As palavras, como as coisas, também se gastam e a palavra democracia é daquelas que, de tanto uso e abuso, até já se encontra estafada!…
Todos os partidos políticos a usam e a reclamam e alguns até com pretensões emblemáticas de exclusividade.
Para alguns ela soa sempre como qualquer coisa a significar antifascismo. Outros apregoam-na aos quatro ventos, autênticos palradores que «democraticamente» não deixam que mais alguém fale… Esquecem-se que os verdadeiros democratas conhecem-se mais pelas acções do que pelas palavras.
Conhecem-se, igualmente, pelo respeito que manifestam, em todas as circunstâncias, pela opinião dos outros, ainda que seja contrária à sua.
Conhecem-se pelo amor que têm à liberdade e aos direitos fundamentais da pessoa humana.
Os que entendem, de facto, a democracia no seu verdadeiro sentido, são todos aqueles que se interessam e lutam pela Verdade e pela Justiça.
São todos aqueles que estão abertos às sugestões válidas, venham elas de onde vierem, contando que melhor sirvam para se atingir o bem comum que é, no fim de contas, o fim da sociedade perfeita.
Os verdadeiros democratas são todos aqueles que sabem tratar com o devido respeito os que não pertencem ao seu partido.
Os verdadeiros democratas são todos, aqueles que, quando revestidos de poder, sabem prestar contas da sua administração, com toda a lisura e honestidade; são todos aqueles que administram e zelam a «res pública» como coisa própria, esforçando-se por cumprir escrupulosamente todos os seus deveres, no desempenho de suas funções.
Não são venais. Não alimentam qualquer espécie de compadrio, nem protegem os incompetentes, nem advogam os prevaricadores!… Em suma, os verdadeiros democratas vivem e procedem sempre com limpidez de métodos e com honestidade de processos. Tudo o que planeiam ou realizam é diáfano. Por isso, a coragem e o desassombro são, realmente, características suas bem específicas.
Por conseguinte, não é, igualmente, nem pode ser verdadeiro democrata todo aquele que impõe continuamente as suas opiniões como dogmas, aquele que, sistematicamente, recusa ouvir os outros, esse não constrói a democracia.
É apenas democrata de boca, ou seja por fora, porque intrinsecamente, deixem lá passar esta expressão filosófica, ele é outra coisa muito diferente!…
Daí o verificar-se, em não raras situações, muitos condicionamentos, reticências e senões na prática da democracia.
O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico