Às vezes assim do nada, há gestos tão simples que plasmam a generosidade de alguém, num zoom que a aumenta a 300% e a torna impossível de não se ver.

Sei que ela é assim e hoje, escrevo para ela. Fui alvo de um desses gestos, despudorados, instintivos. Recorri aos seus serviços numa aflição, fundada ou infundada, mas sentida. E foi instintiva, rápida, perspicaz. Penso que percebeu, pela minha voz, o tom da preocupação. Por este instinto que tem, acho que está tão bem onde está, num emprego onde lida com o público, diariamente e onde tem que gerir necessidades e urgências. É que a formalidade existe e tem de ser, o distanciamento polido, defende e acautela, mas depois há o instinto. Aquele feeling que, de repente, faz perceber que, em alguns momentos, aquelas coisas têm de se ultrapassar, não as descurando, mas fazendo priorizar a necessidade do outro, mesmo que numa logística que nem sempre é fácil de gerir. E sei que, tendo sido eu alvo rápido de um desses momentos, ela faz isto genuinamente e tão bem e com muita gente. É conhecida por isso. E continuo a achar que não é forçado, é natural nela. E por isso lhe agradeço e penso: marco este gesto com o quê? Uma caixa de bombons? Uma flor? Uma prendinha qualquer? Não teria mal nenhum, muita gente o faz. O que importa será sempre o gesto, a intenção. Mas ao mesmo tempo, a caixa de bombons, a flor ou a prenda, tudo me pareceu comum demais. Mesmo quando são atenções para ela, que resultam de gestos seus, genuínos.

E então, correndo o risco de ser tonta, de me acharem pretensiosa, ou de isto ser um disparate, optei por fazer eternizar, para a esfera do virtual que não passará e perdurará, estas palavras para ela. Que ficarão para sempre.

E sim, hoje foi de empatia, generosidade e intuição que falei. Nada de novo, não? O que interpela, é sempre o espanto bom que nos provocam estes gestos. Um espanto daqueles, que temos de gritar aos quatro ventos, ou fazer perdurar, pela força do que fica escrito, do que se lê, relê, ou recorda.

Um obrigada para ela e digo-lhe, também, em jeito de post scriptum, que é abençoada por ser assim. É que estas coisas podem aprender-se, claro que sim, mas acredito que o maior volume delas próprias já está no ADN.