O capelão do Hospital D. Estefânia, onde há 100 anos morreu a vidente de Fátima, veio ao Algarve esclarecer que “a Jacinta não é santa porque viu Nossa Senhora”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre Carlos Azevedo explicou que, nalguns casos, “as aparições podem ser reconhecidas e os videntes podem não ser santos”. “Estas crianças – o Francisco e a Jacinta – são santos por alguma coisa de extraordinário. O que é que faz destas crianças santas? As virtudes que são reconhecidas na Jacinta e no Francisco são a heroicidade no sofrimento”, justificou o sacerdote, explicando que a pastorinha de 9 anos foi “operada acordada”, 10 dias antes da sua morte, com recurso apenas a “ligeira sedação local”. Jacinta veio a falecer, tal como o irmão menos de um ano antes, de gripe espanhola, a epidemia que também ficou conhecida em 1920 como “pneumónica”.

No passado sábado, durante a conferência que proferiu na Assembleia Diocesana do Movimento da Mensagem de Fátima que teve lugar na paróquia de São Luís, em Faro, subordinada ao tema “Santa Jacinta Marto – «Ó Jesus, é por Vosso Amor»”, o capelão do Hospital D. Estefânia contou o espanto do médico Castro Freire que operou Jacinta partilhado com a enfermeira por a criança não ter “nem esperneado nem chorado”, mas apenas pronunciado a frase: “Meu bom Jesus, minha Nossa Senhora”.

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“O sofrimento não presta para nada, mas se for oferecido por amor, pode tornar-se igual ao de Jesus, ou seja, redentor. E esta é também a mensagem do movimento do qual os senhores fazem parte”, esclareceu, pedindo aos participantes do encontro que ajudem a passar a ideia “de que o sofrimento não presta”. “Não temos de andar atrás dele, basta o que temos. Mas uma das coisas que devemos fazer é oferecer”, afirmou, acrescentando também a importância do “oferecimento” da vida, concretamente do “amor”, e da “reparação”. “A espiritualidade de Fátima tem a ver com as duas dimensões do oferecimento e reparação. Reparar significa concertar. Reparação pode ser só estar ali diante do Santíssimo Sacramento porque estamos a consolar com a nossa presença. Reparar também pode ser dar graças pelas coisas bonitas”, explicou o padre Carlos Azevedo.

O capelão do hospital em Lisboa lembrou que “a Santa Jacinta várias vezes várias ali se encontrou com Nossa Senhora em aparições” e, por isso, “o Hospital D. Estefânia é também um santuário”. “São muitos os peregrinos que vão a Lisboa fazer o itinerário da Santa Jacinta que tem como um dos principais sítios o hospital da rainha D. Estefânia”, testemunhou, acrescentando que o “itinerário espiritual” inclui a Basílica da Estrela, “onde a Jacinta foi à missa”, o convento das irmãs Clarissas, onde “o quartinho está intacto com os objetos inclusivamente que a Jacinta tocou” e a igreja dos Anjos onde existe “uma evocação a Santa Jacinta pelo tempo que ela lá esteve em velório”.

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O sacerdote lembrou que, após ter sido internada no hospital de Vila Nova de Ourém, “não havia dinheiro para trazer a Jacinta para Lisboa porque os pais eram pobres”, o que só acontece por encargo do doutor Eurico Lisboa. O padre Carlos Azevedo contou que a criança passou, de 21 de janeiro a 2 de fevereiro de 1920, pelo orfanato da Estrela e só naquele dia é que é internada no Hospital D. Estefânia.

Depois da morte, o velório foi feito na igreja dos Anjos e “os cristãos de Lisboa voltaram novamente a unir-se e fizeram uma subscrição pública para arranjarem dinheiro” para que o corpo seguisse de comboio para Fátima, contou o sacerdote, acrescentando que o cortejo desde a igreja até à estação do Rossio “foi sempre acompanhado por muitas pessoas”. “Chega a Fátima já bastante tarde e ficou no jazigo do barão de Alvaiázere onde era para passar a noite. A verdade é que ficou lá 15 anos”, completou o sacerdote, que evidenciou a importância da Santa Jacinta Marto no fenómeno de Fátima. “Pode-se dizer que a Jacinta, mesmo depois de ter falecido, também tem um papel importantíssimo na divulgação de tudo aquilo que Fátima é e naquilo que Nossa Senhora nos quis dizer”, concluiu.

Jacinta Marto foi canonizada, juntamente com o seu irmão Francisco, pelo papa Francisco a 13 de maio de 2017 em Fátima e é a mais jovem santa não-mártir na história da Igreja Católica.

Assembleia Diocesana do Movimento da Mensagem de Fátima realizou-se em Faro