A Semana do Consagrado, que decorreu a nível nacional de 26 de janeiro a 02 de fevereiro, só ontem foi encerrada no Algarve com a celebração diocesana do Dia do Consagrado que teve lugar em Loulé, no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como Mãe Soberana.

Os 28 consagrados – sacerdotes, irmãos ou irmãs, pertencentes a um(a) instituto/congregação religioso(a) – a trabalhar no Algarve que se juntaram ontem à tarde ao bispo da diocese, também ele consagrado, pertencente à congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (dehonianos), foram desafiados a serem discípulos a exemplo de Maria.
A conferência do cónego Carlos de Aquino, intitulada “Maria, a primeira discípula”, que decorreu na ermida daquele santuário mariano, lembrou-lhes que ser discípulos é a sua “identidade” e “missão”, “enquanto obra a realizar” “também enriquecida pelos carismas dos vários institutos e sociedades”.

O orador começou também por lembrar que o “discípulo é todo aquele que permite ser amado pelo Senhor e consente que o seu amor transforme toda a sua existência”. “Discípulo é todo aquele que segue o Senhor”, “o que se nega a si mesmo”, “o homem e a mulher livre, que dá primazia a Deus na sua vida seja no que diz respeito à própria família, seja na relação com os bens deste mundo”, sustentou, advertindo: “só permanecendo discípulos podemos ensinar com autoridade e testemunhar a verdade e a alegria do Evangelho”.
Partindo da liturgia da Igreja, o palestrante evidenciou assim que Maria “foi a primeira e mais perfeita discípula de Cristo”, pois “aderiu total e responsavelmente à vontade de Deus, soube acolher a sua palavra e pô-la em prática”. Neste sentido, destacou que “ser discípulo é uma entrega livre e obediente à Palavra de Deus, que se escuta e se aceita cumprir”. “Ser discípulo exige um partir de Cristo”, afirmou, lembrando que a vida consagrada “implica particular comunhão com Ele, tornando-o o centro da vida e de cada iniciativa e decisão”. “Precisamos de cristãos, consagrados, comunidades que sintam necessidade de encontrar, saber e anunciar Jesus Cristo”, disse, acrescentando que “ser discípulo exige um olhar vigilante, contemplativo e atento na escuta da Palavra” e “requer humildade, proximidade, verdade, discernimento”.
“Exige que se viva a fidelidade pelo encontro. É fundamental na mesma fidelidade exercitarmos a perseverança, permanecermos com o Senhor, estarmos com Ele, no silêncio e segredo do coração e do quarto”, prosseguiu, considerando que “exige viver com as periferias no coração, aceitando ser discípulos em saída”. “A Igreja evangelizadora não é mundana nem autorreferencial, que vive em si, de si e para si. Nem o religioso deve viver assim. A sua missão deve dirigir-se a todos, tudo e sempre”, complementou.
“Muitas vezes me pergunto: será que as pessoas que vivem connosco nas nossas terras, nossas vizinhas, podem apreciar uma qualidade diferente da nossa maneira de viver, de falar, de estar, de ser? Ou fazemos tudo igual ao que fazem todos os outros? Qual é o nosso diferencial cristão?”, questionou, acrescentando que este “ser discípulo” “exige uma nova sabedoria do coração pela proximidade da misericórdia”. “A palavra do discípulo deve ser viva, saboreada e saborosa. O seu testemunho tem de ser sem disfarce e estratégia, humilde, atento, comovido, próximo, acolhedor, profético e evangelizador, que deixe ver Jesus Cristo. No fundo, exige-se que não sejamos simples animadores ou admonitores, mas transparências e testemunhas fiéis de Jesus Cristo”, desenvolveu, acrescentando que “mais que criativo, um discípulo, é um fiel, um contemplativo, um orante”.

No final da reflexão, o bispo do Algarve salientou a “dimensão missionária do discipulado”. “Não há discípulos que não sejam missionários”, alertou D. Manuel Quintas, lembrando que “os missionários são sempre discípulos”. Citando o Papa, lembrou que “a missão é o oxigénio da vida cristã, da vida consagrada”, pois “tonifica-a e purifica-a”. “Nunca podemos desligar a dimensão missionária da vida cristã e muito menos da vida consagrada”, advertiu.

Na missa que se seguiu à reflexão e ao lanche partilhado, o bispo diocesano lembrou que “a vida de especial consagração assume, por dom de Deus, a mesma forma de vida de Cristo, nas suas opções pessoais e, sobretudo, em relação a Deus e também no serviço ao povo de Deus”. D. Manuel Quintas constatou que os consagrados – embora “uns mais ativos, outros mais contemplativos ou só contemplativos, deixando que a contemplação também seja ação, apostolado, missão”; “uns mais para fora, missionários ad gentes, outros menos, contemporizando tudo” – têm todos como finalidade “a realização da missão da Igreja e a promoção da pessoa humana em todas as suas dimensões”.

O bispo do Algarve lembrou ainda que a diocese algarvia conta com 12 comunidades de irmãs e quatro de religiosos. A tarde de ontem contou ainda com a presença da superiora geral das Missionárias Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus, a irmã Maria da Conceição Rio, algarvia, de visita à comunidade do Algarve daquela congregação, assim como com a presença dos padres Samuel Camacho, diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral Vocacional, e Tiago Pereira e Ferdinando de Freitas, ambos dehonianos, em representação das comunidades masculinas algarvias de consagrados, e Carlos de Matos, reitor do santuário da Mãe Soberana.

A Semana do Consagrado no Algarve foi promovida pelo Secretariado da Pastoral Vocacional da Diocese do Algarve em conjunto com o Secretariado Regional do Algarve da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) e contou, para além da atividade da tarde de ontem, com uma vigília de oração no dia 01 de fevereiro na igreja das Ferreiras e com a celebração das bodas de ouro de vida consagrada da irmã Maria da Graça de São João da Cruz, da comunidade algarvia das Carmelitas Descalças, no dia 02 de fevereiro no Carmelo algarvio.