A Universidade do Algarve (UALg) tem funcionários a passar dificuldades e presume-se que até fome, denunciou na terça-feira o novo reitor daquela academia, que ontem tomou posse, assumindo que pretende criar um fundo e instrumentos de apoio para momentos de aflição.
“Já temos funcionários com níveis de pobreza. Já temos funcionários que, provavelmente, ultrapassaram o limiar da pobreza (…). Estou preocupado com aqueles que já não trazem marmita e já temos, provavelmente, casos desses na instituição”, declarou à Lusa António Branco, presumindo que haja funcionários a passar fome, porque recebem 500 e 600 euros por mês.
Um dos desejos do novo reitor é encontrar, em conjunto com a instituição, fundos ou instrumentos semelhantes, que possam discretamente apoiar funcionários que estejam em grande aflição neste momento.
“Gostaria de ter um fundo, ou instrumentos de apoio – há muitas maneiras de apoiar as pessoas, não é só o dinheiro – gostaria que nós estivéssemos muito atentos a isso, nos serviços, nas unidades orgânicas (…), identificarmos, discretamente, casos em que nos pareça evidente que alguma coisa de anómala está a acontecer e tentar encontrar instrumentos de apoio a essas situações. Mesmo que não sejam financeiros”, assumiu.
A UALg tem cerca de mil pessoas a trabalhar na instituição, designadamente cerca de 600 docentes e perto de 400 funcionários não docentes.
Em entrevista à Lusa, no âmbito da tomada de posse, o novo reitor da UALg assume que “não tem medo de nada” quando se lhe pergunta se teme ficar cada ano letivo que passa com menos alunos, pois segundo o último relatório de contas, este ano letivo entraram na instituição menos cerca de 400 estudantes.
“Eu não tenho medo de nada. Não tenho mesmo. Acho que o medo é uma coisa que bloqueia, que nos retira a capacidade de criar, é uma coisa que nos retira a energia, tira-nos a força e, portanto eu não tenho medo. Eu estou aqui para trabalhar”, assevera, estimando que, no próximo ano letivo, a UALg vai ter condições para aumentar ligeiramente o número de estudantes.
Questionado pela Lusa sobre se está incomodado ou aborrecido com os cortes anunciados para o ensino superior em Portugal, no próximo Orçamento do Estado, António Branco diz que a situação já nem sequer se pode classificar de “dramática” e diz que, o que se tem vivido, ultrapassou “tudo o que é razoável, tudo o que um académico imaginou” e que “já não há zonas de desperdício”. “Já estamos a trabalhar no osso”.
Natural de Angola e doutorado em Literatura Portuguesa Medieval pela UAlg, em 1999, o novo reitor, que leciona na UALg há 22 anos, foi eleito com “maioria absoluta” a 27 de novembro.
António Branco sucedeu a João Guerreiro, reitor cessante, ficando incumbido, entre outras competências, de aprovar a criação, suspensão e extinção de cursos, atribuir apoios aos estudantes no quadro da ação social escolar, aprovar a concessão de títulos ou distinções honoríficas e instituir prémios escolares.