
O padre geral da Ordem dos Carmelitas Descalços tinha pedido que se realizasse no passado sábado, em todos os conventos, mosteiros e fraternidades carmelitas, uma hora de oração mundial pela paz como forma de celebrar os quinhentos anos do nascimento da sua fundadora, Santa Teresa de Jesus, e o Algarve respondeu positivamente.
Cerca de 40 pessoas juntaram-se naquele dia à comunidade algarvia das Carmelitas Descalças no Carmelo do Patacão, concelho de Faro, para pedir a Deus o dom da paz diante do “mundo dilacerado e dos gritos de dor provocados pelos horrores da guerra, do terrorismo e de tantos tipos de violência e de violação dos direitos humanos”.

O convite do padre Saverio Cannistrà para a iniciativa que foi encetada às 6h (GMT) pelo Papa Francisco que a ela se quis associar, exortava toda a família carmelita a “não descartar a solução destes problemas para os responsáveis das nações”.
“O mundo está a arder! É este o grito, cheio de dor, que Teresa lança ao contemplar os conflitos, as guerras e as divisões da sociedade e da Igreja do seu tempo. Também hoje lançamos este nosso grito e apresentamo-lo a Jesus em forma de súplica: Senhor, o mundo está a arder!”, afirmava-se na oração que teve em conta a atual situação de lugares como a Síria, o Iraque, o Egipto, a Terra Santa, a Nigéria, a República Central Africana, o Sudão, o Paquistão, a Índia, o México, a Venezuela, a Ucrânia e a Tunísia.

No Carmelo algarvio, o seu capelão lembrou, sobretudo, a atual situação da Síria, “berço da civilização”, através da intervenção do arcebispo D. Silvano Tomasi, observador permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas, que este mês alertou no Conselho dos Direitos Humanos da ONU em Genebra para os crimes que estão a ser perpetrados no Médio Oriente.
O padre Luís Gonzaga Nunes, que presidiu à oração, citou que “desde o início da crise mais de 10 milhões de sírios fugiram dos seus lares, isto é, quase metade da população do país está em fuga”. “Diversas fontes garantem e têm provas de como as crianças sofrem as consequências terríveis do flagelo que é estar em estado de guerra permanente. São recrutados crianças-soldado para combater. Às vezes servem-se delas como escudos humanos nos ataques. O chamado grupo do Estado Islâmico (ISIS) usa-os como terroristas suicidas, matando as que pertencem a diferentes comunidades religiosas e étnicas. Vende-nos como escravos e cometem outras atrocidades”, afirmou.

Lembrando que “as crianças representam cerca de metade da população dos campos de refugiados do Médio Oriente”, explicou que “há imensas crianças apátridas, isto é, sem registo de nascimento”. “Só no Líbano há mais de 30 mil. Os meninos apátridas encontram-se completamente abandonados. Não têm acesso aos serviços básicos de saúde, medicação, não podem ir à escola, não podem ser adotados legalmente, mas podem sê-lo ilegalmente. São recrutados por grupos armados, explorados e forçados a redes de prostituição”, acrescentou, lamentando que “cerca de 5 mil escolas” tenham sido destruídas na Síria e que, por isso, “mais de meio milhão de estudantes já não tem lugar onde aprender”.
Com base no testemunho de D. Tomasi, o padre Luís Gonzaga aludiu ainda à grave situação da “separação dos vários membros da família, o que obriga muitas crianças a viver entregues a si próprias”.

Na oração pediu-se ainda pela erradicação das “sementes do egoísmo e do orgulho”, das “ânsias de poder, da posse das coisas e das pessoas para proveito próprio”. “Queremos jejuar de tudo o que é menos bem, da nossa tendência para o egoísmo, do mal que levamos dentro de nós”, afirmou-se, lamentando-se a “quanta fome devido às guerras e quantas guerras devido ao desejo de poder e possuir os recursos valiosos nos mercados especulativos, bens que foram dados por Deus para o bem de todos os povos!”.
Perante este contexto rezou-se pela conversão dos que promovem o ódio e a violência. “Perturbem-se os corações dos que fomentam as guerras em nome de Deus e dos que pegam nas armas! Perturbem-se e convertam-se! Perturbem-se os corações dos que fomentam as guerras em nome do deus dinheiro, do deus poder. Perturbem-se e convertam-se! Perturbem-se os corações dos que ficam indiferentes à dor provocada pelas violências brutais nos nossos tempos contra a vida humana e contra as nações! Perturbem-se e convertam-se! Perturbem-se os corações dos que têm poder de influência e de decisão no governo das nações e das instituições internacionais! Perturbem-se e convertam-se!”, pediu-se.

A oração incluiu ainda uma petição pelos que sofrem. “Não se perturbem os corações atribulados e submetidos aos horrores da guerra! Rezemos para que todos os nossos irmãos, perseguidos por causa da sua religião, se mantenham firmes e não cedam à tortura física e psicológica dos ditadores das consciências! Não se perturbem os corações dos pais e filhos, dos irmãos, dos amigos de quantos sofrem a violação da sua dignidade de seres humanos e dos que morrem mártires porque renunciam a responder à guerra com guerra”, rogou-se.
A oração terminou com a súplica a Deus “para que aumentem as oportunidades de diálogo e encontro entre os homens”. “Que aprendamos a pedir perdão para que a paz brote no mundo como fruto de reconciliação que Ele nos veio trazer”, orou-se.