A Igreja do Algarve celebrou na passada terça-feira uma Eucaristia de ação de graças “por todo o bem” que recebeu de dois institutos religiosos femininos que a serviram ao longo dos últimos 46 anos e que agora vão encerrar a sua presença na diocese.

Na celebração a que presidiu na Sé de Faro, o bispo do Algarve referiu-se aos “muitos anos de serviço”, de “doação” e de “testemunho missionário” das Carmelitas Missionárias e das Franciscanas Missionárias de Maria “em diferentes âmbitos”. “Queremos louvar o Senhor, agradecidos por este serviço, por este dom de todas as irmãs destes dois institutos que por aqui passaram, beneficiando a nossa Igreja diocesana”, afirmou D. Manuel Quintas.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O bispo diocesano tornou público o conteúdo da carta que a provincial das Carmelitas Missionárias lhe enviou e explicou porquê. “Porque, às vezes, perguntamos por que é que os institutos fecham comunidades, deixam as dioceses e não percebemos muito bem. A leitura da carta que me escreveu pode ajudar-nos a perceber a razão e, sobretudo, a despertar em nós ainda mais a oração pelas vocações de consagração”, justificou.

“Dentro do processo de reestruturação provincial, em que procuramos melhorar a qualidade de vida das comunidades e potenciar a missão evangelizadora, constatámos a necessidade de fechar a comunidade que a congregação tem localizada na sua diocese”, escreveu a irmã Cecilia Andrés Fernández, lembrando que “durante estes anos trabalhou-se na pastoral paroquial e social e alguns anos na educativa, trabalhando na residência universitária” que tiveram na sua residência. “Hoje assumimos a nossa fragilidade e a impossibilidade de reforçar a comunidade de Faro. Não queremos abandonar Portugal, pelo que manteremos uma presença na Diocese de Beja”, prosseguiu D. Manuel Quintas, citando a responsável das Carmelitas Missionárias.

O bispo do Algarve acrescentou que “é sempre com o coração muito apertado que um instituto decide fechar comunidades, sair de dioceses”. “Dói sempre muito, particularmente àquelas irmãs com as quais se termina a presença e o serviço numa diocese. Mas a razão é sempre pela impossibilidade que os institutos têm de reforçar o número, rejuvenescer a comunidade com novas irmãs”, destacou.

D. Manuel Quintas disse ter pedido às Franciscanas Missionárias de Maria que ainda restam em Porches que participassem naquela celebração porque quis associar também aquele instituto que, a partir de setembro, deixará também o Algarve.

Contabilizando os institutos que saíram da diocese e as comunidades que encerraram desde o ano 2000, o bispo do Algarve constatou que “fecharam muitas comunidades e saíram muitos institutos”. “Isto deve levar a interrogar-nos sobre como fazer, como procurar despertar hoje o sentido da vocação de consagração e da doação da própria vida ao serviço de Cristo, dos irmãos e do empenho total pelo reino”, considerou.

O bispo diocesano lembrou que a Igreja algarvia fica privada não só do serviço e do trabalho, mas também do testemunho das consagradas. “Isso pode causar algum desânimo, mas, se estamos na mesma barca de Cristo – e estamos seguramente –, não podemos soçobrar, ter medo, viver angustiados, sem futuro, sem esperança porque a fonte da esperança é a pessoa de Jesus. A certeza que nos vem da sua presença deve ser para nós uma espécie de mola que nos catapulta sempre para além daquilo que podem ser dificuldades, imprevistos, quando não temos resposta para tantas situações”, acrescentou, aconselhando a “fazer a experiência do grão de trigo” que tem de “morrer, dar-se, partilhar a vida de Jesus para poder frutificar noutros lados, de outra maneira, de outro modo que só Deus sabe”.

“Confiados na presença de Cristo e que estamos seguros porque vamos com Ele nesta mesma barca nada devemos temer”, concluiu.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

No final da Missa, que teve uma forte participação dos institutos religiosos femininos presentes na diocese, uma das fundadoras da comunidade algarvia das Carmelitas Missionárias afirmou que a sua presença “foi tempo para semear a Palavra, para conduzir muitos até Jesus, para entusiasmar muitos outros na construção do reino, nos diferentes âmbitos” em que realizaram a sua missão: “no social, no educativo, na saúde, na pastoral paroquial e diocesana”. “Tudo isto vivido na missão partilhada com os leigos, sacerdotes e outros consagrados da diocese. Quisemos que a nossa comunidade fosse lugar de amizade, repouso, oração para quantos dela se aproximaram”, acrescentou a irmã Glória Pinto.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A coordenadora do Secretariado Regional da CIRP – Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal, a irmã Isabel Duque, da comunidade de Paderne das Dominicanas de Santa Catarina de Sena, deixou ainda um agradecimento às religiosas e respetivos institutos que agora deixarão a diocese.

Dois institutos religiosos femininos deixam o Algarve após 46 anos de serviço