem a ver com o combate mais profundo: aquele que se dá entre Deus e o príncipe deste mundo [do mal] para libertar definitivamente o ser humano das suas garras”, concluiu.
Por fim, o sacerdote destacou ser “inquestionável” que “Jesus não recusa gesto algum que possa libertar as pessoas daquilo que as diminui e faz sofrer”. “Jesus nunca manda ninguém embora e, na minha perspetiva, esse há-de ser também o meu e o nosso critério pastoral”, finalizou.