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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

As famílias das paróquias que constituem a vigararia de Tavira foram no passado sábado desafiadas a não perder a “capacidade de gerar empatia”, de “comunicar” e de estabelecer “laços fortes afetivos”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Na reflexão sobre o tema “Realidade familiar exigente”, apresentada na Peregrinação Vicarial da Família pelo presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Silves, que considerou ser “dos problemas mais complexos” da sociedade atual, aquele responsável advertiu que, segundo alguns teóricos, “se calhar os analfabetos do futuro vão ser as pessoas que perderam os valores da humanidade”.

“Estamos a perder uma coisa fundamental para a criação de relações humanas que é a empatia”, alertou Luís Santos, acrescentando que a “trama do tecido social”, composta por cada pessoa, está a ficar enfraquecida. “Estamos a transformarmos em «fios» corridos, sem fazermos trama, o que faz com que não tenhamos grande sustentabilidade”, advertiu, lamentando que se esteja a “promover a individualidade”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“O que estamos a criar nas nossas famílias são crianças que se sabem relacionar com algo que lhes faz a vontade e não com o outro”, sustentou, dando como exemplo o uso excessivo dos ecrãs que considerou ser “um dos grandes problemas” com que as famílias se deparam. “Estamos a promover uma coisa que, sem querer, vamos colher os frutos negativos daqui a uns anos”, previu, relacionando com o que disse ser a necessidade de “regras e limites” em casa. “Temos que garantir que as crianças, para além de terem empatia, conhecem regras e limites”, afirmou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Lembrando que a empatia começa por ser transmitida em casa aos filhos, pediu aos pais que procurem perceber “aquilo que eles querem”. “As relações familiares podem evitar uma série de constrangimentos no futuro desde que saibamos olhar para o outro e compreendê-lo, tentar perceber quais são as suas razões sem o julgar”, considerou, pedindo aos pais que tenham a perceção de que não vão “conseguir controlar tudo”. “Mas se lhes dermos as ferramentas necessárias eles vão conseguir «navegar» neste «mar» que não sabemos qual vai ser porque daqui para a frente a realidade será cada vez mais complexa”, completou, sublinhando a necessidade de seguir “certos princípios orientadores”.

O presidente da CPCJ de Silves citou o estudo da rede de investigação europeia ‘EU Kids Online’, coordenado em Portugal pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, para enfatizar a importância dessas ferramentas. “95% dos nossos jovens navegam na net pelo telefone, o que quer dizer uma coisa muito simples: nenhum de nós que tenha filhos consegue saber o que é que eles estão a ver”, constatou, acrescentando que “quatro horas do tempo dos jovens são passados à frente de um dispositivo destes”. “A própria internet sugere conteúdos às crianças e, se vocês não estiverem com atenção, elas pode estar a ver conteúdos muito estranhos”, alertou.

Luís Santos destacou mesmo que “50% das raparigas e 55% dos rapazes tiveram contacto ou mantém contacto com pessoas que eles não conhecem na realidade”. “Se nos dissessem há cinco, quatro ou três anos atrás que íamos ter problemas de grooming [aliciamento sexual pela Internet] talvez disséssemos que isso nunca iria acontecer”, afirmou, referindo-se a “adultos que se fazem passar por jovens e que entram em contacto com jovens ou crianças para um determinado fim”.

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O orador, que justificou que os jovens “olham para a exposição nas redes sociais como algo necessário para a criação da sua própria imagem, do seu próprio autoconceito, da sua própria autoestima”, desaconselhou os pais da “tendência na sociedade de hoje de fazer dos filhos os melhores amigos”. “Os nossos filhos não são os nossos melhores amigos, nem os pais são os melhores amigos dos filhos”, frisou.

Relativamente à problemática das drogas disse que a mesma incide atualmente na dificuldade de aferir a ilegalidade dos produtos. “As crianças podem estar a consumir substâncias tóxicas que mudam tão rapidamente a sua composição que não são ilegais”, concretizou.

Por fim, Luís Santos considerou o “casamento, contrato civil”, “das realidades mais frágeis” na sociedade hodierna. “As pessoas gostam com base no conceito que elas criaram que é «eu gosto para ser feliz» e o conceito devia ser outro: «eu gosto porque faço alguém feliz»”, lamentou, alertando para a “tendência” de haver “cada vez mais situações de beligerância à porta das escolas entre casais que se desfizeram”.

O orador chamou assim a atenção para outras realidades de família que “começam a ser cada vez mais frequentes”. “É importante estarmos preparados para isto porque cada vez mais estas realidades nos chegam e nós não nos podemos afastar porque elas são família, são pessoas que procuram ser amadas e procuram dar amor”, acrescentou, considerando que a transmissão da memória da família às crianças é hoje assegurada pelos avós.

A peregrinação vicarial das famílias das paróquias de Tavira, sob o tema “Família, que futuro…”, teve início no sábado à tarde na igreja matriz de Castro Marim. Os pais seguiram depois para a Casa do Sal, onde decorreu a reflexão, enquanto os filhos visitaram o castelo e fizeram algumas dinâmicas.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A iniciativa, promovida pela equipa vicarial da família com o padre Adelino Ferreira, pároco local, e demais elementos da paróquia de Castro Marim, contou com cerca de uma centena de pessoas oriundas das paróquias de Altura, Cacela, Castro Marim, Monte Gordo, Tavira e Vila Real de Santo António e prosseguiu com a eucaristia na igreja matriz, presidida pelo vigário da vigararia de Tavira. “Quando Deus estiver no centro da família, tudo corre bem. Quando Ele é posto fora, a desordem acontece”, afirmou o padre Agostinho Pinto na celebração, após a qual se realizou um lanche.