
Os bispos, padres e diáconos das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal voltaram a realizar a sua formação anual em Albufeira, este ano sob o tema o tema “O homem: caminho de Cristo e da Igreja”.
De 28 a 31 de janeiro, cerca de 120 participantes, estiveram presentes nas jornadas de atualização do clero do sul do país, promovidas pelo Instituto Superior de Teologia de Évora (ISTE), o de começaram por abordar o tema das diversas antropologias, as “diferentes visões da pessoa humana que devem ser considerados”, como realçou o cónego José Morais Palos. “Hoje a pluralidade de concepções sobre o homem e os seus contextos obrigam-nos a repensar o anúncio do evangelho”, reconheceu o diretor do ISTE na abertura das jornadas, lembrando que a reflexão de D. Rino Fisichella incidiria sobre aquela questão.
A antropologia bíblica e a visão que a teologia elaborou ao longo dos séculos foi o objeto da reflexão partilhada pelos padres Mário de Sousa e Alexandre Palma e Isilda Pegado aludiu à ideologia do género, questão que afeta diretamente o homem de hoje.
As pontes que é possível estabelecer com todos os que, pensando de modo diferente, estão abertos à mensagem do evangelho e os contextos da evangelização no mundo cada vez mais heterogéneo foram os temas de abordados pelos padres António de Freitas e Vasco Pinto Magalhães.
As jornadas terminaram com uma mesa redonda sobre o lugar dos jovens e das mulheres na Igreja e sobre as diferentes vocações neste mundo multicultural.

Os bispos das quatro dioceses foram unânimes em reconhecer a necessidade e o desafio de compreender o homem de hoje. “Falta-nos esta capacidade de perceber o homem do nosso tempo e de nos fazermos perceber ao homem do nosso tempo”, constatou o arcebispo da Arquidiocese de Évora na abertura das jornadas, reconhecendo a “incapacidade de dialogar com o sofrimento do homem”. “Estas periferias existenciais não foram a tempo medidas por nós porque não as percebemos”, lamentou D. Francisco Senra Coelho, acrescentando que “uma das grandes dificuldades” da evangelização hodierna é a compreensão do “homem que é o pastor e que é o padre”. “Não somos padres para, somos padres com”, acrescentou.
O prelado disse ainda que “o tema da formação sacerdotal é determinante para a missão da Igreja”. “A renovação da fé e o futuro das vocações só será possível se tivermos padres bem formados”, alertou, acrescentando que “um sacerdote que não faz um caminho constante de formação, de atualização, é alguém que se sujeita muito mais à frustração”.
Em declarações ao Folha do Domingo e à Agência Ecclesia, o arcebispo de Évora destacou a “descoberta” que está a ser feita “em sinodalidade” pelas dioceses do sul “daquilo que é a missão de todos os dias da Igreja”. “O homem continua a fazer perguntas muito profundas e é necessário ter uma linguagem para ele, fazer a tradução da mensagem do evangelho”, considerou.
Também o bispo de Setúbal considerou o tema oportuno. “Este tema encontramo-lo constantemente na nossa ação e no nosso diálogo com a sociedade de hoje. O diálogo com esta nova cultura e a proposta evangélica e bíblica e da nossa tradição eclesial confronta-se com novos desafios para os quais temos de procurar novas respostas”, afirmou D. José Ornelas, acrescentando que “a linguagem da fé” na sociedade “tem de ser adaptada à realidade”. “É uma realidade que está a mudar radicalmente, particularmente nesta era digital em que os nossos jovens estão muito mais metidos do que nós. Temos de nos abrir e com eles fazer um caminho novo de evangelho no meio destas novas realidades. Não se trata simplesmente de outros modos de dizer as coisas, mas de outro modo de ser e estar no mundo e também de uma perceção nova de que a tecnologia está a pôr à disposição da humanidade”, sustentou.
O bispo do Algarve lembrou que a Igreja procura “conhecer bem a identidade do homem de hoje naquilo que é específico da cultura atual” porque “quer encontrar-se” com ele e “considerá-lo seu caminho”. “Quanto mais conhecer o homem de hoje, melhor o pode servir e encontrar critérios de anúncio do evangelho e da pessoa de Cristo”, afirmou D. Manuel Quintas, lembrando que aquelas jornadas permitem ainda a partilha daquilo que são as “prioridades pastorais, projetos e perspetivas” das diversas dioceses. “Desta partilha resulta sempre uma luz que recebemos e que nos ajuda a termos mais confiança em propostas que queiramos fazer, que a nível de cada diocese, quer também nas dioceses no seu todo”, testemunhou.
O bispo do Beja, que também realçou que aqueles trabalhos ajudam a acertar critérios pastorais, destacou a importância da atualização anual do clero do sul. “Conhecer os terrenos que semeamos é fundamental para que a sementeira produza”, metaforizou D. João Marcos.