
Quantas vezes, ao longo das nossas vidas, não escutamos esta pergunta: afinal onde está Deus? Onde está Ele nos momentos difíceis, marcados por doenças e por desgraças, pela ausência de emprego, pela impossibilidade de cumprir sonhos e projetos que sempre desejamos para nós e para as nossas famílias?
A verdade é que «Deus não é indiferente; importa-Lhe a humanidade! Deus não a abandona![1]», como nos dizia o Papa Francisco. E por isso, caros irmãos, a resposta é muito simples: Ele está em nós e onde nós quisermos que Ele esteja.
É esse o desafio que temos de enfrentar todos os dias e que nos deve obrigar a uma reflexão individual e coletiva sobre o nosso sentido de participação e de envolvimento em relação a todos os âmbitos da vida humana: ao nível social, ao nível solidário, na política, na preservação do planeta, no relacionamento direto com os outros.
Olhemos para Maria: desde o primeiro momento ela agiu. Disse sim, aceitou a sua missão e tudo fez para que ela se cumprisse: educou Jesus, amou-O, protegeu-O. Esteve presente. A sua humildade, o seu afeto foram sinais de fortaleza e foram essas as virtudes que lhe permitiram trazer ao mundo o Filho de Deus.
Olhemos igualmente para José, seu esposo: também ele agiu, aceitando que a sua colaboração seria importante para o projecto do Pai.
Os gestos simples da família de Jesus foram decisivos para que a Salvação se tornasse real e concreta para todos nós. Sem medo, sem preconceitos, sem comodismos, porque o caminho traçado não era fácil. Mas foi vencido. E Deus fez-se presente no meio da Humanidade.
Tudo isto, porque Maria e José não foram indiferentes.
É este exemplo que, neste Natal, gostaria de sublinhar, de deixar bem presente em cada um de nós. Somos tantas vezes desinteressados em relação ao que acontece ao nosso lado e a indiferença impede-nos de agir, de ter uma palavra de compreensão com o nosso irmão, um gesto de ajuda com o pai, com a mãe, os filhos ou os avós; impede-nos de aceitar que a missão fundamental de cada cristão é a construção de um mundo melhor, a construção do bem de todos, como forma de nos prepararmos para o encontro final e definitivo com o Pai. Não queremos comunidades sem ação, cristãos quietos e silenciosos, famílias pouco empenhadas: queremos gente que tem ideias e as põe em prática, em atividades de solidariedade, de proteção da natureza, de envolvimento intergeracional e familiar, de promoção da cultura. Gente que mostra que viver em família é construir a alegria através da partilha, da compreensão e da solidariedade. Gente que reage, que recusa a resignação e responde com generosidade a todos os desafios e problemas! Queremos uma Igreja viva, que, desafiada pelo exemplo de Maria e de José, quer SER – ser construtora, ser testemunha, ser humana de verdade! Uma Igreja onde Ele vive em nós e está onde nós queremos que Ele esteja.
E então, será sempre Natal, porque concederemos «espaço à imaginação da misericórdia», dando «vida a tantas novas obras, fruto da graça», como nos diz o Papa[2]! Jesus nascerá todos os dias, porque nós o tornaremos presente nas nossas vidas a cada momento: quando escutamos a Sua palavra, quando nos relacionamos com os outros, na Eucaristia. E irá onde cada um de nós o levar! Sentir-nos-emos em harmonia com todos, vivendo ao longo do ano o espírito de família e desenvolvendo a disposição de nos abrirmos ao próximo com verdadeira fraternidade, tal como Deus se abre com o seu amor a cada um de nós, dando-nos o seu Filho.
É este o meu desejo para todos: Que o espírito de Natal seja vivido ao longo de todo o ano e que nos leve a revelar Jesus aos outros, enchendo as nossas cidades, as nossas famílias, os nossos corações de luz!
Um Santo e Feliz Natal!
[1] Francisco (2016). “Vence a Indiferença e Conquista a Paz”, Mensagem do Santo Padre Francisco para a Celebração do XLIX Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro de 2016. Vaticano, no dia da Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria e da Abertura do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, 8 de dezembro de 2016. http://m.vatican.va/content/francescomobile/pt/messages/peace/documents/papa-francesco_20151208_messaggio-xlix-giornata-mondiale-pace-2016.html#&ui-state=dialog (consultado a 04/12/2016).
[2] Twitt do Papa Francisco: 14/12/2016 (https://twitter.com/pontifex_pt): «É o momento de dar espaço à imaginação da misericórdia para dar vida a tantas novas obras, fruto da graça».