No Domingo de Páscoa realizou-se em Loulé a Festa Pequena em honra de Nossa Senhora da Piedade, popularmente conhecida como Mãe Soberana, e que constitui o ponto de partida daquela que é considerada a maior manifestação religiosa a sul do Tejo – a Festa Grande – que decorrerá no dia 5 de maio.
Acompanhados por uma multidão e pela banda da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva, os homens do andor subiram à colina sobranceira à cidade onde se encontra implantado o santuário mariano de maior expressão no Algarve para ir buscar o andor com a Pietá algarvia, onde a comunidade já se encontrava a fazer a recitação do rosário.
Na secular ermida, na oração com os homens do andor ajoelhados aos pés da imagem, o sacerdote dirigiu-se à Virgem. “Assim como levantaste o vosso Filho em vossos braços e o seguraste morto, mas acreditaste que viveria, que nos levantes também a nós. Nos levantes pela alegria, pela fé, pela força em te transportar em nome de um povo, para que possamos a todos comunicar a alegria do fruto da Páscoa que é o vosso bendito Filho que está vivo, que está nos nossos corações, é a nossa alegria e a nossa força. Ampara estes homens que em nome deste povo te conduzem. Derrama sobre eles o teu coração materno, dai-lhes força e, sobretudo, a coragem de serem testemunhas do evangelho”, pediu.
Tiago Ferreira começou por emprestar a voz aos restantes homens do andor na prece dirigida. “Nossa Senhora, nossa Mãe Soberana, aqui estamos mais um dia para te agradecer tudo aquilo que tens feito por nós”, afirmou, agradecendo pela “dádiva da vida” que, “com grande esforço e grande dedicação”, lhe voltaram a entregar como “fruto da fé”.
Também Luís Gomes se dirigiu à Senhora da Piedade. “Quero-te agradecer por teres sido esperança, amparo e luz, por me teres escutado, me teres recebido e intercedido junto do teu Filho para com aqueles que me são mais próximos. Mãe Soberana, peço-te ainda que sejas a guia carinhosa, que olhes por nós todos os dias do ano como até hoje. Obrigado por tudo, minha Mãe!”, rezou.
Tiago Ferreira prosseguiu a prece, pedindo também a intercessão pelos “familiares e amigos” que “precisam de um conforto e de muita saúde” e a oração conclui-se com a recitação das orações do Pai Nosso e da Avé Maria e o tradicional grito “viva a Mãe Soberana!”.
Após a oração, teve início então a descida em passo acelerado com o andor até à igreja de São Francisco, no centro da cidade. Ao esforço dos homens oito homens, vestidos de calças e opas brancas, que transportaram a imagem, aliou-se a força espiritual dos fiéis que, em vivas inflamadas a Nossa Senhora da Piedade e aos homens do andor, na cadência musicada dos homens da banda, «ajudaram» a trazer o pesado andor da padroeira até à igreja onde foi recebido com palmas pela multidão que, enchendo o largo, já o aguardava para a eucaristia.
Na celebração, o padre Carlos de Aquino – não obstante ter dito compreender a designação, uma vez que 15 dias depois se celebra a Festa Grande em honra da Senhora da Piedade – realçou que o Domingo de Páscoa não pode ser dia de festa pequena. “Não pode ser festa pequena quando sabemos que o sentido da nossa vida não é o cemitério, mas é o coração do Pai, a eternidade”, afirmou, considerando ser “dia de festa grande porque dia da ressurreição”.
“Não pode ser festa pequena quando a alegria grande inunda o nosso coração. Porque é que cantámos pelas ruas da cidade? Porque é que até dançámos? Porque dançamos com a morte? Porque dançamos com a Virgem Santa Mãe de Deus? Porque Ele não é mais um morto e ensina-nos a não sermos homens da morte”, acrescentou, considerando que “não pode ser festa pequena quando se acolhe a Mãe em casa”. “É preciso fazermos festa. É preciso aprendermos com ela a conhecer o Filho de Deus porque ela remete-nos sempre para o filho”, sustentou.
