Entre os dias 28 de julho e 4 de agosto de 2025, vivi uma experiência única como catequista da Paróquia de Monte Gordo: acompanhar nove jovens e dois adultos ao Jubileu da Juventude, em Roma. Do Algarve, partimos 356 peregrinos e, de Portugal, mais de 11 mil, todos rumo a este encontro mundial, desafiados pelo Papa Francisco durante as Jornadas Mundiais da Juventude de 2023, em Lisboa.
Hoje, passado uma semana da chegada a Portugal, partilho o que por lá vivi. Roma é uma cidade fantástica, rica em património, história e espiritualidade. Mas, confesso, deixa muito a desejar em termos de organização e logística. No nosso caso, fomos alojados na Fiera di Roma, onde nove pavilhões abrigavam cerca de 2.700 pessoas cada. Ficámos acomodados em sacos-cama, espalhados pelo pavilhão, cabeça com cabeça, todos muito juntos. Outros grupos ficaram espalhados por escolas e diferentes pavilhões na cidade. Como diz o velho ditado: “tudo ao molho e fé em Deus”. Banhos e idas à casa de banho eram verdadeiras aventuras: quatro filas de dez cabines de duche ao ar livre, com água fria, para cada pavilhão, e apenas dez casas de banho para as necessidades básicas. Às 5 da manhã acendiam as luzes, dando início às correrias e filas para as casas de banho. Dava um excelente título para um filme: Salve-se Quem Puder.
Mas nada disso tirou o brilho dos momentos vividos. A visita ao Coliseu, às Portas Santas, ao túmulo de São Pedro e ao Vaticano foi esplendorosa. A mítica Fonte de Trevi encantou-nos. A Igreja de Santo Inácio foi um ponto alto para os jovens de Monte Gordo. Junto ao altar de Nossa Senhora das Graças, reservámos um momento para pedidos e agradecimentos, vivido com profunda emoção. Para os nossos jovens, este foi o ponto mais marcante do Jubileu. Ali, oram, pediram e agradeceram e, também choraram.
Foram oito dias de partilha, diversão, convívio e gratidão. No segundo dia, a abertura do Jubileu, na Praça de São Pedro, com o Papa Francisco, encheu-nos o coração. A praça, apesar da sua imponência, foi pequena para acolher tantos jovens de todo o mundo. Já nos dois últimos dias, vivemos momentos intensos: a Vigília de sábado à noite e a Eucaristia de domingo de manhã, no enorme espaço de Tor Vergata, O Papa percorreu, no papamóvel, todos os setores onde os jovens se preparavam para pernoitar. Foi um mar de cor, alegria, fé e oração. Chegar a Tor Vergata a pé e partir no dia seguinte, foi um desafio: 8,5 km sob o calor intenso que se fazia sentir, mas cada passo valeu a pena para vivermos aquela experiência única.
Em Roma, encontrou-se o mundo: bandeiras de todos os países esvoaçavam ao vento, hinos nacionais ecoavam pelas ruas e até no metro. É verdade que os italianos não são os melhores anfitriões, é verdade que o alojamento não foi o melhor, mas os jovens regressam maravilhados com a beleza deste país e com a experiência de união que só um encontro desta dimensão consegue criar. Voltamos de coração cheio, com a certeza de que a fé é capaz de mover multidões e transformar vidas.
Terminar esta viagem deixa-me o coração dividido: cheio de alegria e gratidão por tudo o que vivi, mas também com um sabor amargo. Entristece-me profundamente que o meu país, Portugal , que tantas vezes transforma em notícia o que pouco acrescenta, tenha ignorado este acontecimento de escala mundial, que reuniu milhares de jovens, vindos dos quatro cantos do planeta, para celebrar a fé e a esperança.
Foram dias que mostraram que a juventude é viva, é capaz de se mobilizar, de sonhar e de acreditar. Foram dias que provaram que estes jovens são o futuro da Igreja, o futuro de Portugal e o futuro do mundo. Mereciam que a sua voz e o seu exemplo tivessem ecoado também na comunicação social, inspirando tantos outros a seguir este caminho de amor, partilha e compromisso. Porque encontros como este não são apenas memórias: são sementes lançadas ao coração do mundo.
“Entre a eterna beleza de Roma e a dureza da logística, milhares de jovens mostraram que a fé e a esperança continuam a mover o mundo.”