“Em vez de as pessoas irem atrás da Nossa Senhora, é ela que vai ao encontro das pessoas e vai abençoar a cidade”, explicou o cónego Carlos César Chantre ao Folha do Domingo, procurando evidenciar a diferença em ano de pandemia sobre o que se passou ontem à noite na cidade de Faro e arredores, relativamente aos anos anteriores em que sempre se realizou a procissão de Nossa Senhora de Fátima pelas ruas das paróquias da capital algarvia.

Ontem à noite, à paróquia de São Pedro, juntaram-se as restantes comunidades paroquiais da cidade – Sé e São Luís – e também a do Montenegro para levar a imagem de Nossa Senhora pelas principais ruas da cidade, do Montenegro, do Patacão e de Mar e Guerra.
Numa organização da comunidade de São Paulo do Patacão, pertencente à paróquia de São Pedro, a iniciativa foi acolhida por alguns milhares de pessoas que assistiram às janelas das suas casas ou saíram à rua para ver passar o camião com a imagem da Virgem de Fátima.
Ao longo do trajeto, percorrido em cerca de três horas e meia, muitas pessoas acenderam velas, acenaram com lenços brancos às janelas ou na rua e bateram palmas emocionadas à passagem do cortejo.

O pároco de São Pedro de Faro e do Montenegro considera que a experiência “foi extraordinária”. “A emoção à janela e nas ruas foi algo de que eu próprio não estava à espera”, confessou o cónego César Chantre, garantindo que “não esperava ter tanta gente a participar”. “É uma grande aprendizagem porque as procissões têm que acompanhar a evolução dos tempos e hoje, ao observar a reação das pessoas, leva-me a pensar que temos de refletir se nos próximos anos não teremos de fazer uma coisa parecida”, considerou, explicando que não se trata de “pôr em causa a procissão clássica”, mas complementá-la com este modelo.

“A própria Igreja, de certeza, já está a refletir sobre estas novas experiências”, sustentou. “O inesperado, provavelmente, fez com que o Espírito Santo nos despertasse mais”, sutentou.
“Esta petição da intervenção de Nossa Senhora junto de Deus para que consigamos ultrapassar esta tempestade pandémica foi algo em uníssono e estou convencido que depois desta tempestade vamos olhar para a vida de outra maneira”, acrescentou.

Já na breve celebração que precedeu a procissão pelas ruas, o sacerdote se referiu àquela como “uma noite de silêncio” para pedir à “Mãe do céu” que interceda por todos. “Muitas coisas estão a acontecer no mundo e muitas dessas coisas são sinais do mistério. Nossa Senhora vem ajudar-nos a compreender que depois desta tempestade vamos ter de ser melhores. Nunca foi tão importante estarmos unidos a falar com a nossa Mãe do céu”, afirmou, explicando que a petição era “pelo Algarve, por Portugal e pelo planeta Terra e pela humanidade”.
O sacerdote destacou o facto de a iniciativa não ser “desta paróquia ou daquela”, mas “da Igreja na cidade de Faro”, garantindo que o padre Rui Barros, pároco da Sé e de São Luís, também esteve a acompanhar a procissão e realçou o repique dos sinos das igrejas paroquiais à passagem do cortejo. A comunhão foi extensiva a Fátima por ter procurado estar em sintonia com as celebrações a decorrer no santuário.

A procissão da imagem de Nossa Senhora de Fátima pelas ruas não aconteceu ontem apenas em Faro, mas realizou-se também nas paróquias de Monchique, Alferce e Marmelete, Boliqueime, Ferreiras e Paderne, Quarteira e Olhão e hoje também na de Monte Gordo.
O nosso reconhecido agradecimento a Eloi Germano, condutor da moto, que nos permitiu acompanhar a procissão e a sua transmissão em direto na internet.