(a propósito do dia de São Valentim)
Trabalho diariamente com crianças, adolescentes e jovens e tenho uma experiência grande, de muitos anos, com vários grupos, de contextos diferentes. Sou sensível ao tema dos afetos, das relações interpessoais, da ternura, da emoção, do equilíbrio de tudo isso para um são crescimento e da importância que tudo isso também tem no nosso (e deles) bem-estar, precisando essa parte de estar nutrida e não só as outras, as cognitivas, académicas, formais. Como se a nutrição completa, passasse por todas as esferas do nosso ser.
Então, é com agrado que verifico que em muitos fóruns se discute o tema da violência no namoro e dos tipos de violência que podem existir e coexistir e na subtileza que muitas violências têm, escudando-se por detrás da dissimulação, da voz mansa, do ar de proteção, do tom de cuidado, do “sou assim porque gosto muito de ti, não entendes?”, da posse desenfreada, do ciúme doentio, do controlo sufocante.
Há muitos miúdos e miúdas que vivem relações de namoro já com tudo isso. E isto é grave. De facto não entendo. Nós, adultos, educadores e conscientes do nosso papel, temos mesmo que dizer (dizer-lhes) que não, não entendemos e nem podemos aceitar.
O amor verdadeiro, mesmo aquele que está a crescer, é atento, cuidadoso e preocupado, mas não é sufocante. É amante do que há em comum, mas preocupado com a individualidade. É arrojado na entrega, mas cúmplice nos tempos, momentos, etapas, e decisões de cada um. É intenso na descoberta, mas inteligente nas escolhas, é personagem de uma história, mas co-autor de um projeto. Não sei se se pode dizer logo tudo isto assim, ou se cada um, cada par, deve construir e descobrir estas coisas à medida que a sua história vai seguindo, tendo ela o ritmo que lhe derem, pois estas coisas do amor, não funcionam por decreto. O que sei é que há coisas que logo na base, na fundação, no alicerce que se ergue no primeiro dia de um namoro, não podem deixar de existir. E sim, acho que se a auto-estima, o valor próprio, o auto-conceito, a equilibrada e sã noção de si próprio (a), a liberdade e o direito a ser-se quem se é, com tudo de belo, que isso tem; existir, se tudo isso existir e for incutido/ensinado/partilhado desde o berço, há mais probabilidades de não se ter um namoro destes tão feios e doentios que todos sabemos haver….
Pois… é isso!
P.s- E colo aqui uma frase dita há muitos anos, por um menino de um dos meus grupos de Pré-Escolar, o Bernardo. Acho que ele acertou….
“Um namorado é um amigo, mas não normal, diferente… daqueles assim especiais, que gosta tanto, tanto de nós…”