
A perceção da importância e influência que cada pessoa que se cruza connosco tem na nossa vida não é instantânea, nem imediata. Antes é – e muito – o resultado da reflexão que fazemos. Está sujeita a avaliações de acordo com a idade, estado de espírito, momento psicológico, contexto social, enfim, essa perceção está sujeita a uma panóplia variável e instável de fatores que influenciam diretamente ou indiretamente os dois indivíduos que se cruzam num dado momento. E em muitas circunstâncias, apenas a maturidade nos consegue dar a real dimensão do peso – positivo ou negativo – que essa pessoa teve nas nossas existências.
Não vos vou dar uma aula de filosofia ou psicologia. Quero apenas utilizar este espaço de opinião para vos falar do antigo diretor deste jornal, Pe. Joaquim Nunes, que recentemente celebrou os 25 anos de sacerdócio.
Quando conheci o Pe. Joaquim (tinha eu 13 ou 14 anos), não tinha a capacidade para pensar na possível influência que ele poderia vir a ter na minha vida. Quando foi administrador paroquial de Quelfes e nos cruzávamos semanalmente à volta da mesa eucarística, encantou-me a forma como celebrava a eucaristia e vivia o ministério sacerdotal. Quando vivemos juntos na comunidade do seminário de Faro, inquietava-me a sua exigência interior e o rigor comportamental que nos impunha, não como uma imposição vazia, mas uma imposição sempre iluminada pelo seu exemplo interior e exterior. Num ambiente como o do seminário, potencialmente individualista, onde facilmente se pode cair no “eu” esquecendo o “nós”, o Pe. Joaquim não se cansava de nos conduzir para um sentido comunitário na vivência do dia-a-dia. A um pedido individual ou de um pequeno grupo, com a astúcia reconhecida por todos, questionava sempre sobre que “eu” se escondia por detrás de um “nós”.
Seguramente, se não tivesse conhecido e vivido com o Pe. Joaquim, não só a minha vida seria diferente, como eu seria uma pessoa diferente. Não só não estaria a escrever estas linhas quinzenalmente, como não seria um padre da Diocese do Algarve, como não teria alguns conhecimentos gerais que detenho, como também não possuiria algumas das qualidades intelectuais, humanas, sociais e pastorais que os outros me reconhecem. Poderão pensar: como pode uma simples pessoa ter tanta influência noutra? Pode. Quando Deus nos fala permanentemente através dessa pessoa. Obrigado, Pe. Joaquim, por tudo o que me ensinou, por tudo o que partilhou comigo, mas sobretudo por ter deixado que Deus se me revelasse através de si.