
Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado da Agra de Freimas. Provavelmente estarão a pensar já: prontos, este padre brincalhão está a preparar alguma das suas!…. Outros, no entanto, já terão identificado uma das mais representativas personagens Camilianas, um fidalgo transmontano que, depois de eleito deputado, vai viver para Lisboa e ai se deixa corromper pelo luxo, pela riqueza, pelas aparências, pelo jogo político que se jogava nos salões de então, onde se moviam influências e se corrompia ativa e passivamente quem tinha algum poder de decisão. Calisto, nas mãos do seu autor, Camilo Castelo Branco, é uma metáfora do Portugal de então, dividido entre a política miguelista (e de oposição) e a do partido liberal, no governo, uma nação separada por duas visões distintas do mundo e da sociedade.
Não, não pretendo dizer que as obras e análises de Camilo continuam atuais e que o Portugal de hoje, onde tanto se fala de ideais (ainda agora celebrámos o 25 de abril), continua a ser o Portugal de antanho, com as mesmas virtudes e defeitos. Nada disso! Mas é livre de o fazer quem assim o entender…
Todavia, a proposta camiliana do personagem Calisto assenta na perfeição à presidente brasileira, ou melhor, aos presidentes brasileiros, Dilma Russef e Lula da Silva.
Chegaram ao poder congregando uma vasta nação, com milhões e milhões de eleitores e trouxeram, na verdade, mudanças na forma como se via o Brasil e como este se afirmava externamente. A economia desta nação, que é um verdadeiro portento no que toca às suas potencialidades, cresceu e deu uma sustentabilidade que permitiu o surgimento de uma classe média, num país onde eram vincados os extremos da cadeia económica. Durante vários anos, a imagem que transmitiram foi a de dirigentes de origens humildes, com passado ligado à contestação da ditadura e sempre ligados aos movimentos populares, como o movimento dos sem terra.
Adquirido o poder, exercidos os cargos, terão saído ganhadores, também nesta história da vida real, o jogo político, os interesses que corrompem e a vontade de acumular poder e riqueza. O escândalo “lava jato”, o impeachment, todas as declarações infelizes e atitudes menos corretas de ambos os presidentes brasileiros, legarão à nação mais uma imagem menos positiva dos seus dirigentes. E o povo, que tem uma enorme sede de acreditar em “redentores” (alguns, das mais fantásticas origens, desde o Tiradentes, ao Lampião, o Zumbi de Palmares, passando pela Princesa Isabel e Ayrton Senna), está mais uma vez dividido e, maioritariamente, com a sensação de ter sido traído.
O que resta a Lula e a Dilma?!… A certeza da queda…. De anjos?!…. Não sei, pois assiste-me uma dúvida metódica em relação a tudo o que à política diz respeito e ao estado inicial de inocência de quem nela se envolve. Mas acredito que será uma queda final e determinante, que os impedirá de novamente levantar voo e estender as asas, ficando para sempre na sombra de uma triste história, que os fará recordar como mais uns que sucumbiram à tentação de viver para si e não para o bem comum.