A Igreja do Algarve vai viver amanhã, 19 de março, a celebração da primeira profissão religiosa de uma irmã das Dominicanas de Santa Catarina de Sena que esteve a fazer o postulantado na comunidade algarvia daquela congregação, sedeada em Paderne.
Natural de Cabinda, Angola, a irmã Madalena Ester Muaca conta ao Folha do Domingo que nasceu e cresceu num “ambiente familiar muito cristão”. “A minha mãe tem uma devoção mariana muito profunda. Antes de dormir rezávamos o terço, liamos a Bíblia e tive a oportunidade de conhecer a Deus muito de perto”, testemunha a religiosa que é neta de D. Eduardo André Muaca, falecido em 2002, antigo arcebispo de Luanda e o primeiro padre oriundo de Angola a receber o grau do episcopado no sacramento da Ordem.
“Nesse ambiente também surgiu a interpelação de me consagrar totalmente a Deus”, lembra a irmã Madalena Muaca, acrescentando que, com o rebentar da guerra em Angola, teve de fugir, sendo acolhida num internato de religiosas. Essa experiência diz ter sido igualmente determinante para querer seguir a vida consagrada. “Cativou-me bastante para me consagrar como mulher de Deus”, refere.
Mais tarde soube das irmãs dominicanas através do seu bispo em Cabinda que conhecia algumas religiosas daquela congregação que tinham feito missões em Angola. “O nosso bispo, já conhecendo a vida delas, escolheu que me hospedasse numa das suas casas em Portugal”, prossegue, lembrando que chegou cá no final do ano 2019, tendo sido acolhida na casa provincial, em Lisboa. “Fiquei muito encantada e interpelada pelo carisma de fazer o bem sempre que encontrei nas irmãs dominicanas e decidi logo consagrar-me”, refere.
Entre junho de 2019 e março de 2021 veio então para o Algarve realizar o postulantado, integrando a comunidade das irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena que dá apoio às três paróquias de Boliqueime, Ferreiras e Paderne. Entre outros trabalhos foi catequista. “No Algarve senti-me à vontade. É um povo muito aberto, também o pároco. São pessoas mesmo de Deus”, testemunha.
Também a superiora provincial de Portugal confirmou ao Folha do Domingo que naquelas paróquias “as pessoas ficaram muito marcadas com a presença da irmã Madalena”. “Acho que tinha todo o sentido que elas também tivessem a possibilidade de caminhar com ela nesta etapa nova da sua vida”, considera a irmã Alzira Rodrigues Ferreira.
Depois do postulantado no Algarve, a irmã Madalena Muaca seguiu para Aveiro onde realizou o período de noviciado.
A irmã Alzira Ferreira considera esta primeira profissão religiosa “uma bênção” para a congregação em tempos de redução das vocações religiosas. “É motivo de muita esperança e acreditamos que novos tempos virão porque os de hoje suscitam muito no coração daqueles que escutam a voz de Deus este grande desafio de se entregar totalmente ao Senhor e ao serviço da Igreja”, sustentou, acrescentando tratar-se de “um acontecimento que marca uma viragem na vida da congregação e da província também, mas também na Igreja local porque no Algarve tem havido uma diáspora muito grande de congregações”.
Esta noite será realizada, pelas 21h, na igreja das Ferreiras, uma vigília de oração pela primeira profissão da irmã Madalena Muaca e amanhã, 19 de março, a celebração da eucaristia que incluirá aquele ato, será ali presidida, pelas 16h, pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas.
A presença das irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena no Algarve remota ao ano de 1899 quando a fundadora da congregação, a irmã Teresa de Saldanha, a pedido do então bispo do Algarve, D. António Mendes Belo, abriu em Lagoa um colégio e uma escola para meninas pobres num antigo convento de carmelitas. Aí permaneceram as religiosas até serem expulsas no contexto da implantação da República, em 1910.
Após 76 anos da saída de Lagoa, as suas irmãs dominicanas voltaram ao Algarve, dedicando-se à evangelização, educação e promoção de crianças e jovens em risco do sexo feminino na Casa de Nossa Senhora da Conceição, em Portimão, concretamente no Lar de Crianças e Jovens da Imaculada Conceição.
Em 2016 e ao fim de 30 anos de presença em Portimão, as irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena deixaram aquela cidade para se sedearem em Paderne.