O III Encontro Diocesano das Cáritas Paroquiais do Algarve evidenciou que a pandemia veio criar dificuldades acrescidas e novos pedidos de apoio.
Na iniciativa que decorreu no Centro Paroquial de Loulé com a participação da Cáritas Diocesana, organizadora da mesma, e das Cáritas Paroquiais de Boliqueime, Lagoa, Loulé e São Brás de Alportel, estas testemunharam que a pandemia “agravou bastante” os pedidos de apoio e explicaram que sentiram também uma diminuição no número de alimentos doados.
“A procura dos nossos serviços agravou-se imenso. De abril a junho de 2020 houve um aumento de 63% de pessoas a recorrer aos nossos serviços, a tal classe média, pessoas que nunca se tinham visto numa situação de ter de pedir apoio”, explicou a técnica de ação social da Cáritas Diocesana, sustentando que os novos pedidos de ajuda se deveram a quebras nos rendimentos dos trabalhadores.

Ana Sofia Pereira considerou que “o desafio foi, perante uma procura tão grande, conseguir dar resposta”. “Felizmente no verão de 2020 houve um apaziguar das coisas com a retoma do turismo”, acrescentou, referindo-se ao aumento do turismo interno protagonizado por portugueses que normalmente passavam as férias no estrangeiro.
No entanto, aquela técnica explicou que no final de 2020 o número de apoios voltou a aumentar e “em 2021 também não foi muito melhor”. “Agora que as coisas, desde dezembro de 2021, estavam a recuperar, levamos com uma guerra e o enorme número de refugiados e com a inflação, que ainda não se está a fazer sentir no aumento dos pedidos de apoio, mas que deve estar para breve”, lamentou.
Ana Sofia Pereira disse ainda que o impacto da pandemia só não foi maior porque os donativos também aumentaram. “Ao mesmo tempo que tivemos muita procura de pessoas novas, também tivemos um aumento de pessoas a querer ajudar em apoios alimentares e monetários. Foi muito graças a essa solidariedade de todos que se conseguiu dar uma resposta minimamente adequada”, garantiu.
A técnica de ação social explicou que o apoio prestado pela instituição inclui o atendimento social e a distribuição de alimentos e roupas, mas também resposta a “uma grande procura de apoios pontuais” para pagamento de despesas de eletricidade, gás, rendas de casa, medicação, consultas médicas ou propinas. Ana Sofia Pereira lamentou que a sede da Cáritas Diocesana não permita à instituição “crescer em termos de respostas sociais”, opinião que foi secundada pelo presidente.
Carlos Oliveira lembrou ainda que “se as comunidades paroquiais não tiverem capacidade de resposta” devem remeter os pedidos da ajuda para a Cáritas diocesana porque esta “dará essa resposta”. Aquele responsável garantiu que, não obstante as necessidades de bens alimentares estarem a aumentar, o Banco Alimentar [Contra a Fome do Algarve] continua a fornecer a mesma quantidade de produtos e que mesmo em peditórios de alimentos à porta do supermercado “as pessoas dão um décimo daquilo que davam”.
Por outro lado, o presidente da Cáritas algarvia assegurou que um cabaz de bens essenciais encareceu mais 22 euros desde o início da guerra na Ucrânia a 24 de fevereiro deste ano.

Aquele dirigente sugeriu, por isso, que fosse criado mensalmente nas paróquias o ‘Dia da Caridade’ para angariação de alimentos e que o peditório dominical naquele fim de semana reverta para a instituição.
A Cáritas Paroquial de Lagoa, a mais recente de todas aquelas instituições algarvias, começou em setembro de 2021 com 25 famílias apoiadas e neste momento já ajuda mais de 90 em todo o concelho com agregados que variam entre os oito e os dois elementos. A ajuda é prestada ao nível alimentar e de vestuário, mas, por vezes, chegam também pedidos para pagamento de contas do gás, eletricidade e rendas de casa. “Estamos a gastar perto de 2.000 euros por mês”, contabilizaram os responsáveis, acrescentando que os donativos dos paroquianos são poucos, mas a Câmara de Lagoa ajuda com subsídio, cedeu um edifício para sede e uma carrinha para o transporte.
No caso da Cáritas de Loulé, a sua ação resume-se praticamente ao fornecimento de alimentos, uma vez que a Câmara Municipal “praticamente apoia em tudo o resto”. “Estamos a trabalhar com a irmã Alcinda para providenciar a visita a idosos em situação de solidão”, adiantaram os representantes.
A Cáritas de São Brás de Alportel não trabalha com o Banco Alimentar e garante que até agora não tem tido necessidade. A instituição adquiriu uma carrinha no valor de 16.000 euros, tendo sido comparticipada em 5.000 euros pelo Rotary Clube de Estoi, em 4.000 pela Câmara Municipal e ainda por um empresário local. O responsável da Cáritas são-brasense adiantou ainda que a autarquia contribuirá com um subsídio de 400 euros mensais que servirá para aquisição de um armazém próprio.
A Cáritas de Boliqueime também fornece alimentos e roupa que recebem só da paróquia por via dos pedidos que fazem na igreja.
Para além da dificuldade em conseguirem instalações que possam acolher o seu trabalho, as Cáritas Paroquiais manifestaram ainda haver muita resistência ao recrutamento de voluntários. No encontro explicou-se que os que estão em vida ativa laboral não têm tempo e os que já estão aposentados sentem-se cansados. Das presentes, apenas a de Boliqueime disse ter cinco membros do 12º ano de catequese a colaborar.
O III Encontro Diocesano das Cáritas Paroquiais do Algarve contou ainda, de manhã, com uma reflexão do cónego Carlos de Aquino, assistente da Cáritas Diocesana, a partir das exortações apostólicas e encíclicas “mais significativas” do Papa Francisco sobre como “Aprender a caridade com Maria” e, de tarde, com uma discussão sobre a importância do trabalho em rede.
Estes encontros, que começaram a ser promovidos em 2017 e prosseguiram com a última edição em 2019, voltaram agora a ser realizados após dois anos de interregno devido à pandemia.