O bebé era de colo, muito pequenino. Estava a amamentá-lo num local público e teve algum recato, pois cobriu-se parcialmente com uma pequena fralda de pano. Tudo normal, até aqui. Segurava-o com um braço e com a outra mão, mexia num telemóvel, amparado entre a palma da sua mão e um polegar treinado que, eficazmente, a ajudava a teclar e a deslizar o ecrã, num scroll down eficaz. E o bebé mamava. Bem sei que era um espaço público, um pequeno café onde me sentei numa mesa lá dentro. Bem sei que havia algum ruído e agitação. Bem sei… Mas aquela mãe, jovem e bonita, muito jovem e muito bonita, não olhou para o seu bebé, enquanto o amamentou. Não houve uma festa na perninha, um soprar de sussurro, um toque na bochecha, um virar de olhar, um falar com a expressão. Nada. Não pude deixar de olhar. E de ver e de me lembrar de uma conversa tida com uma colega que trabalha com crianças muito pequenas e famílias, onde me dizia que sim, isto acontece muitas vezes, com tantas mães que conhece e com quem trabalha.

Aquela mãe jovem e muito bonita pôs o bebé a arrotar, como se faz, encostando-o ao seu ombro, sem olhar para ele. Mecanicamente, com gestos treinados de mãe, mas refém do ecrã. E ele arrotou e foi posto na cadeirinha e ela continuou no seu scroll pelo ecrã, diligente, interessada, mas apartada do filho.

É já comum, isto dos telemóveis, nos restaurantes, em todo o lado. Nos miúdos anestesiados à sua frente, enquanto os adultos comem e conversam e eles, entretidos, não chateiam. É já normal, isto dos telemóveis, nas pessoas que comem, sentadas, às mesmas mesas, juntas na geografia, mas separadas na presença. É já normal isto dos telemóveis e tablets em quaisquer locais onde se queiram os miúdos sossegados por instantes para que os adultos façam aquilo que têm a fazer, ou oiçam o que têm de ouvir, ou assistam ao que têm de assistir. Mas confesso que o ser já normal não me retira, a mim, a estranheza que sinto. E este episódio que conto da mãe bonita fez-me muita, muita estranheza e lembrei-me do que a minha colega me tinha dito. E do que outra colega me disse há dias, a propósito de uns Pais que não querem que a filha chore. Chorar não, nunca, chorar é tristeza e isso, a filha não pode sentir, a vida, para ela, será só radiosa, sempre, quererão… Ou outras colegas que me relatam tantos e tantos casos de incompetência parental, impreparação, imaturidade, desconhecimento absoluto do que é a vinculação afetiva que, momentos como a amamentação (e outros), podem fazer desenvolver. É que, sem essa vinculação afetiva bem trabalhada, a gestão das emoções, a interpessoalidade, o conhecimento de si próprio e o desenvolvimento sensorial ficam tão, mas tão coxinhos.

Isto é sério, muito sério…

(“Scroll down”, palavra muito utilizada nas páginas da “net” para fazer rolar, ou deslizar a respetiva página quando é muito longa.)