As paróquias de Altura, Azinhal, Cacela, Castro Marim, Monte Gordo, Odeleite e Vila Real de Santo António despediram-se esta manhã do padre Agostinho Clemente Neto, de 69 anos, seu vigário paroquial, falecido na passada terça-feira.

Na missa exequial, a que presidiu hoje de manhã na igreja matriz de Vila Real de Santo António, o bispo do Algarve afirmou que o religioso da congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (dehonianos) preparava-se para iniciar o terceiro ano no Algarve “com a indicação para assumir a responsabilidade paroquial de Castro Marim, mas Deus tinha outros planos para ele”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Eis-nos, irmãos, reunidos em eucaristia exequial, iluminados pela fé e pela esperança em Cristo ressuscitado para rezarmos pelo eterno descanso do padre Agostinho Clemente que o Senhor da vida e da morte quis junto de si, quando segundo o nosso modo de pensar e programar muito esperávamos dele, pelo muito que ainda podia dar à província dos dehonianos e nestes próximos anos também à nossa Igreja diocesana”, começou por referir D. Manuel Quintas, frisando que Deus “chamou a si de maneira imprevista” o sacerdote.

“Sabemos como os desígnios de Deus são insondáveis e como o seu modo de pensar e de agir difere do nosso. Por isso, queremos acolher à luz da fé a sua vontade, com a certeza de que só Ele sabe, como Pai de coração bondoso e misericordioso, não só o que mais convinha ao padre Agostinho Clemente, como também o que mais convém à Igreja, à Província dos dehonianos e também à nossa Igreja diocesana”, prosseguiu.

O bispo diocesano lembrou que “o padre Agostinho Clemente era natural do Estreito de Câmara de Lobos, na Madeira, estava próximo de completar 70 anos de vida no próximo dia 7 de agosto, dos quais 48 anos como consagrado dehoniano, 40 como presbítero que completaria no mesmo dia em que faria 60 anos, já que foi ordenado como sacerdote no dia do seu aniversário natalício. “E realçamos, de maneira particular, 35 anos como missionário em Madagáscar. Quando regressou a Portugal foi-lhe indicada a comunidade de Vila Real de Santo António e a Diocese do Algarve para o exercício do seu ministério”, desenvolveu.

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D. Manuel Quintas acrescentou que o sacerdote “nestes últimos tempos revelou alguma fragilidade na saúde, mas sempre acompanhado pelo médico”. “Pensava-se que esta situação fosse facilmente ultrapassada e que o padre Clemente recuperaria de novo a serenidade e o entusiasmo que o caracterizava. Todavia, a sua partida para o Pai, na noite de segunda para terça-feira, aconteceu de modo imprevisto e repentino para grande surpresa de quantos íamos sendo informados do sucedido”, disse.

“Recordo o padre Clemente como um homem bom, um religioso fiel, um sacerdote e missionário generoso e dedicado, simples e desprendido, alegre e conversador, não olhando a dificuldades e incutindo esperança nos outros. Conheci-o melhor nos seis anos em que acompanhei a ação dos missionários dehonianos portugueses em Madagáscar, entre 1994 e o ano 2000. Aliás, foi na sua companhia que fiz a primeira viagem a Madagáscar no regresso das suas férias e quando ele tinha já 10 anos de presença naquele país de missão”, lembrou.

“Esperávamos todos que ele superasse a doença e que continuasse a enriquecer-nos nos próximos anos com o testemunho de uma vida toda consagrada a Deus e ao anúncio do evangelho, mas Deus assim não quis. Estamos certos de que no céu será nosso intercessor junto de Deus e nos colocará a todos, os que fizemos parte da sua vida e do seu ministério, no coração do Pai: dehonianos, malgaxes, algarvios, particularmente destas paróquias, nomeadamente daquela para a qual estava indigitado”, referiu ainda o bispo do Algarve na Eucaristia participada também pelo presidente da Câmara de Vila Real de Santo António.

