Foto © Samuel Mendonça

Na jornada de formação que a Diocese do Algarve promoveu no dia 21 deste mês para o clero no Seminário de São José, em Faro, sobre o tema “Caminhos de Libertação”, o padre Mário de Sousa deixou claro que Jesus realizou exorcismos e frisou que todos os evangelhos sinóticos dão conta de que “o fez com regularidade” e não como “ações pontuais”.

O sacerdote frisou que “muitos dos exorcismos realizados por Jesus estão relacionados com doenças físicas ou cerebrais” e que há aquelas “que são consideradas presença do maligno e outras que são classificadas como possessão”, explicando que a “presença do maligno” é um “enfraquecimento da vida (doença)”que “pode chegar ao ponto de a dominar completamente (possessão)”.

O formador, que abordou o tema da jornada de formação sob a perspetiva de “os exorcismos à luz da missão de Jesus”, observou que “mais do que falar na presença pessoal do diabo, os evangelhos sublinham a presença atuante do seu poder que fragiliza e despersonaliza o ser humano”.

Neste sentido, explicou não existir “uma identificação imediata entre possessão demoníaca e possessão diabólica”. “Os evangelhos nunca falam de pessoas endiabradas. Falam sempre de pessoas endemoniadas. As únicas ocorrências em que se fala de uma entrada do diabo em pessoas é no caso de Judas, e mesmo neste caso, não se refere a uma ação de satanás no sentido de atormentar fisicamente Judas, mas aparece como uma total submissão de Judas ao poder do mal”, sustentou.

Foto © Samuel Mendonça

“Se os endemoniados estão possuídos por um ente a que a filosofia de hoje (e não da época) chama pessoal ou «apenas» dominados pela influência do mal, eu não consigo, a partir dos textos bíblicos, dar uma resposta”, reconheceu, advertindo que as narrativas de exorcismos se diferenciam das outras curas porque “têm três características fundamentais: a pessoa processa está inteiramente à mercê da força que a domina ao ponto de ficar completamente alienada e perder a sua identidade própria”, “há um duro confronto entre o demónio e Jesus” e “as ações dos demónios são violentas e destrutivas”.

O formador clarificou igualmente que Jesus “não só realizou exorcismos, como deu autoridade aos seus discípulos para realizarem o mesmo”, acrescentando tratar-se de “algo que faz parte da missão para que Jesus chama os doze”.

O padre Mário de Sousa esclareceu que, para além de “missão entregue por Jesus aos seus discípulos”, aquelas práticas aparecem nos evangelhos como “sinal da chegada do reino de Deus” e “ação do Espírito Santo”.

Referindo-se ao “significado dos exorcismos de Jesus”, o formador evidenciou que “todos os relatos sublinham a libertação que Jesus realiza” e que a sua atuação dá-se numa dupla dimensão: histórica e trans-histórica. “Cada exorcismo é uma libertação histórica: Jesus liberta aquela pessoa concreta da opressão e do sofrimento, possibilitando a sua relação com Deus e com os outros. Mas este exorcismo concreto tem uma dimensão trans-histórica que tem a ver com o combate mais profundo: aquele que se dá entre Deus e o príncipe deste mundo [do mal] para libertar definitivamente o ser humano das suas garras”, concluiu.

Por fim, o sacerdote destacou ser “inquestionável” que “Jesus não recusa gesto algum que possa libertar as pessoas daquilo que as diminui e faz sofrer”. “Jesus nunca manda ninguém embora e, na minha perspetiva, esse há-de ser também o meu e o nosso critério pastoral”, finalizou.