O vigário episcopal para a Pastoral da Diocese do Algarve elencou o conjunto de pressupostos que “são fundamentais para se compreender o porquê” da sua “nova organização da pastoral paroquial em chave missionária”.
Na apresentação do projeto que fez na assembleia diocesana anual da Liga Intensificadora da Ação Missionária do Algarve, no passado dia 15 de janeiro no Seminário de Faro, o padre António de Freitas visa “responder às mudanças profundas” demográficas da diocese. “O Algarve nos últimos 60 anos, se calhar, duplicou a população. Aqueles lugares que eram mais populosos habitualmente no barrocal e no interior tornaram-se menos populosos e a densidade populacional está mais concentrada no litoral”, afirmou, lembrando que há 60 anos Albufeira, Lagoa, Olhão, Quarteira e Vila Real não eram cidades. “Albufeira, há 60 ou 70 anos, tinha 7 ou 8 mil habitantes. Hoje tem 40 mil e continua a ter só um padre”, evidenciou.
“Futuramente vamos ser menos padres e este projeto depende muito da força dos leigos. O que acontecerá futuramente é que terão de ser muitas vezes os leigos e os diáconos permanentes a assumir a dinamização das comunidades e, porventura, as paróquias com mais gente a assistir as paróquias mais pequenas e mais rurais. Nós [padres] já não somos o mesmo número e as paróquias não diminuíram. E quando se fala de colaborar não se trata só de disponibilizar leigos, mas ter a capacidade de partilhar o pároco”, desenvolveu.
Nesse sentido, admitiu que os padres possam passar a ser itinerantes “como eram no princípio da Igreja”. “Sermos mais animadores que passam pela comunidade e promover essa capacidade dos leigos de orientar e dinamizar. Isto não significa ser comunidade sem presbítero. Vamos dedicar-nos àquilo que, no fundo, é a nossa grande missão: acompanhar as comunidades, celebrar a Eucaristia, a reconciliação, dedicar-nos também um pouco mais a vida espiritual”, prognosticou.
O sacerdote constatou assim que a reorganização procura “privilegiar a corresponsabilidade batismal dos leigos”. “Na resposta àquilo que o Concílio Vaticano II falou sobre a importância de corresponsabilizar os leigos, em muitas comunidades continuamos a ter ainda um grupo residual de leigos que estão mais empenhados na corresponsabilidade. E isto, às vezes, não é só por culpa dos padres, mas dos próprios leigos”, considerou.

“Temos de assumir um novo paradigma pastoral no ser e no agir também do presbitério”, acrescentou, afirmando que “é importante a mentalidade dos leigos mudar, mas também a dos padres”. “E isto faz-se ajudando-nos uns aos outros. Muitas vezes, nós, os padres, precisamos de ser ajudados a compreender que as coisas mudam e que podemos também abrir-nos a novas formas de ser e de estar como Igreja”, complementou.
Aquele responsável considerou, assim, ser indispensável “abrir-se à novidade do Espírito”. “Do ponto de vista da fé, este é sempre o ponto de partida”, lembrou, acrescentando: “quando temos de pensar uma nova forma de ser Igreja e de ser paróquia, de como nos abrimos a outras comunidades, ou partimos da abertura ao Espírito de Deus ou então vamos sempre encontrar obstáculos e dificuldades”, advertiu.
O vigário episcopal para a Pastoral da diocese algarvia disse ainda que o projeto visa “construir a comunhão e a sinodalidade”, “a comunhão dentro da paróquia e a comunhão com as outras paróquias”. “Falta encontrarmo-nos para nos conhecermos e não só para programarmos coisas. É impossível criar comunhão e fraternidade se não soubermos quem somos”, alertou.
O padre António de Freitas disse que a nova organização “tem em perspetiva o futuro, não da manutenção”, mas a abertura à “missão da Igreja que é atrair sempre mais pessoas para Cristo”. “Abrirmo-nos à novidade para que outros se possam sentir atraídos por Cristo e abrirem-se à salvação que o Senhor quer oferecer a todos”, sustentou, considerando que “só fazer a manutenção significa ir definhando”.
“Este projeto só pode ir por diante se percebermos que a mudança está, antes de mais, em cada um de nós e em cada uma das nossas paróquias. Porque é fácil, eventualmente, desejar que as outras paróquias mudem sem se tocar na nossa”, continuou, realçando a importância da “conversão pastoral”, mas também da “conversão pessoal”. “Conversão pastoral implica olharmos para as nossas comunidades e perceber o que é que nelas precisa mudar para responderem aos desafios da evangelização hoje. A conversão pessoal, o que é que eu também preciso de mudar em mim para estar aberto àquilo que o Espírito de Deus me pede e para que eu seja um contributo, ou seja, parte construtiva desta necessária mudança”, desenvolveu.
A “nova organização da pastoral paroquial em chave missionária” tinha sido anunciada pela diocese em julho do ano passado como uma proposta que “incide numa nova organização territorial/paroquial”, “não pelo território em si mesmo, mas tendo presente a nova realidade das comunidades cristãs, as suas proximidades eclesiais, sociológicas e territoriais, a promoção de um dinamismo a partir dos leigos dessas comunidades e numa nova perspetiva do exercício do ministério ordenado, particularmente o presbiteral”.
O projeto de reorganização da estrutura pastoral territorial da diocese sugeriu que passasse a estar organizada em três grandes regiões pastorais — Região Pastoral do Barlavento, Região Pastoral do Centro e Região Pastoral do Sotavento —, cada uma com um coordenador pastoral, um sacerdote nomeado pelo bispo diocesano, designado como vigário episcopal regional, “de modo a permitir não só um trabalho pastoral conjunto, como a coordenação e partilha de recursos evangelizadores (pessoas, formação, meios, etc.) nos diferentes Centros Evangelizadores” que existirão dentro de cada região, “compostos por comunidades paroquiais mais próximas e entre as quais haja uma ligação sociológica, com a finalidade de potenciar um caminho pastoral sinodal entre elas”.
A Região Pastoral do Barlavento é a região piloto na concretização desta proposta e as outras duas regiões estão a implementá-lo a um ritmo diferente.
Diocese do Algarve vai implementar uma “nova organização da pastoral paroquial”