© Samuel Mendonça
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A associação “Leigos para o Desenvolvimento”, uma ONGD (Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento) católica ligada aos jesuítas, com 27 anos de vida, veio ao Algarve dar-se a conhecer e angariar voluntários.

A organização, vocacionada para missões de longa duração (de um ano ou mais), promoveu ontem à noite, na Escola da Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve, uma sessão de apresentação para cerca de 80 pessoas, a maioria jovens e estudantes do Curso de Educação Social.

A responsável pela área de comunicação e formação externa explicou que a missão daquela associação, com projetos neste momento em Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Portugal, é “promover o desenvolvimento integral e integrado de pessoas e comunidades”. “Antes de irmos para o terreno, fazemos um diagnóstico para percebermos onde é que poderemos ser uma mais-valia e, a partir daí, entramos em ação e depois deixamos os projetos a quem, verdadeiramente, precisa deles”, sustentou Cláudia Rocha, que deu como exemplo a construção de uma escola. “A melhor escola de São Tomé e Príncipe nasceu com os ‘Leigos para o Desenvolvimento’ e agora é autónoma”, frisou.

Aquela responsável referiu-se a um “trabalho de parceria, de participação comunitária”, que “mobiliza os recursos e as capacidades endógenas”, realizado numa “perspetiva de sustentabilidade”. “Só aquilo que interessa, verdadeiramente, às pessoas é que se faz. Estimulamos muito a auto-organização entre as pessoas. O nosso trabalho é sempre de retaguarda e de capacitação”, destacou, garantindo não haver a “transposição de um modelo ocidental para uma outra realidade”. “Aquilo que sabemos fazer, colocamos ao serviço numa perspetiva de diálogo”, complementou.

Cláudia Rocha, que sublinhou a “identidade cristã” e o “espírito de serviço” como “valores” da organização, referiu-se a alguns dos projetos em curso que incluem a construção de 12 escolas e explicou que a associação tem, presentemente, 16 voluntários no terreno, oito dos quais partiram este ano, enquanto os restantes estão já no segundo ano de missão.

Para além dos projetos sociais, a organização católica trabalha sempre em projetos pastorais e faz ainda a promoção do voluntariado. “Assumimos o voluntariado como uma forma de estar na vida e como uma escola de cidadania. O que trazemos para Portugal são cidadãos com uma outra escola de cidadania, com outro conceito de desenvolvimento e com um novo olhar para o outro”, sustentou.

© Samuel Mendonça
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A apresentação de ontem contou ainda com o testemunho de uma voluntária da associação. Edite, educadora social, esteve em Benguela (Angola) em 2004/2005, e advertiu que “o maior dos erros é nada fazer por se achar que pouco pode ser feito”. “Um ano muda alguma coisa na vida daquelas pessoas? Quando ia no avião pensava: «o que é que eu vou fazer? Não vou mudar nada!» Mas quando vinha de regresso a Portugal, um ano depois, pensei: «como foi possível mudar tanta coisa num ano?»”, afirmou, dando como exemplo um projeto realizado num bairro “muito, muito pobre” que na altura não tinha água. “Eu sai de lá há 10 anos e o projeto continua a andar. Isto é desenvolvimento!”, exclamou.

A missionária, que sublinhou a capacidade da Igreja Católica de se substituir aos Estados locais, assegurando melhores condições de vida às populações, lançou um desafio: “coloquem os vossos saberes ao dispor das outras pessoas porque o que vão receber em troca é bastante importante”. “Partimos porque não se pode ver o mundo só com os olhos. É preciso vê-lo também com o coração e vê-lo com o coração é estar atento ao outro”, acrescentou.

Edite deixou claro que “a componente espiritual é muito importante” nos “Leigos para o Desenvolvimento”. “Estava bastante desligada da Igreja na altura em que conheci a organização e foi um renascer. E a fé é algo de importante, pelo menos para mim”, reconheceu, explicando que o candidato a missionário escolhe, durante o acompanhamento realizado por sacerdotes jesuítas, se esta dimensão “faz sentido ou não e se quer continuar ou não”.

A formação obrigatória dos candidatos, iniciada nesta altura do ano, decorre durante nove meses num dos centros de formação quinzenal que funcionam em Lisboa (segundas-feiras), no Porto (sextas-feiras) e em Coimbra (terças-feiras) e incide “muito ao nível do desenvolvimento individual e comunitário”. Existe mesmo um perfil definido de candidato que deverá ter “entre 21 e 40 anos, formação superior, espírito de equipa e estar disponível para uma vida de simplicidade e serviço e para viver em comunidade”.

A associação “Leigos para o Desenvolvimento” trabalha em colaboração com os governos locais e tem o apoio de benfeitores (pessoas que financiam bolsas para os missionários) e de financiadores como o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, a Fundação Calouste Gulbenkian ou o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural para determinados projetos.