A oração, promovida pelo Cabido da catedral de Faro em cada domingo do presente tempo da Quaresma, ficou ontem marcada pelos testemunhos dos membros do Caminho Neocatecumenal que a orientaram.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O casal Fausto e Lúcia, casados há 15 anos, com seis filhos e oriundo de Portimão, conheceu aquele itinerário de formação cristã de formas distintas. O marido teve contacto com o Caminho Neocatecumenal desde a infância, através da mãe, enquanto a esposa só o conheceu quando começaram a namorar. Os cônjuges contaram que a pertença àquele itinerário os tem ajudado a “viver o matrimónio como sacramento, como sinal da presença de Deus, como sinal de que Cristo é quem sustenta” a realidade matrimonial.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A “abertura ao dom dos filhos” foi outros dos aspetos destacado no testemunho. “Se no dia do meu matrimónio disse que estava disponível para aceitar os filhos como um dom de Deus, o Senhor tem-me permitido, com falhas, dificuldades, sofrimento e incertezas, poder estar disponível a aceitar os filhos como um presente”, afirmou o marido.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A esposa reconheceu que a ideia de ter muitos filhos a “assustava” “porque aos olhos do mundo uma mulher com muitos filhos é uma mulher que vive anulada” e “até questionava a dignidade destas mulheres que viviam para ter filhos”. “Vejo como o facto de vivermos o nosso matrimónio numa comunidade me tem permitido também viver esta abertura à vida. Não é possível viver aberta à vida e ao dom dos filhos sem uma comunidade por trás que me sustenta”, afirmou, acrescentando ter “descoberto que a dignidade de uma mulher é muito, muito, mas muito mais do que ter uma carreira bem-sucedida ou ser perfeita no seu emprego ou na sua maternidade”.

O casal, que destacou também o valor da oração da comunidade em situações de maior dificuldade, considerou ainda que tem descoberto neste caminho a “importância de transmitir a fé aos filhos”. “Temos descoberto que a maior herança que podemos deixar aos nossos filhos é a fé porque um dia, se tiverem fé, terão esperança”, justificaram, acrescentando também a dimensão do perdão.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O casal João e Ester, com quatro filhos, em missão em Vila Real de Santo António, que se conheceu na mesma comunidade do Caminho Neocatecumenal, afirmou que através dele Deus o conduziu a um “encontro pessoal com Cristo”. “Experimentei que esta iniciação cristã aos poucos me foi reconstruindo como mulher, com pessoa, para encontrar a minha vocação que era o matrimónio”, acrescentou a esposa, que explicou ainda a motivação da missão do casal. “Em agradecimento ao que o Senhor fez na minha vida e na vida do meu marido, disponibilizámo-nos para ir em missão e aqui estamos no Algarve”, esclareceu.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Já os jovens Andreia e Francisco, ambos nascidos em famílias pertencentes ao Caminho Necatecumenal, sublinharam que aquele itinerário os ajudou ao longo da vida. “O Caminho ao longo deste tempo todo tem-me ajudado nas minhas fraquezas e debilidades”, afirmou Andreia. “Vejo como isto me ajudou, principalmente a conhecer melhor o que Deus faz na minha vida e conhecer-me melhor a mim. Vejo como a palavra da comunidade me ajuda muito no dia a dia, seja na escola, seja em família com os meus irmãos e com os meus pais”, declarou Francisco.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O responsável pelo Caminho Neocatecumenal no Algarve afirmou que a criação deste, que teve como iniciadores Kiko Argüello e a falecida Carmen Hernández, foi inspirada pelo Concílio Vaticano II. Jorge Humberto Ricardo lembrou que o encontro entre os dois ocorreu no bairro de barracas de Palomeras Altas, em Madrid, hoje inexistente. “Carmen tinha outros pensamentos, queria ir como missionária para a Bolívia. Kiko também tinha outras ideias, mas num momento de grande crise existencial refletiu numa palavra que João XXIII disse — «A Igreja renovar-se-á por meio dos pobres» —, foi viver para o meio dos pobres e descobre a presença do Senhor”, relembrou, considerando que o Espírito Santo suscitou ali a primeira comunidade, fazendo surgir aquele carisma no seio da Igreja.

Aquele responsável lembrou que o Caminho Neocatecumenal é reconhecido pela Santa Sé “como um itinerário catecumenal” que permite “uma redescoberta” do batismo, um “neo (novo) catecumenado”, mas também “serve para aqueles que não são batizados poderem também iniciar este caminho e depois, mais tarde, virem a ser batizados”.

Jorge Ricardo disse ainda que para além da família missionária que apresentou o seu testemunho naquela celebração existe outra em missão em Vila Real de Santo António proveniente do Chile.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O chantre do Cabido da catedral, o cónego Carlos de Aquino, que presidiu à celebração, exortou os presentes “a não viverem na mundanidade, numa duplicidade de vida” e a continuarem a “deixar que a salvação aconteça” nas suas vidas porque “o mundo precisa de santos, dos filhos de Deus, dos cristãos”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Na celebração rezou-se pelo Papa, pelo bispo do Algarve, pelos padres, pelos seminaristas e seminário, pelos governos, “pelos que sofrem, pelos que estão desanimados, pelos que estão abandonados, pelos pobres, pelos que estão no desespero, pelas paróquias algarvias e pelas comunidades neocatecumenais”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O Caminho Neocatecumenal chegou a Portugal por volta de 1969, quando Kiko Argüello foi viver para a Penha de França, no Patriarcado de Lisboa, e, atualmente, conta com mais de 300 comunidades espalhadas pelas dioceses portuguesas.