A segunda das três formações previstas este ano para os animadores juvenis, promovidas pelo Setor da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve, explicou-lhes como fazer o acompanhamento vocacional, realçando que “o discernimento parte sempre da dimensão do serviço”.

Na iniciativa, que teve lugar ontem à noite no Centro Pastoral e Social da Diocese do Algarve, em Ferragudo, com cerca de 30 daqueles responsáveis e de catequistas do 10º ano de catequese, o padre Samuel Camacho disse-lhes ser “essencial perceber que o discernimento das coisas que vão acontecendo, das motivações, das intenções ou até dos projetos que eles queiram construir e da vocação que eles acham que têm tem de nascer sempre a partir do serviço”. “Eles têm de ser colocados ao serviço, em todo o tipo de serviço”, defendeu, explicando que os jovens precisam “fazer um discernimento a partir dos atos e dos seus comportamentos” e “não só a partir do que eles acham”.
Aquele sacerdote da Diocese do Algarve, que é o assistente do Setor Diocesano da Pastoral Juvenil e o diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral Vocacional, baseou a sua intervenção na exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco, ‘Christus Vivit’ – resultante do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens, que decorreu em outubro de 2018 em Roma – e no manual salesiano na área da pastoral e da pedagogia vocacional, intitulado “Servir as vocações na Igreja”.

Na “vocação de serviço”, o padre Samuel Camacho disse não haver “vocações melhores nem piores”. “Não há vocações mais próximas de Deus e onde temos mais ou menor responsabilidade. A responsabilidade é a mesma, a de sermos santos, e este é o caminho que eles têm de perceber, que a vocação é sempre à santidade, quer sejam padres, freiras, casados ou solteiros. A vocação à santidade leva-nos sempre a ser melhores”, frisou.
O formador disse ser fundamental “que eles compreendam que não testemunham a fé por palavras, mas, muitas vezes, por obras e presença” e apelou ao “sentido de responsabilidade”, alertando que os jovens “têm de perceber que têm responsabilidade e um compromisso” e precisam “compreender que não vivem na satisfação daquilo que a paróquia ou grupo lhes pode dar”.

O sacerdote disse ser preciso “olhar para o cuidado das vocações como uma exigência ética” e “libertar os jovens de um subjetivismo ditador” porque “muitos vivem muito fechados naquilo que é a sua conceção do mundo e do que acham que é a Igreja e a fé” e isso “dita a sua vida” e “o modo de olhar Deus”. “Perceber que eles são livres, buscam uma satisfação, sentir-se bem, mas isso também têm responsabilidades. Não podem olhar para os outros como um meio para se sentirem bem e satisfeitos. Têm de perceber que aqueles que estão com eles estão lá para que eles próprios também se entreguem”, afirmou.
Aquele responsável realçou por isso que “a fé de cada jovem depende da liberdade”. “A fé só tem valor quando é vivida na liberdade. Eu não posso impor nada. A liberdade é a condição essencial para uma relação com Cristo”, alertou, realçando a importância de “passar da imanência à transcendência” e de perceber a importância da oração naquela relação. “Eu não posso reconhecer a ação de Deus se não tenho uma relação com ele”, alertou. Garantindo àqueles educadores que “conseguem conhecer o crescimento espiritual” dos catequizandos “pelo modo como eles proferem orações”, desafio-os a dar aos jovens “protagonismo nas orações” e a garantir que “todos os momentos” do grupo têm sempre um “tempo de oração”.

O sacerdote defendeu, por outro lado, “a necessidade de ligar ao sentimento a dimensão da razão e da compreensão”. “Os nossos jovens têm de se sentir bem, mas têm de compreender aquilo que estão a sentir porque se vamos só pelos sentimentos conseguem tê-los noutro lado qualquer. Não podemos viver uma fé de sentimentos. Isto só tem dado problemas”, completou.
O padre Samuel Camacho desafiou os animadores a conduzi-los num “caminho” com um “projeto específico” que os leve a “sair do esgotamento espiritual” e a “tornar-se protagonistas”. “A nossa vivência de fé e a do jovem é algo muito egoísta. Temos de passar para a solidariedade, para um grupo que vive a caridade. Só a caridade é que faz crescer na fé”, advertiu, considerando necessário “passar do individualismo, de uma fé muito individual para uma esfera de comunhão com Deus e com os outros” e “perceber que têm dons e que têm de os colocar em prática, porque no momento em que deixarem de o fazer há gente que vai sofrer com isso”.

Nessa tentativa de “abrir os jovens ao protagonismo”, explicou ser necessário “fazer uma ponte entre uma motivação que é real e uma motivação que é ideal”. O sacerdote disse aos animadores que, “à medida que forem dando mais confiança e atribuindo mais projetos e protagonismo” aos jovens, as “coisas que fazem” ganharão para eles mais “sentido”.
Nesse sentido, desafiou os responsáveis juvenis à “escuta sábia dos sinais” para “perceber aquilo que é uma motivação autêntica e uma falsa” que, no fundo, é aceite como “obrigação” e considerou que os jovens “têm de fazer um caminho de perceber qual é a motivação da sua vida porque muitos não têm motivação, andam a reagir e têm de encontrar um projeto de vida”,
O padre Samuel Camacho aludiu à importância de “trabalhar a vocação à vida” para, em contracorrente clara com um dos principais pensamentos atuais, fazê-los “perceber que não podem fazer o que quiserem com a vida porque a vida que têm é um dom”. “Saber que foi Deus que nos deu a vida e saber que não somos autores, mas responsáveis por ela”, sustentou, acrescentando que “eles descobrem o seu lugar quando colocam Deus no centro da sua vida”.
Explicou ainda “a necessidade e a preocupação de fazer um acolhimento existencial” para que os jovens “se sintam acolhidos e ouvidos”, o sacerdote aconselhou os animadores a serem “recetores daquilo que são os seus sentimentos e dificuldades”, procurando “escutar com qualidade, sem comentários”. “É essencial, mais do que dar respostas, saber fazer as perguntas”, alertou.
A terceira e última formação de animadores, orientada pelo padre Luís Rafael, da Diocese de Lamego, terá lugar no dia 6 de julho, “mais vocacionada para a integração dos jovens na comunidade e mais adaptada à comunicação” com eles.