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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O Encontro dos Povos Migrantes, que reúne anualmente imigrantes no Algarve para celebrarem a mesma fé cristã, contou este ano pela primeira vez com alguns muçulmanos que se quiseram associar à iniciativa.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Oriundos da Argélia e de Marrocos, no norte de África, aqueles participantes, que fizeram questão de estar presentes no 18º Encontro dos Povos Migrantes que teve lugar em Loulé, começaram por participar na eucaristia que decorreu no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, popularmente conhecida como Mãe Soberana.

“Estamos aqui como povo migrante a expressar a nossa fé e a nossa alegria porque acreditamos que Deus, o nosso Pai, nos deu o seu filho Jesus para nos ensinar a sermos mais amigos e mais irmãos”, começou por referir a organizadora do encontro, promovido por representantes das comunidades de imigrantes dos concelhos de Faro e Loulé.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Nesta eucaristia vamos celebrar tudo o que é motivo de alegria para nós e vamos também agradecer ao Senhor por todas as pessoas de Portugal pelo acolhimento que nos têm dado”, prosseguiu Filomena Varela Semedo, que lembrou também o falecido padre Júlio Tropa Mendes, antigo responsável pelo Setor das Migrações e Comunidades Étnicas da Diocese do Algarve, “pelo trabalho começado a favor dos povos imigrantes”.

A eucaristia, presidida pelo pároco de Loulé, teve início com a entronização na igreja com as bandeiras dos diferentes países representados que integraram o cortejo. Angola, Argélia, Argentina, Bélgica, Brasil, Cabo Verde, França, Inglaterra, Marrocos, Moçambique, Portugal, República Dominicana, Roménia, São Tomé, Ucrânia e Venezuela eram as nacionalidades presentes.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Somos aqui nesta manhã, nesta casa de família em reunião, a expressão de muito povos, mas que formam na fé uma única família: a Igreja. Muito rostos, muitas vozes, mas para percebermos profundamente que a unidade e comunhão a que somos chamados é a diversidade e que o caminho na Igreja é sempre o caminho do homem, dos povos”, começou por afirmar o padre Carlos de Aquino, lembrando que “Deus fala em muitas línguas, mas fala sobretudo com o coração humano”.

“Gente que tem rosto, que tem voz e somos aqui expressão de todos esses rostos e de todas essas vozes e agora unimos, tudo numa única voz, para louvar e cantar o Senhor pelo dom da vida e de tanto bem que derrama sobre nós, constituindo-nos também edificadores de um mundo mais justo, belo e verdadeiro”, continuou o sacerdote.

“A beleza desta assembleia é o facto de, reunidos nesta casa, nos sentirmos verdadeiramente filhos, sabermos que a nossa vida não está suspensa, tem fonte e tem sentido. Aqui somos verdadeiramente irmãos. E isso dá beleza profunda à nossa vida, independentemente de onde vimos, do que realizamos”, prosseguiu.

O pároco de Loulé exortou assim à construção de “um mundo melhor”, “que começa pela disponibilidade interior de cada um de se colocar ao serviço dos outros”.

O padre Carlos de Aquino lembrou que Jesus era “ele próprio refugiado, migrante, não tendo casa permanente, tendo uma vida profundamente instável”.

O sacerdote deixou ainda um desafio aos presentes. “Se queremos ser profundamente felizes e livres, sejamos audazes no amor, no serviço, não tenhamos vergonha de ser justos e autênticos. Não tenhamos vergonha nem medo de sermos simples, autênticos, verdadeiros, de darmos a vida, porque só isso é medida para uma vida plenamente feliz. E se assim fizermos uns com os outros, o mundo será uma casa comum, não haverá barreiras de linguagens, nem de culturas, porque não nos olharemos com indiferença, mas como aprendemos aqui na casa: a sermos irmãos, a sermos filhos, a descobrir que a vida não está suspensa e nós somos os construtores desta vida. Deus pede-nos que sejamos edificadores de uma vida boa, de um mundo melhor”, afirmou.

Após a eucaristia, animada pelos cânticos típicos de cada país, seguiu-se o almoço no salão de festas de Loulé com diversos sabores gastronómicos partilhados pelos participantes.

Em declarações ao Folha do Domingo, o padre Carlos de Aquino contou que os muçulmanos presentes consideraram a participação no encontro “uma experiência única” na sua vida.