“Que Nossa Senhora, a Mãe da Páscoa, nos ensine neste dia grande a sermos seus filhos. Não apenas a dizer «Viva a Mãe Soberana!», mas que esse grito seja expressão de uma alma que se eleva com ela ao céu”, afirmou, desafiando os presentes a serem “cristãos”, “homens livres”, “simples”, “felizes”, “alegres”, “que não têm vergonha de se dizer de Deus” porque “Deus não envergonha a vida de ninguém” e “autênticos no testemunho da fé”.
Ao longo destes 15 dias, sob o tema “Com Maria somos discípulos missionários!”, a imagem permanecerá ali, estando o templo aberto durante o dia e parte da noite, sendo que a novena de preparação decorrerá até ao dia 30 deste mês.
Diariamente haverá missa às 9h, às 19h a celebração do terço em honra de Nossa Senhora pelas crianças da catequese, às 21h a oração do rosário orientado por uma família de paroquianos e, às 21h30, a novena com pregação da responsabilidade dos institutos religiosos masculinos presentes da Diocese do Algarve, associados a instituições louletanas. Assim, no dia 22 de abril, a novena foi orientada pelos padres da Congregação do Espírito Santo (espiritanos) em colaboração com a instituição ‘Existir’; ontem foi pelos padres da Companhia de Jesus (jesuítas) em colaboração com a instituição ‘Unir’; hoje será pelos sacerdotes da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) com a Fundação António Aleixo; amanhã (25 de abril), pela Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (dehonianos) com a instituição ‘Terra Nova’; na sexta-feira (26 de abril) pelos padres da Congregação do Santíssimo Redentor (redentoristas) com a instituição ‘Paraíso’.
No sábado (27 de abril), a novena incluirá a ‘Celebração das 7 Dores de Maria’, promovida pela catequese paroquial com a participação do Coro de Câmara da Sé de Faro e, no domingo (28 de abril), a participação da banda da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva e do Conservatório de Música de Loulé. No mesmo dia, pelas 16h, aquela banda protagonizará um concerto na igreja de São Francisco.
No dia 29 de abril, a novena ficará a cargo da Fraternidade da Mãe de Deus com a instituição ‘Portas do Céu’ e no dia 30 de abril do padre Pedro Manuel com a Casa da Primeira Infância.
De 1 a 4 de maio decorrerá, na igreja de São Francisco e sempre pelas 21h, o tríduo de preparação para a Festa Grande, que este ano terá como tema “Maria, Mãe Missionária” e como pregador o louletano e bispo emérito do Funchal, D. António Carrilho, que é também membro da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização.
Destaque para o primeiro dia (1 de maio) com uma cantata mariana interpretada por Teresa Salgueiro. O dia 2 será particularmente destinado aos agentes dos serviços de pastoral das paróquias louletanas, homens do andor, agentes políticos, bombeiros e militares da GNR; no dia 3 às famílias e no dia 4 aos jovens. Neste dia, pelas 21h, o Clube Hípico de Loulé homenageia Nossa Senhora da Piedade, no tradicional desfile a cavalo.
O momento alto de encerramento das festividades acontece então no dia 5 de maio, com a chamada Festa Grande. Nesse dia será celebrada então missa na igreja de São Francisco, seguindo-se a procissão para o largo do Monumento Engenheiro Duarte Pacheco.
Pelas 13 horas será ali realizada uma celebração mariana, seguida de um tempo de louvor e saudação à padroeira de Loulé, e, às 16h, será então celebrada a eucaristia solene, como acontece anualmente, presidida pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, seguindo-se a procissão de regresso ao santuário mariano.
As festividades de Nossa Senhora da Piedade constituem uma tradição com provável origem em 1553, data oficial da edificação da capela que lhe é dedicada.