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Foto © Samuel Mendonça

Lembrando que “as obras de misericórdia são de sempre” e que “a Igreja sempre as ensinou na sua doutrina”, o padre Pedro Manuel lamentou que “esta doutrina, como outra imprescindível”, tenha caído no esquecimento.

“Numa catequese, cada vez mais, escolarizada esquecemos a doutrina e com ela esquecemos também a definição de Igreja, povo de Deus chamado a celebrar as maravilhas de Deus”, criticou o sacerdote que foi o orador do Jubileu dos Catequistas que no sábado contou com cerca de 500 participantes de todo o Algarve, tendo apresentado uma reflexão sobre o tema “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7).

“Cuidado com as catequeses demasiado programadas, com itens e matérias que têm de ser dados. A fé é uma escola de vida e não um curso de dinâmicas interpessoais”, alertou no encontro que teve lugar no salão de São Pedro do Mar, em Quarteira.

Jubileu_catequistas (8)“Por vezes cansamo-nos com extraordinárias e dinâmicas catequeses e não ensinamos nem colmatamos nenhuma ignorância. E porquê? Porque damos respostas a perguntas que não foram feitas”, prosseguiu o conferencista, considerando “urgente fazer das catequeses lugares aprazíveis de encontro com Jesus”. “Na nossa missão de catequistas é urgente ensinar, a propósito e a despropósito, quem é Jesus Cristo”, complementou.

O sacerdote, que fez um levantamento do tema da misericórdia nos 10 catecismos e respetivos guias do catequista, concluiu que os catecismos “estão cheios de ricas e bonitas expressões de beleza e de fé, mas não preparam cristãos para o encontro profundo e verdadeiro” com o “Deus de misericórdia”. “Deveríamos questionar-nos todos se, de facto, uma Igreja ao ritmo do mundo – como eu acho que parte dos catecismos apresenta – é uma Igreja ao ritmo da misericórdia”, considerou.

Na sua intervenção, que começou por incluir uma referência às obras de misericórdia (corporais e espirituais), o padre Pedro Manuel lamentou que a catequese não tenha uma maior componente catecumenal. “Quantas catequeses estamos a perder sem catecismo e sem extraordinários guias de catequistas, mas com histórias reais e profundamente belas na cama do hospital ou até na cama de um doente!”, lamentou o sacerdote, a propósito de uma das obras de misericórdia corporais (visitar os enfermos).

Sobre a obrigação de visitar os presos, o padre Pedro Manuel considerou que os três estabelecimentos prisionais do Algarve – Faro, Silves e Olhão – são “três catecismos existenciais”. “Não têm guia publicado pelo Secretariado Nacional de Educação Cristã, mas têm histórias publicadas pelos dramas da vida”, afirmou.

“Porque a fé se alimenta de obras”, lembrou que “dar de comer a quem tem fome pode ser um desafio para a dinâmica habitual de quem faz da catequese um compromisso com a vida”, destacando os “sinais bonitos neste campo” realizados ao longo dos últimos anos com as campanhas de Advento e Quaresma “que tem colmatado a fome imediata de tantos irmãos mais vulneráveis”.

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Foto © Samuel Mendonça

O orador, que se referiu ainda ao sacramento de reconciliação como expressão de misericórdia, disse que aquele, “tantas vezes proposto e mal preparado, assume neste Ano da Misericórdia e sempre na vida da Igreja um papel preponderante”. O padre Pedro Manuel lamentou que se marquem celebrações penitenciais apenas para os tempos litúrgicos do Advento e da Quaresma “como se estes fossem apenas os momentos de vivência do sacramento da reconciliação” ou “como se essas fossem apenas as únicas épocas do ano em que existe pecado na vida de alguém que anda na catequese ou na vida da Igreja”. “Este é um sacramento de todos os dias, não apenas para uma ou duas vezes no ano”, alertou, acrescentando que “confissões pedidas como receita médica não podem ser sinónimo de disponibilidade da fonte da graça”. “Os cristãos têm direito a ter à sua disposição este sacramento e os sacerdotes têm a missão grave de o oferecer em dias certos, mesmo sem o pedido dos penitentes. Nunca se descobrirá o valor da reconciliação apenas com uma celebração aqui ou ali. Mal vai a Igreja quando reduz o acesso à reconciliação apenas quando o padre pode e tem tempo porque aí descobriremos que raramente pode e quase nunca tem tempo”, advertiu.

Considerando que “o anúncio de um verdadeiro tempo de misericórdia acontecerá quando se perceber que este dom é um autêntico milagre que está disponível à distância de um recanto”, o sacerdote alertou que “só um coração perdoado é capaz de perdoar”. “Porque muito lhe foi perdoado, muito perdoará e mais amará”, complementou.