Na última edição dos encontros ‘Algarve Rumo ao 23’ que se realizou no passado dia 23 de setembro, o cónego Carlos de Aquino alertou os jovens algarvios para o perigo “fast-food religioso”.

“Hoje consumimos mais do que consumamos. Consumimos as coisas, mas não as consumamos, não as trazemos ao coração, não transformamos a vida”, lamentou o sacerdote no encontro de preparação para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em 2023, em Lisboa.

A iniciativa do Comité Organizador Diocesano (COD) em colaboração com o Setor da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve, que teve lugar à noite na igreja de Almancil, contou com cerca de uma centena de jovens de vários pontos do Algarve.
Estes encontros em cada dia 23 realizam-se com programação sempre diferente e alternadamente em cada uma das quatro vigararias que compõe a diocese algarvia, mas destinam-se a jovens de todo o Algarve e não apenas aos das paróquias que constituem a vigararia onde eles acontecem.

No encontro, que teve início com o acolhimento, seguindo-se uma dinâmica de grupos para os participantes se conhecerem melhor e terminou com a celebração da eucaristia, o cónego Carlos de Aquino alertou também para a “fragilidade” até da “própria comunicação” dos cristãos. “Falamos tanto durante o dia, dizemos tantas palavras, mas vale a pena cada um de nós perguntar-se em quantas palavras ditas nos revelamos. Dizemo-nos nas palavras que dizemos? E dizemos Deus nas palavras que dizemos?”, questionou.
O sacerdote desafiou ainda os jovens a serem “homens e mulheres da Palavra”. “Aquilo que nos é pedido não é sermos doutores no conhecimento da Sagrada Escritura. É que essa Palavra da Escritura, que para nós é Cristo, nos possa verdadeiramente transformar, tocar a nossa vida, mudar-nos por dentro”, explicou.
“A Palavra de Deus está convosco? Quando escutais a Palavra de Deus arde o vosso coração? A Palavra de Deus conta alguma coisa para os nossos sonhos, projetos, ambições?”, interrogou, apontando alguns “aspetos para valorizar a Palavra”. Nesse sentido, exortou os jovens a “olhar para a Palavra como acontecimento”. “Deus fala, não está mudo, não desistiu de mim, ama-me, conta comigo. Tenham esta certeza”, pediu, desafiando-os a aprender a “crescer nesta escuta”. “Aprender a escutar a Palavra e perguntar o que é que diz à minha vida”, completou, lembrando que para “saber escutar” precisam “gastar tempo, silenciar, parar”.
O orador afirmou ainda que “a Igreja e o mundo de hoje não precisam de jovens cristãos hipócritas”. “Precisamos urgentemente de profetas”, considerou.


Na eucaristia, que encerrou o encontro, um dos assistentes do Setor Diocesano da Pastoral Juvenil, também desafiou os jovens a comprometerem-se verdadeiramente com Cristo. “Podemos ser doutores em Cristianismo sem sermos cristãos”, alertou o padre Nelson Rodrigues, reforçando o apelo do cónego Carlos de Aquino. Neste sentido, desafiou também os jovens a anunciar Jesus aos que não são cristãos e a serem autónomos no crescimento como cristãos. “Ao iniciarem o ano pastoral nas vossas paróquias não estejam à espera de fazer simplesmente aquilo que os vossos catequistas e animadores vos apresentam como itinerários. Sejam audazes, valentes, tomem iniciativa. Criem hábito da oração de manhã, de abrir a Bíblia para recolher a palavra que o Senhor vos quer dar naquele dia, de ter gestos de caridade, de visitar o vosso familiar mais velho que não visitam há muito tempo”, pediu.


O bispo do Algarve, que também esteve presente, deixou aos participantes “uma palavra de estímulo e exortação”. “Contamos todos (a diocese, os párocos) convosco não apenas para dinamizar os vossos colegas, jovens, mas também as nossas comunidades porque a JMJ não é apenas para os jovens. É para a Igreja toda, pela presença do Papa. E queremos que a nossa diocese seja envolvida, dinamizada por vós, de modo que a nossa fé fique mais viva e mais robusta na pessoa de Cristo”, pediu D. Manuel Quintas, lembrando que o “modelo deste percurso” é a Virgem Maria.

Os encontros ‘Rumo ao 23’, que decorrem no dia 23 de cada mês em todas as dioceses portuguesas por desafio do Comité Organizador Local (COL) da JMJ.
