Foto © Samuel Mendonça
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Depois do caso ocorrido em 2015 no contexto da “praxe académica” com uma aluna que entrou em coma alcoólico, tendo sido assistida no Hospital de Faro, a Universidade do Algarve (UAlg) apertou as regras e, através de um despacho assinado pelo reitor, regulamentou aquela prática académica para a receção aos novos alunos.

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Assim sendo, o curso de Educação Social aproveitou o contexto para implementar a ideia antiga de levar a cabo uma “praxe solidária”. Aos cerca de 20 estudantes caloiros foi proposto que colaborassem no serviço alimentar levado a cabo pela Ordem Franciscana Secular (OFS) de Faro aos mais pobres num quiosque em frente à igreja franciscana.

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Os estudantes puseram mãos à obra na última terça-feira e, para além de terem ajudado na confecção da sopa, ainda limparam o quiosque e colaboraram na distribuição daquela refeição a pessoas carenciadas que inclui também o fornecimento de pão, fruta e doces oferecidos por duas pastelarias.

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Aquele serviço distribuiu 3.658 refeições em 2015 e este ano, no primeiro trimestre, 1.003 e, no segundo, 963. Aquela ajuda, assegurada à terça-feira a partir das 19.15h e iniciada em 2011 pela OFS por falta de apoio alimentar na cidade naquele dia específico, começou por contemplar pessoas sem-abrigo, toxicodependentes e arrumadores de automóveis, mas agora já inclui também famílias.

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Cátia Nascimento, aluna veterana do terceiro ano do curso de Educação Social, explicou ao Folha do Domingo que os caloiros ficaram “um bocadinho reticentes” quando lhes foi apresentada a ideia para a “praxe” deste ano, mas acrescenta que essa desconfiança inicial rapidamente se transformou em entusiasmo. “Esta «praxe» tem este cariz social não só pelo nosso curso, mas também para dar outra imagem às praxes. Não existe só o que se diz que é mau nas praxes. Nós também fazemos coisas boas”, explica.

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Aquela aluna refere ainda que esta receção aos novos alunos contribui para uma melhor compreensão do curso que escolheram. “Eles precisam de perceber que neste curso é muito preciso ser-se solidário e entender os outros. Falta muito às pessoas procurar perceber o lado dos outros”, afirma, acrescentando que outro objetivo da iniciativa é contribuir para o reconhecimento do trabalho dos educadores sociais. “Muitas vezes sentimos que não somos reconhecidos no mercado de trabalho ou nas instituições onde queremos estagiar”, lamenta.

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Inês Narciso, de Faro, uma das caloiras que aceitou participar na “praxe”, destaca esta vertente solidária da iniciativa e considera que os alunos sentem assim mais úteis. “Acho que este tipo de «praxe social e solidária» devia ser mais incutido para as pessoas perceberem que a «praxe» não é má. Estamos aqui porque queremos e fazemo-lo porque queremos e até agora tem sido fantástico”, conta.

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A veterana Cátia Nascimento testemunha que este ano “mudou tudo” no que respeita à “praxe académica”. “Este ano temos «rédeas curtas». Não podemos faltar ao respeito, nem gritar aos ouvidos, por exemplo. São coisas que aconteciam porque as «praxes» tomaram caminhos de excesso. Fazia falta recuar um pouco para poder avançar”, refere, acrescentando que no seu curso houve “ideias bastante inovadoras” para a receção aos novos alunos. “Não estamos aqui para nos divertirmos, mas para que eles se divirtam”, destaca.

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Aquela estudante adianta que a informação vinda da reitoria proibia “qualquer tipo de «praxe» na semana de inscrições” de 12 a 16 deste mês e que a Associação Académica da UAlg recomendou que a praxe fosse moderada, tendo destacado um representante para acompanhar as iniciativas de cada curso. “Tivemos duas reuniões de preparação nas quais apresentámos ideias e foram-nos propostas outras da parte da associação. Temos de apresentar relatórios de tudo o que fizermos, bem como um levantamento dos que querem ser praxados e dos que não querem”, prosseguiu, lembrando que “a «praxe» é uma escolha”.“Nós não obrigamos ninguém a ser praxado”, garante.

A Semana de Receção ao Caloiro teve início ontem e o programa de atividades prossegue até dia 29 deste mês.