«Não há árvore boa que dê fruto que não presta, nem árvore que não presta que dê bom fruto. De facto, cada árvore se conhece pelo seu fruto» (Lc 6, 43-44a).
No próximo Domingo, esta Palavra será escutada na Eucaristia, quando se proclamar o Evangelho. Parecem-nos palavras simples, constatações óbvias feitas por Jesus, mas, há aqui uma provocação profunda dirigida aos ouvintes, que está ligada à coerência de vida.
Num mundo e numa sociedade encharcados em favores, compadrios, corrupção e violência de vários tipos, torna-se importante reflectir sobre a coerência da nossa vida. A fé que professamos tem um impacto real na nossa vida, ou trata-se apenas de uma maquilhagem para sermos socialmente aceites em determinados círculos de pessoas?
Há coerência entre aquilo que defendemos para uma vida familiar harmoniosa e pacífica, e a nossa conduta quotidiana junto de pais, irmãos, marido ou esposa? Há coerência entre o que defendemos como essencial num profissional do ramo onde trabalhamos e aquela que é a nossa postura e profissionalismo? Ou há distância entre uma coisa e outra?
Resumindo, dizemos ou defendemos uma coisa, mas fazemos outra? Ou vivemos de forma coerente com as nossas ideias, com os outros e com a nossa fé?
Vivemos tempos que nos provocam, incomodam e convidam a embarcar com a maioria rumo a uma estação desconhecida, e possivelmente, vazia de sentido. A coerência está na postura a adoptar perante tais situações. Assim, vamos na onda, ou pensamos de forma diferente e somos capazes de tomar uma decisão contrária, mas em consonância com aquilo que habita o nosso coração?
Ser sempre coerente é extremamente difícil. Talvez ninguém seja. Por vezes é incómodo, doloroso e o medo também espreita. Facilmente deixamos de lado as nossas convicções profundas, porque, perante situações pessoais ou profissionais, fazemos vontades alheias com medo de penalizações futuras.
O desafio é sermos nós próprios em tudo o que realizamos e somos, agindo de acordo com os nossos valores e princípios. Somos solicitados a dar tudo e a darmo-nos por inteiro. Então, tal como refere o Evangelho, «dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante» (Lc 6, 38a). A quem der tudo, também tudo lhe será dado.
A congruência da nossa vida está intimamente ligada ao amor que colocamos naquilo que fazemos, e ao amor que dispensamos aos outros e às causas que abraçamos.
A nossa coerência é medida pelo amor com que vivemos.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia