Uma das tradições natalícias de Espanha, que sempre gostei, é o facto de praticamente não se falar do Pai Natal e de se valorizar bastante as figuras dos Reis Magos, havendo, inclusive, as famosas cavalgadas dos Reis, com a “chegada” destes às cidades, para entregarem as prendas às crianças.

Num país que à semelhança de outros, está cada vez mais polarizado e onde a Igreja Católica está num dos lados da polarização, é saudável e sinal de esperança ver que as figuras cristãs dos reis magos conseguem unir a sociedade em torno da tradição cristã. Assim, é verdadeiramente cumprida e assumida a missão das figuras dos magos vindo do oriente, que não pertencendo ao Povo de Israel reconheceram Jesus como Rei, Homem e Deus, antes do seu povo.

A Epifania do Senhor é a primeira festa global e da globalização. Antes do esforço americano para promover pelo mundo inteiro a figura do Pai Natal ou, mais recentemente, a festa do Halloween, a Igreja Cristã, desde os primórdios, celebra a chegada da Salvação para todos os povos, a todos os homens e convida-os a celebrar essa universalidade salvífica, nesta festa.

A celebração da manifestação do Salvador a todos os povos é essencial para os dias de hoje. Vivemos tempos fortes de guetos políticos, religiosos e dentro da Igreja Católica até litúrgicos e de linguagem. No mundo de hoje, cada vez menos queremos mais chegar e aprender com todos e vivermos encantados em apresentar as nossas ideias, ideologias e crenças, a quem pensa como nós. Isto acontece em várias áreas da vida das sociedades atuais e a Igreja Católica não está imune a isso. Corremos o risco de nos tornarmos irrelevantes, se nas relações de proximidade não nos preocuparmos e falarmos dos problemas concretos das pessoas, em vez de debatermos internamente sobre assuntos que mesmo grande parte dos cristãos não entende e não reconhece a linguagem.

A mensagem da universalidade e da salvação global é algo intrínseco no cristianismo, por isso a guetização da linguagem, da liturgia e dos falsos sábios não deve prevalecer. Os imigrantes que nos chegam devem ser vistos como os “magos”, que reconhecem na nossa civilização o humanismo e a caridade cristã, própria dos valores que herdamos de Jesus Cristo. É que, por vezes “somos como Herodes” e queremos matar tudo e todos os que não podem fazer-nos frente ou questionar-nos! E esse caminho, tal como há 2000 anos, mostra-se, não só criminoso e anticristão, mas infrutífero.

Há esperança que todos juntos consigamos que o cristianismo autêntico mostre que é necessário para a Salvação do Mundo. O Papa Francisco tem feito por isso. Tem acabado com alguns guetos. O último que terminou foi o facto de não haver nenhuma mulher como perfeita de um dicastério. O governo da Igreja não pode ser um gueto somente de homens. Aliás, se a maioria dos fiéis são mulheres, faz todo o sentido que a maioria esteja representada no governo da Igreja. Um sinal de esperança que a Epifania do Senhor continua a chegar a todos!