Padre Miguel Neto
Padre Miguel Neto

Nestes últimos dias tenho vindo a refletir sobre o conceito de pioneiro. Se calhar, porque atravesso um momento pessoal de transformação, no que à minha condição de aluno diz respeito…

Diz o dicionário, a propósito: «aquele que primeiro abre ou descobre caminhos; O que se antecipa na adoção ou defesa de novas ideias ou doutrinas; precursor». Na verdade, quem são os pioneiros do nosso tempo, em que se diz, com a força do senso comum, que tudo está descoberto, que tudo foi inventado, que nada mais será resultado do engenho e gerará o espanto?

Os últimos dias, como já mencionei, permitiram-me reafirmar uma certeza: há pioneiros, visionários – no bom sentido – que nos apontam caminhos e que antecipam ideias, que às vezes poderão até nem ser novas, mas que terão de ser novamente e sempre aplicadas à nossa vida.

Terminada a conferência do clima, em Paris, promovida pela ONU, o mundo alegra-se com os bons resultados anunciados: se tudo o que foi acordado for cumprido, na segunda metade deste século já não haverá praticamente emissões de gases poluentes, pois teremos deixado de usar combustíveis fósseis ou estaremos a armazenar esses químicos e as florestas, que merecerão uma atenção e uma preocupação de preservação especial, estarão a cumprir a sua função de absorção de carbono. A temperatura no planeta subirá, no limite, apenas 1,5oC e haverá monitorização dos esforços e resultados, bem como maiores investimentos dos países mais desenvolvidos para ajuda dos menos desenvolvidos. Não há datas concretas, o que preocupa os mais atentos e os menos entendidos, como eu, mas há, pelo menos e pela primeira vez, um acordo internacional, que tem força legal e que vincula quem o assina.

Há alguns meses atrás, o Papa Francisco perguntava: «Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?» A questão surgia na sua encíclica Laudato si, na qual o Santo Padre alertava precisamente para todas estas questões: as mudanças climáticas, a questão da água, a dívida ecológica, a raiz humana da crise ecológica e as mudanças nos estilos de vida necessárias à conservação do planeta. Inspirado por S. Francisco de Assis, santo cujo nome usa e cuja figura o inspira, considerou a terra como irmã com quem partilhamos o espaço e a existência e como uma mãe, que está sempre pronta a colher-nos, mas que é maltratada e que geme, tal como todos os abandonados deste nosso mundo.

Os homens parecem ter acordado… Os homens com responsabilidade de governação… São Pioneiros?!…. Não sei, serão, à sua maneira e escala, no tempo em que lhes é possível assumirem-se como tal… Pioneiros como todos aqueles que alertaram, ao longo da nossa história, para este problema e que não conhecemos sequer… Pioneiros como os nossos antepassados, que acreditavam que a terra era mãe e que dela tudo nascia e que uma mãe generosa deve ser amada e respeitada… Pioneiros teremos de ser todos nós, vencendo a preguiça e pondo em prática gestos simples, que podem contribuir para que estas grandes metas se atinjam: separar o lixo, reciclar, colocar o lixo em embalagem apropriadas, selecionar nas nossas compras aqueles objetos que menos mal fazem ao ambiente, poupar água, poupar energia… Há tanto que cada um de nós pode fazer e ser, também, pioneiro. Porque, na verdade, o que mais precisamos é de uma nova ecologia do pensamento, uma ecologia que nos faça compreender que vivemos numa casa comum e que, só agindo com o sentido de verdadeira partilha, poderemos promover, também, o bem comum. E se não começarmos antes de todos os outros, nunca começaremos e estaremos sempre à espera que alguém, por nós, tome decisões e aja.

Prometo que vou tentar ser pioneiro.