(Falando de saúde mental…)

De acordo com o relatório Health at a Glance 2018, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), 18,4% da população portuguesa sofre de doença mental, onde se inclui ansiedade, depressão ou problemas com o consumo de álcool e drogas.

As famílias de muitos dos meus alunos não têm dinheiro para comer até ao final do mês. Muitas vivem dos subsídios que, imperiosamente, ajudam a pagar os encargos em data própria. Ou a não pagar, porque não estica. Os produtos que compram no supermercado, são os que estão em promoção e esgotam logo. Comem frango, arroz e massa muitas vezes. Não variam a carne, o peixe e a fruta, pois uma ida ao supermercado, é para o básico do dia-a-dia. Não têm as terapias que precisam, pois não há dinheiro e o suporte que a escola dá, não chega para que todos tenham apoios na escola. Compra-se o mais barato. Não há dinheiro para atividades extraescola, não se passeia grandemente, ou vai-se ao centro comercial só e bebe-se um café. Sabemos que muitas vezes, o que basta para variar e improvisar não custa muito dinheiro. Às vezes, só é preciso imaginação, improviso e foco. Foco em discernimentos para a gestão do tempo, das economias e das prioridades, que permitam variar e encher a vida das flores que ela tem, em todo o lado, mesmo nas estradas de terra.

O problema é que para isso, a alma tem que estar limpa e um bocadinho acima do limiar da sobrevivência vivido por tantos. Acima uns degrauzinhos, que permitam olhar para o alto, para a vida e para tudo o que ela tem, respirando fundo e alimentando a alma, com cultura, arte, leitura, lazer, ócio, hobbies. Coisas atualmente, inacessíveis para tantos, não só pelo preço que custam, como pela distância a que estão. E muitas vezes, com o peso da carga de todos os dias, não se olha para cima, para essas coisas, não se sobem esses degraus. Não se consegue, não se quer, não se tem forças. E sim, vêm as depressões, as fragilidades emocionais brutais, os estados de ansiedade mais ou menos reprimidos, que se manifestam depois no corpo, no comportamento e na saúde, nos atestados e nas baixas de quem não consegue mais e de quem já é veterano nesta roda. E vem depois, muitas vezes também, um qualquer aditivo que anestesia e faz esquecer, ou pelo menos, não pensar.

A saúde mental é um luxo, cuidar dela é um luxo ainda maior, falar dela é necessário e refletir sobre o que a pode fazer prevalecer, urgentíssimo. Não sei que voltas dar às circunstâncias de vida de tantos e às dificuldades que não ajudam a que se subam degraus. O que sei, é que as “almas não podem olhar para cima, com dores lá em baixo nos pés…”
(Frase do livro Filhas do Vento, de Fátima Moura da Silva, Editora Guerra e Paz)