
O clero da Província Eclesiástica do Sul, constituída pelas dioceses de Évora, Beja e Algarve, considera que o atual contexto de mudança histórica, social e cultural do mundo indica que “algo de novo” está a começar.
A ideia foi deixada na apresentação das conclusões das jornadas de atualização do clero da Província Eclesiástica do Sul, constituída pelas dioceses de Évora, Beja e Algarve, que hoje terminaram no Hotel Júpiter, em Portimão, onde decorreram desde a passada segunda-feira com a participação de cerca de 80 membros do clero, incluindo os bispos das três dioceses.

“A mudança que está a acontecer indica-nos que há algo de que nos estamos a despedir e algo de novo que está a começar. Apesar de não sabermos ainda qual é este «novo», devemos procurar saber para onde queremos caminhar”, leu o cónego José Morais Palos do documento que resultou daquela iniciativa promovida pelo Instituto Superior de Teologia de Évora, do qual é diretor.
Acrescentando que “a mudança epocal pode significar o fim de um certo tipo de Cristianismo mas não do Cristianismo”, o clero das dioceses do sul de Portugal sublinha que “o tempo atual é um tempo favorável para o anúncio do evangelho”. “Há qualquer coisa que está a germinar e nos convida a recomeçar face à afirmação da autonomia, da historicidade, da liberdade, da secularização e dos avanços da ciência e da técnica”, referem as conclusões daquela ação de formação que teve como tema “Evangelizar num mundo em mudança”.

© Samuel Mendonça
O documento adverte ainda que “uma pastoral de mera conservação ou simplesmente apologética opõe-se à necessária regeneração e criatividade que as mudanças atuais exigem”. “Não nos conformamos com o «sempre se tem feito assim», mas queremos ser audazes e criativos”, afirmam os sacerdotes e diáconos daquelas dioceses.
Reconhecendo existir em Portugal um “fenómeno da desfiliação religiosa que conduz a uma situação de não-pertença, abrangendo crentes e não crentes”, assim como uma “erosão da identidade católica e a privatização da fé que conduz à falta de impacto da fé católica no tecido social, – devida em grande parte ao fenómeno da mobilidade e à dificuldade que os que professam a fé católica sentem em se afirmar”, – o clero do sul constata que “as trajetórias de vida e os itinerários são hoje mais pessoais e a presença da Igreja tem que ter em conta esta diferenciação”.
“Há critérios de pertença à Igreja que poderão ser questionados face aos critérios do reino de Deus, instaurado por Jesus. Há que respeitar a realidade das pessoas com quem Deus pode fazer caminho, abrir-se à pluralidade e reconhecer diferentes itinerários pessoais”, apontam ainda os padres e diáconos, considerando ser “necessário apaixonar-se pelo humano, por tudo o que se passa na vida das pessoas com o olhar de Deus”. “Reconhecemos que o espírito de Jesus habita em cada coração humano e a humanização é o melhor terreno para conciliar a fé e a vida, a cultura e o evangelho”, concluem.
Na sessão de encerramento, o bispo de Beja, D. António Vitalino, exortou o clero à “comunhão, partilha e paixão por Cristo, pela Igreja, pelas dioceses e pela missão”.
D. José Alves, arcebispo de Évora destacou o “nível científico, pastoral e de convívio muito elevado” daquela formação, bem como a “colaboração excelente de vários leigos” e considerou que iniciativa contribui para “sedimentar a coesão” eclesial do clero e das comunidades das três dioceses. O prelado exortou ainda ao fortalecimento dos laços de comunhão que existem entre as três Igrejas diocesanas.
O bispo do Algarve, D. Manuel Quintas propôs que o tema das próximas jornadas possa abordar a “necessidade de reforçar a identidade com Cristo” do clero do sul do país.

Ao longo dos últimos quatro dias, os participantes ouviram Alfredo Teixeira, da Universidade Católica Portuguesa (UCP), falar sobre os temas “Identidades religiosas em Portugal: novos cenários pastorais” e “Crer e pertencer: novas sóciabilidades”. José Borges de Pinho, também da UCP, abordou os temas “Comunidades eclesiais e identidade católica: desafios no contexto português” e “A transmissão e proposta de fé numa situação de profunda mudança” e o padre Jorge Santos aludiu à temática “O Curso Alpha, uma resposta para a Nova Evangelização”.

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As jornadas contaram ainda com um painel intitulado “O Caminho Neocatecumenal e as novas experiências evangelizadoras”, com Joaquim e Francisca Ferreira, de Évora, Manuel e Manuela Bento, de Beja e Jorge e Elsa Ricardo, do Algarve, e José Luis Moral, da Pontifícia Universidade Salesiana, Roma, e Martin Carbajo, da Pontifícia Universidade Antonianum de Roma, apresentaram os temas “Como evangelizar hoje?” e “Formar comunidades missionárias”.
Hoje foi realizado um painel intitulado “O que esperamos e desejamos da Igreja”, com a participação de António Marujo, jornalista especialista em temas de religião, e de Sara Rodrigues, escritora, no qual não participou o ator Nicolau Breyner, como chegou a ser anunciado pela organização.