O cardeal Mario Grech disse hoje ao clero do sul do país que “uma Igreja sinodal é um sinal profético, sobretudo para uma comunidade de nações incapaz de propor um projeto comum, através do qual pretenda o bem de todos”.
Usando uma expressão da constituição Lumen Gentium, o secretário-geral do Sínodo dos Bispos afirmou aos bispos, padres, diáconos e seminaristas das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal — reunidos em Albufeira para quatro dias de atualização sobre o tema “Igreja Sinodal, uma Igreja atenta aos Sinais dos Tempos”— que “praticar a sinodalidade é hoje para a Igreja a forma mais evidente de ser «sacramento universal de salvação»”.
Na reflexão que apresentou sobre o tema “Sinodalidade, Comunhão. Desafio à Igreja, num Mundo complexo e fragmentado”, o cardeal maltez disse “a passagem citada destaca como todos os batizados — inclusive aqueles que se encontram fora da Igreja Católica — têm o direito de participar do intercâmbio sinodal e, juntos, sublinham como a comunhão vivida efetivamente entre os crentes e as Igrejas está ligada à realização da missão da Igreja chamado a ser sacramento de salvação para o mundo e a possibilidade de ser efetivamente reconhecido por toda a humanidade como sinal e instrumento de unidade”.
Para reforçar esta ideia, contrapôs que “sinais de divisão entre cristãos em países já dilacerados pela violência acrescentam mais violência daqueles que deveriam ser um ativo fermento de paz”.

O orador evidenciou que “a sinodalidade tem uma dimensão original universal que não pode ser restringida ou limitada de forma arbitrária, porque isso significaria privar da fala aqueles que, em virtude do batismo, são chamados a testemunhar sua fé e pretendem contribuir para a edificação da Igreja”.
Aquele responsável acrescentou que “o vasto processo iniciado pelo Sínodo sobre a sinodalidade representa, portanto, uma ocasião particularmente propícia para valorizar em toda a sua amplitude da comunhão eclesial, inclusive aquela que vive fora dos limites da Igreja Católica”. “Isso inclui o apelo a aprofundar as relações com outras Igrejas e comunidades cristãs, às quais estamos unidos pelo único Batismo”, sustentou, sublinhando que “o empenho por uma unidade que facilite a aceitação de Jesus Cristo deixa de ser mera diplomacia ou cumprimento forçado, para se transformar num meio essencial de evangelização”.
O cardeal Mario Grech lembrou que “a originalidade do caminho de santidade de cada crente leva a evidenciar particularidades da palavra revelada” e frisou que “o Concílio Vaticano II reconhece que esta dinâmica de acolhimento da Palavra de Deus que inspira a fé e edifica a Igreja não ocorre apenas dentro da Igreja Católica, mas também fora do seu organismo visível”.

O secretário-geral do Sínodo dos Bispos afirmou que “a Igreja Católica professa a sua fé na unidade infalível da Igreja e expressa a sua convicção de que a Igreja de Cristo continuou a existir através dos tempos na Igreja Católica”, “mas reconhece que existe uma realidade eclesial também para além das suas fronteiras”. “Portanto, essas Igrejas e comunidades separadas, embora acreditemos que tenham algumas deficiências, não são de forma alguma despojadas de significado e valor no mistério da salvação”, prosseguiu, certo de que “o Espírito de Cristo não recusa utilizá-las como instrumentos de salvação, cuja força provém da própria plenitude de graça e de verdade confiada à Igreja Católica”.
“Portanto, se existe uma Igreja para além dos limites da Igreja Católica, é evidente o imperativo de superar a condição de separação que impede a Igreja Católica de viver em plena comunhão com as Igrejas e comunidades eclesiais que se formaram ao longo do séculos”, concluiu, acrescentando que “reconhecer a legitimidade de formas plurais de professar a fé e viver a vida cristã não significa que todas as formas sejam, em princípio, sempre legítimas e válidas” e que “nem toda a pluralidade é boa e aceitável na comunidade dos crentes”. “Estes devem estar atentos e garantir que nenhum elemento essencial da tradição da fé se perca e que não seja distorcido o modo como seus elementos se conectam para formar um todo orgânico”, desenvolveu, explicando que “isto significa que os processos sinodais iniciados na Igreja Católica e no encontro com os fiéis de outras Igrejas e comunidades eclesiais são chamados a ser um exercício comum de discernimento, a reconhecer e orientar a profissão de fé e a vida cristã para aquilo que é fundamental e distinguir o que, ao contrário, pertence às formas históricas mutáveis em que a fé foi professada e a vida cristã vivida”.

“O discernimento a que todos os crentes são chamados a participar apresenta-se, como já referimos, como um esforço incessante para encontrar o coração da fé cristã, que funda a unidade da Igreja e permita a liberdade nas diversas formas em que ela se expressa. Mas o discernimento apresenta-se também hoje como necessidade de esclarecer a relação entre Evangelho e cultura, entre o que não muda e o que pode mudar no modo de professar a fé e viver a vida cristã”, referiu, acrescentando que “a discussão sobre questões éticas em curso nas Igrejas e entre Igrejas representa um exemplo eloquente do alcance desse discernimento a ser feito em conjunto e do que está em jogo sobre o modo como a Igreja é chamada a cumprir sua missão no presente”.
O cardeal afirmou que “alguns aspectos turbulentos do processo sinodal” remontam ao “complexo entrelaçamento de Evangelho e cultura”. “Se não há soluções simples para esses obstáculos que ameaçam bloquear o processo sinodal, ao menos podem ser indicados alguns critérios que permitem esperar um resultado positivo. Acima de tudo, é necessário dar-se o tempo necessário para chegar a uma leitura harmoniosa da realidade e desenvolver uma orientação comum”, defendeu, advertindo para a necessidade de “colocar-se em atitude de escuta da palavra de Deus em comum e de disponibilidade à obediência à vontade de Deus, reconhecida através de um discernimento maduro”.
“Igualmente importante é o esforço para superar as barreiras que as linguagens históricas cristalizadas ao longo do tempo criaram e impedem o entendimento mútuo. Por fim, é necessária uma atitude humilde diante de uma verdade que nos supera e a vontade de obedecer ao Senhor, mesmo quando Ele nos pede para abandonar linguagens e formas de pensar que se tornaram habituais para nós e às vezes somos indevidamente tentado a considerar indispensável”, terminou.
Amanhã, o cardeal refletirá sobre os temas “Sinodalidade e Participação. Escutar a Voz de Deus e as vozes do Mundo” e “Sinodalidade e Missão. A Igreja existe para evangelizar”.