Pe. Domingos da Costa, sacerdote da Companhia de Jesus
Por Pe. Domingos da Costa,
sacerdote da Companhia de Jesus

Suponhamos uma criança que não chegou a conhecer o pai, por este ter morrido, antes de ela nascer. À medida que vai crescendo, a Mãe – e os irmãos mais velhos – vão-lhe falando dele: que ele está no Céu, porque era muito bom; que aguardava, com muita alegria e entusiasmo, o seu nascimento e que até já tinha um projecto para quando ela fosse grande… A Mãe diz-lhe que se parece muito com o pai: que os seus olhos são os dele; e que até tem semelhanças, quanto ao carácter: por exemplo, no modo decidido, como reage perante as dificuldades…

Na escola e na catequese, a criança fala do pai, como se ele fosse vivo. Quem a ouve admira-se, perguntando-lhe, como é que ela pode falar dele, com tanto entusiasmo, se nunca o viu nem conheceu. Ela responde: como é que eu não havia de falar dele, se é devido a ele que existo? E como poderia eu duvidar do testemunho da minha Mãe e irmãos, que o conheceram e viveram com ele?

Como poderá alguém admirar-se que esta criança fale apaixonadamente do pai, baseada no testemunho de quem o amou e por ele foi amado? De certeza que tem muitas mais razões para o fazer, apesar de não o ter conhecido, do que outra que tenha vivido com o próprio pai, mas que dele só guarda más recordações!…

«Aquele que existia antes de nós, a quem ouvimos e vimos com os nossos olhos, a quem contemplámos e as nossas mãos apalparam… é esse que vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão connosco» (1 Jo.1,1-3).

Como poderá alguém admirar-se que os Cristãos falem, com tanto entusiasmo, do amor de Jesus Cristo, se n’Ele encontraram e encontram o sentido para as suas vidas? Como não acreditar n’Ele, se temos o testemunho dos que O conheceram: dos que O viram, O ouviram e com Ele viveram e conviveram?

É esta a linda história do Cristianismo, que vem sendo contada, narrada e vivida, ininterruptamente, desde há dois mil anos, pela nossa Mãe, a Igreja, e pelos nossos irmãos, os Cristãos!…

No Cristianismo, como na família tudo começou e começa com unia experiência pessoal de amor de Deus, ainda que através de outros. Mas ninguém diga que os primeiros Cristãos tiveram mais sorte do que nós, por terem visto e andado com Jesus Nenhum deles sabia que Ele era Deus! Não teremos nós muita mais sorte, por temos, atrás de nós, uma longa história de testemunhas?

Será assim tão difícil a Fé cristã? Só se não tivemos nem temos a graça de conhecer e conviver com testemunhas enamoradas por Jesus, como aconteceria com a criança, se não tivesse o testemunho da Mãe e dos irmãos a falar-lhe do pai.

[dropcap]”[/dropcap]A crise da Fé é fruto da falta de testemunhas credíveis do amor de Cristo! Quem não teve essa bênção, dificilmente poderá ser essa bênção para outros.

A crise da Fé é fruto da falta de testemunhas credíveis do amor de Cristo! Quem não teve essa bênção, dificilmente poderá ser essa bênção para outros.

Tudo, na Fé, começa por uma experiência pessoal do Amor de Deus. Se nós próprios a não fizemos, como a poderemos passar (=Páscoa) a quem vem depois de nós?

P. Domingos Costa