
A postuladora da causa de canonização de Francisco e Jacinta Marto explicou em Portimão que apesar de viverem ambos uma “espiritualidade apostólica – porque tinham muita compaixão por todo o tipo de sofrimento”, particularmente o de Nossa Senhora – havia diferenças evidentes nos dois santos.

A irmã Ângela Coelho, que regressou ao Algarve nos dias 24, 25 e 26 de março a convite da paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Portimão para contar o que aconteceu em Fátima há cem anos, proferiu uma palestra (áudio disponível abaixo) na igreja daquela paróquia no dia 25 do mês passado perante cerca de 200 pessoas na qual abordou as histórias e as vivências dos pastorinhos.

A religiosa da Aliança de Santa Maria sublinhou que a espiritualidade de Francisco era mais “contemplativa”, dedicada a consolar e a estar com Deus, e da Jacinta mais voltada para consolar Jesus e o Santo Padre e para a conversão dos pecadores. “Uma coisa muito bonita dos pastorinhos: eles nunca trataram com arrogância as fraquezas dos outros. Estavam conscientes das feridas das pessoas, rezavam e sacrificam-se por elas”, afirmou, lembrando que se referiam sempre aos “pobres pecadores” com “compaixão” e “muita ternura”.

Lembrando que Francisco só começou a ver Nossa Senhora depois de ter começado a rezar o terço como lhe fora pedido, a irmã Ângela Coelho destacou que o menino tinha uma “vocação contemplativa a desenvolver” e que isso foi o que a Virgem lhe veio dizer. A religiosa frisou que esta ideia ficou também patente quando Maria respondeu a Lúcia que ele só iria para o céu se rezasse “muitos terços”. “O primeiro sinal que devolveu a identidade ao Francisco Marto foi o seu rosário”, acrescentou a postuladora, lembrando que quando desenterraram os seus restos mortais para a trasladação para a basílica de Fátima o seu terço estava intacto. “A oração do Rosário pode ser importante para a nossa identidade de cristãos”, concluiu a religiosa.

Relativamente a Jacinta, a irmã Ângela Coelho considerou que ela «profere» um novo «eis-me aqui» (resposta da Virgem Maria à anunciação do anjo) ao responder que sim a Nossa Senhora quando lhe pergunta se quer ficar mais algum tempo para oferecer ainda mais pela conversão dos pecadores. “A Jacinta oferece tudo pela conversão dos pecadores”, evidenciou a irmã Ângela Coelho, considerando que “Jacinta foi apóstola em vida e apóstola depois de morta do fenómeno Fátima”.
“A grande apóstola de Fátima é a Jacinta”, considerou a consagrada, lembrando que a menina não conseguiu guardar segredo. “Ela foi mesmo tocada pela força da ressurreição de Jesus na pessoa de Nossa Senhora. A Jacinta foi tocada como os discípulos de Emaús. É tomada pelo mesmo «fogo», tinha lá dentro uma coisa que não a deixava estar calada. Foi testemunha do que viu”, acrescentou.

Por outro lado, recordou também que ao abrirem o caixão da menina para a trasladar para Fátima o seu corpo estava incorrupto e que a fotografia desse facto foi o que levou Lúcia a escrever as suas memórias que “é o livro que mais tem difundido Fátima no mundo”. “Este livro surge por causa da fotografia, ou seja, a Jacinta é a apóstola em vida e também depois de morta”, justificou a irmã Ângela Coelho, que é médica de formação.
Palestra da irmã Ângela Coelho no dia 25 de março de 2017: