
A Associação de Moradores da ilha da Culatra, na ria Formosa e pertencente ao concelho de Faro, assinalou na quarta-feira o 30.º aniversário, comemorando o espírito de luta coletivo que caracteriza esta comunidade piscatória algarvia, disse a sua presidente.
A presidente da Associação de Moradores da Ilha da Culatra (AMIC), Sílvia Padinha falou à agência Lusa sobre as comemorações marcadas para hoje e fez um “balanço positivo” da atividade realizada ao longo destes 30 anos, sempre marcada, frisou, “por um espírito reivindicativo que começou a 19 de julho de 1987, com um boicote a umas eleições autárquicas quando começaram as primeiras notícias sobre demolições”.
“Ao longo destes 30 anos foi mesmo partir pedra, porque nós não tínhamos nada, nem luz elétrica, nem água potável, nem ruas pavimentadas, nem uma recolha de lixo em condições. Era uma comunidade que estava esquecida, não havia na Culatra quem exercesse um poder mais forte junto dos políticos para manifestar estas dificuldades”, contou Sílvia Padinha.
A presidente da AMIC recordou o nascimento da associação e a sua criação por “um grupo de amigos que acabaram por, de uma forma mais organizada, começar a lutar pelo mais básico, que não existia” na Culatra. A ilha, observou, pertence ao concelho de Faro, mas está mais perto de Olhão.
“E estamos numa situação de dificuldade por causa da ria, que separa a ilha do continente”, acrescentou, referindo-se a uma situação geográfica que implica “isolamento”.
Questionada sobre quais as lutas mais urgentes para a população da Culatra – onde, segundo a associação, vivem “400 famílias em permanência” -, Sílvia Padinha respondeu que o caminho se faz caminhando e que “foi possível ao longo destes 30 anos, que não é muito tempo”, passar do “oito ao oitenta” ao nível de melhores condições e infraestruturas.
“Mas diria que é necessário rever as áreas de pesca retiradas para aquicultura em mar aberto. Trata-se de uma área de seis por três quilómetros, mesmo à porta de casa, que está interditada à pesca, e temos 70 embarcações de pesca artesanal e seis de pesca costeira, só na comunidade piscatória da culatra”, apontou.
Esta zona do projeto-piloto de aquacultura em ‘offshore’ da Culatra é, segundo a presidente da AMIC, um “projeto falhado, que não cria postos de trabalho nem traz rentabilidade para o país, está praticamente abandonada” e “limita a atividade piscatória e cria conflitos”.
Os pescadores têm a atividade interditada nessa zona, que sempre foi uma área tradicional de faina.
No que se refere às comemorações, que se iniciam às 20:00 e se prolongam até de madrugada, Sílvia Padinha destacou a cerimónia de adoção de uma pradaria marinha junto à ilha, que fica em zona de seca na maré baixa e onde durante muitos anos esteve um cemitério de embarcações que danificou o fundo marinho.
Esta adoção é feita em parceria com o Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve e vai permitir recuperar essa zona de pradaria marinha, composta por seba e sebarrinha, que “serve para abrigo e alimentação de muitas espécies, como o choco”, exemplificou.
Sílvia Padinha disse ainda que vai ser assinado um protocolo com a Polícia Marítima para a abertura de um posto na ilha, que irá facilitara resolução de questões administrativas e “é importante em termos de segurança”.