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Foto © Samuel Mendonça

Foram ontem homenageados no Dia do Município de Faro os cerca de 150 combatentes da freguesia de Santa Bárbara de Nexe na Guerra do Ultramar, dois dos quais falecidos em combate.

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Foto © Samuel Mendonça
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Capitão António Alberto Rita Bexiga
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Capitão furriel José do Carmo Bento

A homenagem teve início com a romagem ao cemitério local para deposição de flores nas campas dos dois militares mortos, o capitão António Alberto Rita Bexiga e o furriel José do Carmo Bento, ambos falecidos em Angola, respetivamente a 8 de agosto de 1972 com a viatura a em que viajava a ser atingida por uma bazuca disparada por elementos do MPLA e a 29 de janeiro de 1963 numa emboscada.

Perante muitos antigos militares e familiares presentes foram ainda recordados, na presença também de elementos das suas famílias, os restantes 31 combatentes já falecidos. As homenagens no cemitério concluíram-se com a recitação da oração do Pai Nosso.

Seguiu-se a celebração de uma eucaristia na igreja matriz, presidida pelo cónego José Pedro Martins, pároco local. O sacerdote evocou os combatentes falecidos e também os restantes militares, muitos deles presentes. “Foram momentos muito difíceis, mas estamos gratos ao Senhor pela valentia, coragem e espírito de serviço e também pela dedicação uns aos outros”, afirmou, considerando que “a paz era a realidade que devia ter presidido a qualquer situação de defesa da pátria”. “Infelizmente a luta dos homens vem de longe e Aquele que nos veio alertar para a necessidade de acabarmos com isso e sermos, acima de tudo, construtores da paz é Aquele que, mesmo nessas circunstâncias, nos acompanha e nos segreda sempre a paz”, complementou.

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Foto © Samuel Mendonça

O cónego José Pedro Martins lamentou que o mundo continue “assediado por tantas violências de toda a ordem e, às vezes, mesmo em nome de Deus”. “Como é possível?”, questionou.

O prior desejou ainda que os antigos combatentes possam ter ganho com a experiência que viveram um maior ímpeto na construção da paz. “Que tudo isso tenha servido também para construirdes sempre no vosso coração sempre sentimentos de paz para que ela, à nossa volta, se imponha”, afirmou.

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Foto © Samuel Mendonça

Após a eucaristia teve lugar no jardim Guerreiro da Ângela a cerimónia de inauguração e bênção de um monumento em memória dos soldados oriundos daquela freguesia entre 1961 e 1974, erigido com o apoio da Câmara de Faro.

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Foto © Samuel Mendonça

Depois do descerramento e bênção do memorial e do cumprimento de um minuto de silêncio em memória dos militares falecidos, José Coelho Mestre, um dos antigos combatentes e impulsionador da construção do monumento, sublinhou que o mesmo visa “homenagear todos os nexenses, não por aquilo que fizeram, mas por aquilo que foram obrigados a fazer na chamada Guerra Colonial”. “A partir de agora vai para sempre recordar aqueles jovens desta freguesia que, ao longo de 13 anos, foram arrancados das suas famílias para terras estranhas para lutarem em defesa de uma causa que à partida, para muitos deles, era injusta. Saíram daqui para cumprir um dever que lhes foi imposto, do qual não sabiam se regressavam”, afirmou.

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Foto © Samuel Mendonça

Também o presidente da Junta de Freguesia evidenciou o trauma provocado por aquele conflito. “Foi um tempo cruel, injusto e de uma ditadura em que os jovens foram tirados daqui destes cerros sem conhecerem praticamente nada e postos numa guerra que em muitos pontos foi cruel”, afirmou Sérgio Martins.

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Foto © Samuel Mendonça

O presidente da Câmara de Faro disse que seria uma “injustiça muito grande” se não se valorizasse os antigos combatentes, “homens bravos” que “foram mandados para a guerra sem saberem porquê”, “apenas com um intuito: defender a pátria, sem saber mais nenhumas razões”. “É de uma justiça enorme fazermos esta manifestação de solidariedade, de apoio, mas acima de tudo, de respeito e de gratidão. Com este monumento perpetuarmos aquilo que é a nossa identidade, aquilo que é a nossa história, aquilo que estes homens representaram para a defesa da nossa nação”, complementou Rogério Bacalhau na cerimónia que contou também com a presença de representantes dos núcleos de Faro e Loulé da Liga dos Combatentes e do deputado à Assembleia da República, António Eusébio.

No final foi ainda entregue aos antigos combatentes ou familiares exemplares de um livro editado com imagens e recordações de todos os soldados nexenses destacados para a guerra, da autoria de José Coelho Mestre, publicado também com o apoio da Câmara de Faro.