O jornal Folha do Domingo, órgão de informação da Diocese do Algarve e o mais antigo em publicação na região, completa amanhã, 19 de julho, 110 anos de existência.

Foi a 19 de julho de 1914, sob o impulso do então cónego Marcelino António Maria Franco – que mais tarde viria a ser bispo do Algarve – que nascia o jornal da diocese algarvia com o apoio do bispo diocesano da altura, D. António Barbosa Leão.

Folha do Domingo nascia assim na sequência da edição, entre 1910 e 1914, de um Boletim do Algarve que, no contexto efervescente da Primeira República, denunciou o ambiente sobre o clero. Segundo o sacerdote e historiador, cónego Joaquim José Nunes, o Boletim do Algarve “foi nos anos de 1911 e 1912 o arauto e a voz de um clero ameaçado”.

“É neste ambiente que, a 19 de julho de 1914, sai o primeiro número de Folha do Domingo. Na primeira página, para além do título, evidencia-se a seguinte indicação: «Com licença da autoridade eclesiástica». Não é a lei do Estado, relativamente à Igreja, que permite este inciso. É um ordenamento que tinha a ver com a liberdade”, explicou em 2014 o investigador na intervenção que teve na sessão de comemoração do centenário do jornal.

Durante grande parte da sua existência, o jornal constituiu uma das principais memórias daquilo que foi acontecendo no Algarve (e não só) e, simultaneamente, uma das essenciais vozes na defesa dos interesses da região. Acontecimentos como a bênção e inauguração do Aeroporto de Faro em 1965 ou a criação da Universidade do Algarve em 1979 foram alguns dos que o jornal acompanhou.

Nestes anos de vida tem procurado entender a sociedade e a realidade na qual se insere a Igreja local à luz dos valores cristãos, acompanhando a vida da diocese algarvia. Nesse contexto, o acompanhamento em 1928 e 1929, das duas primeiras peregrinações diocesanas algarvias a Fátima (sendo que a de 1929 constituiu mesmo a primeira realizada a nível nacional com bispo àquele santuário), bem como o acompanhamento da participação do então bispo diocesano, D. Francisco Rendeiro, no Concílio Vaticano II (1962-1965) ou, o ano passado, da participação algarvia na primeira Jornada Mundial da Juventude realizada em Portugal, constituíram também algumas das ocorrências que o jornal se orgulha de ter acompanhado para informar os seus leitores.

Entre os momentos particularmente significativos contam-se ainda a homenagem pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa no dia 25 de abril de 2017 no Palácio de Belém, em Lisboa, com os demais jornais centenários nacionais e a exposição em julho daquele ano no Parlamento Europeu, em Bruxelas, para dar a conhecer os títulos da imprensa centenária portuguesa, mostra que em 2018 esteve também patente na Assembleia da República.

Ao longo deste centenário trajeto, Folha do Domingo teve de enfrentar tempos de mudança, incerteza e dificuldade de ordem social, política, económica, tecnológica e comunicacional. Com redação em Faro, iniciada na rua Tenente Valadim e associada à Tipografia União (nascida em 1909 para a impressão do Boletim do Algarve), continuou na rua do Município com aquela gráfica extinta no início de 2013, e, mais recentemente, prolongou-se ao edifício do Seminário de São José.

Em 110 anos teve a confiança, o acompanhamento e o impulso de oito bispos do Algarve. Para além dos já referidos D. António Barbosa Leão (1907-1919), D. Marcelino Franco (1920-1955) e D. Francisco Rendeiro (1955-1965), seguiram-se D. Júlio Tavares Rebimbas (1965-1972), D. Florentino Andrade e Silva (1972-1977), D. Ernesto Gonçalves Costa (1977-1988), D. Manuel Madureira Dias (1988-2004) e, desde 2004, D. Manuel Neto Quintas.

O jornal teve desde o início (e sem contar com o atual) sete diretores: D. Marcelino Franco (1914-1920), cónego José dos Ramos Bentes (1920-1944), monsenhor Manuel Francisco Pardal (1944-1945), cónego Carlos Patrício (1945-1990), cónego Clementino Pinto (1990-1996), cónego Joaquim José Nunes (1996- 2000) e diácono Joaquim Mendes Marques (2000-2006).

Amanhã, o aniversário será assinalado na Eucaristia da solenidade do 81º aniversário da dedicação da Sé de Faro, a igreja-mãe da diocese algarvia, presidida ali pelas 19h por D. Manuel Quintas. A celebração incluirá ainda a oração pelos responsáveis, administradores, trabalhadores, colaboradores e assinantes falecidos do jornal.