D. Manuel Quintas referiu-se ainda “aos que revelam fome e sede de Deus e se dispõem na mansidão e na humildade a ser discípulos e a aprender do coração de Cristo o segredo da vida plena e definitiva e a percorrer o caminho que a ela conduz”. “Estamos certos todos de que este foi o caminho percorrido pelo padre Agostinho Clemente e que aqui nos deixa como testemunho eloquente da sua vida”, assegurou, dando “graças a Deus por todo o bem semeado pelo padre Clemente ao longo da sua vida como consagrado dehoniano e, sobretudo, pelo seu ministério sacerdotal exercido ao longo de mais de três décadas em terras de missão e, recentemente, também ao serviço” da Igreja diocesana algarvia. “Agradeço, reconhecido, a quantos o acompanharam na sua doença, particularmente a sua comunidade de irmãos dehonianos”, afirmou, pedindo aos cristãos algarvios que continuem “a rezar pelas vocações para que o Senhor envie para a sua Igreja mais sacerdotes, mais consagrados, mais missionários”.

Também o superior provincial dos dehonianos em Portugal, que concelebrou a Eucaristia com vários outros sacerdotes dehonianos de vários pontos do país e da Diocese do Algarve, se referiu ao falecimento do seu confrade. “A morte do padre Agostinho Clemente apanhou-nos a todos de surpresa”, afirmou, o padre João Nélio Pereira, acrescentando que o falecido “passou por uma fase animicamente difícil”. “Recentemente sentimos que ele começava a recuperar a esperança e o ânimo pela vontade que tinha em aderir a novos projetos pastorais. Por isso, a sua partida foi um choque para todos nós”, testemunhou.

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O padre João Nélio Pereira tinha estado desde quinta-feira até segunda-feira passada em Vila Real de Santo António. “Estávamos a organizar a vida pastoral da comunidade”, contou, acrescentando que “o padre Clemente tinha projetos, tinha vontade de se empenhar ainda mais na pastoral da comunidade e, de repente, tudo muda”.

“O padre Clemente era um confrade muito querido. Viveu muitos anos na missão de Madagáscar. Integrou o grupo de missionários portugueses quando a nossa presença naquela terra dava ainda os primeiros passos. Era um homem simples, sóbrio, entregue à missão, alegre e resiliente. Nos momentos de convívio era com gosto que ouvíamos as suas descrições de factos passados que no geral falavam de situações impressionantes de superação, de dificuldades e desafios que contava com muita naturalidade, de uma forma muito animada”, lembrou.

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“Em Madagáscar foi chamado a exercer várias missões e também o cargo de superior regional, uma missão exigente que ajudou a cimentar a fraternidade e a identidade dehoniana dos confrades de Madagáscar. Nos últimos três anos foi na comunidade de Vila Real [de Santo António] que ele se entregou à missão. Um tempo difícil marcado pela pandemia, pelas notícias da guerra que tanto preocupavam a sua sensibilidade por todos. foi no silêncio e na discrição da sua vida que o padre Clemente partiu para junto de Deus, uma partida silenciosa para quem tanto fez de bem. Porque o bem não faz ruído, simplesmente transforma, cria vida e alegra por onde passa. Assim foi a vida do padre Clemente. Nós, os dehonianos, damos graças a Deus pela sua vida, pelo seu testemunho, por essa vida que Deus quis partilhar com todos nós. Que o Senhor agora lhe conceda o descanso eterno e que ele agora lá no céu seja o nosso intercessor”, concluiu.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O corpo do sacerdote foi levado para o aeroporto de Lisboa de onde partirá amanhã, pelas 7h, rumo à Madeira, sendo acompanhado pelo superior provincial dos dehonianos e pelo padre Agostinho Pinto, membro da comunidade algarvia dos sacerdotes dehonianos a que pertencia o falecido. A missa exequial decorrerá amanhã, às 14h30, na igreja de São Tiago do Jardim da Serra, seguindo-se depois o funeral no Cemitério do Estreito de Câmara de Lobos onde ficará sepultado.

Faleceu o padre Agostinho Clemente Neto, vigário paroquial de paróquias do sotavento algarvio (atualizada)